Bati na porta da casa ao lado da grande igreja.
Demorou muito para que eu conseguisse que Camila me dissesse qual era a igreja que abrigava ela e Miguel, precisei, inclusive, apelar para uma chantagem que me assustou muito com o resultado.
O desespero estampado no rosto da mulher fez com que meu coração ficasse cada vez menor em meu peito, por um momento ela realmente acreditou que eu não iria permitir que ela visse o filho naquele dia.
Me senti como um monstro.
O desespero que causei nela me fez sentir a pior pessoa da face da Terra. O pior homem.
Ergui meus olhos em direção à mulher que atendeu a porta.
Estatura mediana, olhos penetrantes e cabelo preso em um coque.
– Em que posso ajudar? - limpou a mão já barra da saia levemente rodada enquanto me encarava.
– Eu precisava falar com a dona Margaret.
– Sou eu mesma, aconteceu alguma coisa? - franziu o cenho levemente nervosa lançando um olhar para dentro da casa.
– Camila...
Meu murmúrio causou surpresa nela, sua boca se abriu e seus olhos se arregalaram.
– Você tem notícias da menina? Estou preocupada com ela há dois dias não temos notícias.
Os dois dias em que ela esteve no hospital e não voltou para casa...
– Vim buscar as coisas dela, dona Margatet. Camila pediu que eu agradecesse a senhora pela hospitalidade.
– Pode ser um pouco mais claro? Não estou conseguindo acompanhar.
– Querida, quem é?
O homem alto que surgiu atrás dela veio em minha direção com um olhar terno que escondia, muito bem por sinal, sua desconfiança.
– Bom dia, senhor. Eu vim buscar as coisas de Camila e Miguel.
– E você é... - gesticulou assumindo o lugar da esposa que andou um passo para trás assim que ele se aproximou mais.
– Ele tem notícias da Camila, meu bem, isso não é ótimo? - ela soou animada mas o homem passou a me olhar com dobrada desconfiança.
– Sou Shawn, Camila trabalha para mim e aconteceu um acidente alguns dias atrás, preciso pegar as coisas dela...
– Um acidente. - sibilou o homem. – Que tipo de acidente fez com que ela sumisse por dois dias?
– Camila está no hospital agora. Vocês não precisam se preocupar, ela terá alta assim que eu conseguir os documentos que preciso para que sua ficha fique completa... se vocês puderem me entregar as coisas dela e do bebê agora, tanto eu quanto ela ficaremos muito agradecidos de poder sair daquele hospital chato ainda hoje.
– Ouça, Shawn. - andou em minha direção fazendo com que eu recuasse sem perceber. – Eu demorei um bom tempo para conseguir que aquela doce menina parasse de sentir medo de mim por seja lá o que ela tenha sofrido nessa vida, ela nunca nos disse nada, portanto, eu preciso que você me diga exatamente o que aconteceu com a garota.
Para um pastor ele me pareceu mais assustador do que deveria. Me senti, levemente coagido.
– Pois bem, Camila está anêmica mas já está sendo medicada. O que a levou para o hospital foi um sangramento repentino.
– Sangramento? - a mulher atravessou o marido. Preocupada.
– Sim. - ponderei se deveria mesmo dar a próxima informação. – Por acaso vocês sabiam que ela estava grávida?
