Capítulo 02 - No terapeuta

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Regina tamborilou os dedos sobre o braço da poltrona e olhou para o relógio na parede. Os ponteiros se moviam vagarosamente e ela estava ficando cada vez mais ansiosa.

Archie Hopper, o terapeuta, permanecia sentado no outro extremo da sala, embora relativamente perto dela. Ele estava com o rosto tranquilo, com a postura ereta e encostado em sua cadeira.

Regina mudou de posição e descruzou as pernas, pensando em como poderia começar a conversa. Não tinha amigos próximos com quem se sentisse confortável para desabafar, mas desde o que aconteceu no dia anterior no diner, achou que precisava falar com alguém.

– Você já deve estar sabendo que eu e Emma passamos por uma situação ontem, lá no Granny's – enfim Regina falou, cruzando os braços e fitando-o.

– Fiquei sabendo – ele disse com calma. – E como você se sentiu com o que ela fez?

– Dividida – respondeu de imediato – Por um momento, quis me entregar a ela de novo. Quis reviver o que tínhamos antes do que aconteceu, mas, no instante seguinte, lembrei do motivo da nossa separação, e me senti amargurada, como sempre – seus olhos umedeceram.

Archie se inclinou para frente, juntando as mãos.

– Regina, imagino que você não goste de falar sobre isso, mas sabe que Emma não tinha muita escolha, não é? Que estava além das forças dela evitar o que aconteceu?

Regina o olhou com frieza.

– Eu sei, Sr. Hopper. Odeio o George pelo o que ele fez a própria filha, mas, mesmo assim, isso não faz com que eu esqueça, com que eu pare de escutar dentro da minha cabeça, os gritos de Fiona sendo fodida pela minha mulher.

Archie ficou em silêncio, deixando que sua paciente tomasse um tempo para continuar.

– Eu poderia tê-la perdoado, por causa das circunstâncias de sua traição, mas quando eu soube que Fiona havia engravidado, a dor que eu já sentia só piorou – parou de falar e olhou para o nada com os olhos ainda úmidos de lágrimas – Nós tentamos engravidar, depois de dois anos casadas. Por duas vezes conseguimos e, nas duas vezes, eu sofri abortos espontâneos – Regina deixou a primeira lágrima cair – Certo dia, quando ainda estava me recuperando do segundo aborto, acordei cedo, lembro que era uma manhã muito fria e Emma não estava ao meu lado na cama. Sai do quarto e fui procurá-la pela casa. Ouvi a voz da minha esposa na biblioteca, aproximei-me e vi que ela não estava sozinha. Pela fresta da porta entreaberta, escutei quando George disse que a perda dos nossos filhos era um castigo por Emma não tê-lo ouvido quando ele a aconselhou a não se casar comigo, porque eu era uma beta, e alphas não são feitos para criarem vínculos com betas – estremeceu ao reviver a infeliz lembrança – Que Emma deveria procurar uma boa ômega, uma capaz de dar continuidade a linhagem da família.

Archie se levantou e pegou um lenço, entregando-o a ela. O homem voltou a sentar-se e Regina murmurou um agradecimento.

– Emma não deu importância ao que o pai dizia e falou que me amava, que ainda teríamos uma grande família. Eles começaram a discutir, e eu me afastei, pensando nas palavras de George – Regina calou brevemente – Sempre soube que ele não gostava de mim, que era contra o nosso casamento, mas nunca imaginei que fosse capaz de uma atitude tão cruel.

– Como você se sente sobre Elena? – Archie surpreendeu-a com aquela pergunta.

Regina ficou em silêncio, olhando para as próprias mãos.

– Estranha – começou a falar – Sempre tive medo de odiá-la, porque Elena era o símbolo da traição de Emma. Era a filha que eu nunca pude dar a ela – olhou novamente para o terapeuta – Mas sei que ela é só uma menina inocente, uma pobre criança que não tem culpa de nada. Felizmente, com o tempo eu fui capaz de canalizar todo o meu ódio para quem realmente merecia.

– Emma? – Archie perguntou.

– Não – Regina sacudiu a cabeça. – Não consigo odiá-la também. Só sinto raiva da biologia lupina dela. – Sorriu sem vontade.

– Você sabe que está sendo irracional, não é?

Apesar do tom da pergunta, o terapeuta a olhou com compreensão. Archie também era um beta.

– Sim, eu sei. Mas, infelizmente, não posso evitar pensar que se Emma não fosse uma alpha, George não a teria drogado para acelerar a rotina dela, nem teria prendido-a num cativeiro com uma ômega no cio para que elas se acasalassem por dias, e eu não estaria aqui, tendo essa conversa desconfortável com você.

Archie sorriu levemente.

– Você já tinha falado sobre isso com alguém, Regina?

– Não dessa maneira.

– E está se sentindo bem conversando comigo?

Regina olhou para a janela, onde um pombo acabara de pousar.

– Sim.

– Tem mais alguma coisa que queira dizer? – Archie estranhou o repentino silêncio dela.

Regina voltou a encará-lo.

– Você já conheceu o novo morador da cidade, Arthur Pendragon ?

O terapeuta meneou a cabeça positivamente.

– Já sabe que foi por causa dele que Emma me reivindicou de novo?

O beta corou: – Sei, mas me conte sua versão. Não sou muito de confiar nas fofocas das pessoas dessa cidade.

– Arthur estava me cercando e ela ficou agressiva ao nos ver juntos. Ele tentou enfrentá-la, mas Emma mostrou que era mais forte e o fez se submeter. Depois, enfim, ela me levou para um dos quartos no diner e eu acabei dizendo que me sentia atraída por ele.

– Você disse isso para irritá-la? – Archie perguntou com curiosidade.

Regina mordeu o lábio, corando levemente.

– Não.

O terapeuta ficou surpreso por um momento.

– Bem – ele ajeitou os óculos de grau – Você e Emma estão separadas há muito tempo e o vínculo está frágil. Imagino também que, desde a separação, você não teve intimidade com mais ninguém e isso justifica o fato de sentir-se atraída por um alpha que a cortejou. – Archie parou e sua expressão mudou, mostrando preocupação. – O problema é se o Sr. Pendragon perceber sua atração. É bem capaz que ele continue desafiando Emma e isso não pode acabar bem.

Regina sentiu um arrepio. Conhecia histórias de alphas que lutaram até a morte por causa de rivalidades envolvendo ômegas reivindicados. Mas será que com betas também seria assim?

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