Traçar um plano de defesa não é tão difícil quando se sabe da história toda com detalhes e precisão. Deduzir pontos de uma história também não é algo tão complexo quanto parece. Isso é, quando se sabe o início da história e se conhece minimamente bem quem está envolvido nela passa a ser bem fácil, na verdade.
Trabalho com mentiras desde que me entendo por gente. Sou um bom mentiroso, inclusive, preciso ser um bom mentiroso.
Qual é, quem encara um juiz sabendo que está errado se não está disposto a mentir ou a, pelo menos, distorcer a verdade?
Isso pode me fazer alguém péssimo, ou apenas um bom profissional mas essa não é a questão do dia. A questão é que eu sei quando mentem pra mim.
Camila está mentindo pra mim e ela mente tão mal que, por um momento, pensei que eu tinha cinco anos outras vez.
Uma criança me enganaria com mais facilidade.
– Camila. - interrompi sua fala repetitiva sobre sua vida não ter nada de interessante ou relevante para que eu saiba. – Eu sei que você se sentiria muito mais confortável tendo essa conversa com a minha mãe e, acredite, eu realmente não queria estar te fazendo essas perguntas mas... - inspirei de maneira pesarosa. – Entenda, minha mãe não poderia ficar aqui pra sempre... ela tem uma casa, um marido e uma vida, não que eu ache que vai demorar para que ela apareça por aqui de novo. - sussurrei a última parte mais para mim do que para a mulher à minha frente.
Mamãe foi embora há dois dias depois de muita insistência minha e do meu pai, ele não consegue ficar tanto tempo longe dela.
Duas semanas foi tempo demais até pra mim.
Por um momento, no meio de mais uma de suas insistentes ligações, tive medo de que ele aparecesse na minha casa para buscá-la e eu tivesse que apresentar Camila a ele.
Como eu faria isso?
"Ah, oi pai. Essa aqui é minha empregada que eu contratei por dó, sofreu um aborto espontâneo e agora está morando no meu quarto de hóspedes!"?
Fiz mamãe me prometer que não comentaria sobre ela com ninguém mas acho que vi um movimento estranho em seus dedos enquanto ela me prometia isso.
– A questão, Camila, é que eu preciso ajudar você... Mas só posso fazer isso se você me contar o que eu preciso saber.
– Não há nada para contar. Também não há mais no que você possa me ajudar... - seus ombros se encolheram e ela recuou um passo.
Mentira.
– Eu faço as perguntas e você as responde... se não há nada para contar, também não há nada para esconder, certo?
Sua mente viajou por um instante e ela estremeceu antes de se sentar na cadeira à minha frente.
– Ok, vamos do início... - seus olhos se fecharam. – Quem são os seus pais?
Sua boca se abriu e fechou diversas vezes como se ela fosse uma garotinha que tinha perdido a voz mas quisesse gritar para ser ouvida.
O choro de Miguel se fez presente e eu bati as mãos na mesa irritado.
Droga, justo na hora em que eu iria conseguir alguma coisa dela.
Meu ato assustou Camila e seus olhos se arregalaram. A impedi de se levantar com um levantar de mão.
– Eu o busco, não se preocupe. - passei por ela.