Eu costumo gostar do silêncio, mas, na ultima semana, chegar em casa e não encontrar conversas é novidade.
Dona Karen fez uma verdadeira amizade com minha empregada. Minha mãe descobriu coisas que eu não soube em quase quatro meses.
Camila aceitou a ajuda dos pastores da igreja à qual ela dormia na frente, ela está dormindo com Miguel em um quartinho nos fundos e, em troca, paga algum pouco dinheiro para a família. Ela sabe o básico de matemática, alguém, que ela não quis contar pra minha mãe quem foi, a ensinou a contar dinheiro.
Esse é o tipo de informação que eu consegui através da mulher que me colocou no mundo. Nada sobre a infância, sobre o pai de Miguel, sobre os seus pais ou coisas muito pessoais. Apenas informações casuais.
Procurei pela sala rastros da minha mãe e achei apenas um urso caído ao pé da escada. Ela deve ter sequestrado Miguel por um tempo.
Fui em direção à lavanderia para deixar os sapatos, como de costume.
Camila estava de costas no tanque passando sabão, de modo desesperado, em alguma coisa que ela não me permitiu ver.
– Camila, venha, vou te ensinar a colocar. - a voz da minha mãe ecoou pela casa junto com o som da porta de entrada sendo aberta.
A mulher à minha frente se virou para a porta, onde eu estava parado com meus sapatos nas mãos, e, rapidamente, levou o seu olhar de espanto para o chão.
Acompanhei seu olhar me deparando com gotas de sangue a cercando. Ela se cortou?
– Camila, você se cortou? - me aproximei alguns paços dela.
– Não. O senhor não precisa se preocupar. - fez uma careta, fechando os olhos logo em seguida. – Eu só não esperava que isso fosse acontecer - grunhiu. – agora.
Ela se moveu e então pude perceber a mancha vermelha em sua roupa, ela estava menstruada.
– Venha querida. - a cabeça de minha mãe apontou na porta atrás de mim e eu me virei a tempo de ver um sorriso nascer em seu rosto. – Chegou cedo, querido.
– Eu só preciso dos meus paninhos, dona Karen.
Paninhos?
– Oh não, menina. Paninhos são coisa do meu tempo, consegui alguns absorventes para você ali com a vizinha. - sorriu terna para a mais nova logo oferecendo a mão para que ela pegasse. – Venha, vou te mostrar como se usa isso.
Ela consentiu passando por mim de cabeça baixa, envergonhada.
O que ela quis dizer com paninho?
Nunca fui o maior conhecedor da intimidade feminina, não nesse sentido, achei que todas as mulheres sabiam como usar uma fralda adaptada para adultos. Isso não é algo com que as mulheres já nascem preparadas?
Me aproximei do tanque e deixei os meus sapatos ao lado do mesmo olhando, logo em seguida, para dentro da grande cuba.
A calcinha dela estava lá, mergulhada em uma água levemente ensanguentada. Sai tanto sangue assim?
Ponderei pegar a peça e estendê-la mas, considerando que pequena mulher quase se colocou dentro de um buraco por me ver perto dela em tal situação, ela não gostaria que eu tocasse na sua peça íntima.
Fui até a sala me deparando com o pequeno homem, que babava em um pequeno urso de pelúcia, posto sentado em meu tapete. Ele sorriu para mim e estendeu seus bracinhos me pedindo colo. Nós criamos uma bela amizade na ultima semana quando minha mãe ajudou a mãe dele com uma terrível dor de estômago que mal a permitia ficar em pé e eu precisei ficar só com o pequeno ser humano por tempo o suficiente para enfrentar choro, cocô e fome. O mais assustador é que esse tempo não durou nem se quer uma hora.