Duas semanas haviam passado desde a epifania de Yibo. O mais novo tinha tomado uma decisão difícil, mas que não poderia ser adiada: seria sincero com Zhan, falaria tudo que estava sentido. Mesmo que a resposta fosse uma rejeição – e Yibo tinha arrepios só de pensar nisso. De todo modo, era Xiao Zhan... Ele compreenderia e sorriria no final.
Aquele sorriso desgraçadamente lindo!
Ele chegou ao apartamento de Zhan no final do dia. Fazia tempo que os dois não conseguiam ter um tempo para se divertirem como antes. Jogando, assistindo filmes, saindo pra correr, falando de seus novos projetos, desabafando dificuldades da indústria que faziam parte.
Yibo sabia que Lin estava viajando a trabalho. Portanto, teria tempo naquele fim de semana para sondar Zhan antes de dizer o que sentia.
– Zhan-ge...
– Bo-di...
Os dois caíram na gargalhada enquanto Zhan colocava alguns ingredientes na panela.
– Como vai o namoro com a Lin? – Yibo decidiu perguntar sem rodeios.
– Bem. – Zhan não ergueu a cabeça que permanecia fixa nos temperos – Ela é uma mulher inteligente, bonita, divertida...
– Ela é humana? – Yibo interrompeu com uma expressão de desprezo no rosto.
Zhan o olhou de soslaio. Sabia que Yibo parecia nutrir uma certa indiferença em relação a sua namorada. Ele nunca falava muito com ela e ignorava qualquer assunto que Zhan pudesse ter sobre Lin.
O mais velho começou a cortar alguns temperos e antes que Yibo pudesse falar de novo, Zhan soltou um gemido e um xingamento de dor.
Yibo estava do outro lado da bancada, mas deu um salto rápido para dentro da cozinha. Zhan riu da reação dele, foi apenas um corte no dedo. Mesmo assim, o mais novo pegou a caixa de primeiros socorros, tão conhecida por ele, e cuidou do corte.
O mais velho tentou puxar a mão agora com o curativo e continuar seu trabalho culinário, porém, Yibo a segurou e o fitou. Ele notou quando o mais velho vacilou o olhar, parecendo ter sentido a intensidade de Yibo.
Um arrepio familiar percorreu o corpo de Zhan quando ele sentiu os lábios de Yibo tocarem os dedos da mão com o corte. Foi um beijo delicado, protetor e quente. Assim como era a expressão do autor do beijo neste momento.
Nenhum dos dois falou nada. Zhan sentiu seu coração acelerar e o sangue esquentar. Yibo o olhava com um carinho que ele nunca viu antes. Tinha medo de descobrir o significado desse olhar, tinha medo do que estava sentindo agora. Tentou mais uma vez puxar sua mão e interromper aquela conversa silenciosa, mas Yibo segurou ainda mais forte. Zhan ainda assistiu petrificado quando Yibo entrelaçou os dedos de ambos, sem tirar os olhos do rosto de Zhan em nenhum momento.
Era uma confissão? Como... Eu não posso.
Zhan fechou os olhos e inspirou profundamente, para depois abri-los e soltar o ar dos pulmões com calma. Precisava manter o controle, não poderia se deixar levar por suas emoções. Ele era seis anos mais velho e mesmo que isso não tivesse feito tanta diferença até então, com certeza faria agora. Se Yibo estava descobrindo coisas sobre si mesmo, não cabia a Zhan se aproveitar só para ter um desejo reprimido atendido. Seu Bo-di estava confuso? Preso demais ao personagem? Provável que sim.
Em silêncio, Yibo viu a tempestade se formar nos olhos de Zhan. O polegar da mão entrelaçada trabalhava em uma carícia suave na mão do mais velho. Queria acalmar Zhan antes de falar. Já imaginava que talvez ele fizesse objeções, mas se antes tinha medo de ser rejeitado, agora não tinha mais. Não depois de ver que o outro não tinha quebrado o contato até agora, não depois de ver as sobrancelhas franzidas de Zhan e lábios apertados... Ele parecia estar lutando contra algo, sem sucesso.
Talvez falar não fosse suficiente. Falar não mostraria o quanto Wang Yibo queria Xiao Zhan. O mais novo decidiu se aproximar, lentamente. E quando estava a apenas um palmo de distância, avançou para finalmente fechar o espaço entre os dois.
– Yibo, por favor...
O mais velho tinha se afastado e baixado a cabeça no exato momento em que o outro tentou beijá-lo. Yibo não sabia o quanto doía até a dor começar. Ele engoliu em seco e reuniu forças para chamar o homem à sua frente com a voz mais doce e apaixonada que era capaz.
– Zhan-ge... – A fala de Yibo saiu como uma súplica interrogativa, ao que Zhan respondeu balançando a cabeça para os dois lados. A resposta era óbvia: não.
Yibo sentiu as lágrimas preencherem seus olhos. Ele continuou olhando Zhan que também já tinha as suas pairando por ali, o vermelho característico junto delas. Nenhuma caiu. Os dois respiraram fundo para se manterem e manterem as próprias decisões.
Yibo largou a mão de Zhan, que automaticamente sentiu falta do calor de antes. Ele viu o mais novo sair da cozinha, pegar suas coisas, chaveiro da moto, casaco, boné. Viu Yibo calçar os sapatos para ir embora. Queria gritar e mandar ele ficar, que não importava o que tinha acontecido ou não entre eles, ele tinha Yibo como um amigo para vida toda e isso era mais importante que tudo. A vontade de chorar vinha com mais força à medida que ele percebia que não era capaz de fazer esse pedido. Mesmo assim, ele tentou.
– Ei, Bo-di! Você não precisa – Zhan esboçava um sorriso que não chegava em seus olhos e erguia a mão como quem se perguntava o motivo da reação do outro.
Aquela foi a primeira vez. A primeira vez que Yibo entendeu que o sorriso de Xiao Zhan tinha muitas versões e utilidades. Ele nem sempre era usado para mostrar felicidade, empolgação ou timidez. Ele também era um escudo, do tipo poderoso, capaz de cegar as pessoas ao redor para que nenhuma delas fosse capaz de perceber o que ele realmente estivesse sentindo, o que de fato queria mostrar. Pela primeira vez, Yibo sentiu raiva desse sorriso. Então, ele lembrou que sua profecia havia se cumprido, Zhan sorriu no final, e isso não poderia ter machucado mais.
A porta do apartamento bateu. No caminho para o elevador, Yibo se perguntava se o motivo da recusa era Lin, carreira ou ele mesmo.
Zhan estava sentado no chão da cozinha, abraçando os joelhos, encolhido. As lágrimas ganharam liberdade.
Ao chegar no estacionamento do prédio, Yibo pensou em voltar e enchê-lo de perguntas. Seu orgulho o freou. Tinha sido rejeitado, ponto final.
Orgulho uma ova!
Ele desengatou a chave da ignição e iria tirar o capacete para voltar ao apartamento de Zhan quando viu o carro de Lin descer a rampa do estacionamento. Ela tinha voltado mais cedo. Novamente, Yibo sentiu-se um intruso e foi embora dali.
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Roteiro - Yizhan
FanfictionA primeira leitura do roteiro seria feita no início da tarde. O clima entre elenco e produção era promissor, mas Xiao Zhan estava apreensivo. Ele aproveitou o horário do almoço para trocar áudios pelo celular com seu melhor amigo, Xu Kaicheng. - Co...