Capítulo 18 - Semáforo

524 90 5
                                    


Zhan tinha conseguido se recompor e voltara a cozinhar. Comeria até se empanturrar. E beberia sozinho, o quanto quisesse. Ele limpou as mãos rapidamente quando ouviu a campainha tocar.

– Bo-di?! – A fala saiu apressada e empolgada.

Ele passou as mãos no rosto para enxugar quaisquer resquícios de lágrimas, não queria que Yibo o visse assim. Iria conversar, explicar seus motivos. Dizer que não aceitaria perder a amizade do mais novo. Com o coração acelerado e um sorriso verdadeiro, ele abriu a porta e braços finos o envolveram.

– Surpresa, amor! Voltei!

Por alguns segundos, Zhan não soube o que fazer. Deveria sorrir, envolvê-la em seus braços, beijá-la com alegria. Para seu alívio, Lin o soltou rapidamente e andou para dentro do apartamento com uma grande mala atrás, tirando sapatos, casaco e cachecol pelo caminho.

– Eu nem passei em casa, vim direto do aeroporto pra cá, acredita?! O Congresso foi incrível! Queria te contar todas as coisas que eu vi e... Estava com saudades. – A última frase foi dita num sussurro no ouvido de Zhan.

O moreno engoliu seco. Fazia algumas semanas que ele e Lin não tinham nenhum contato mais íntimo. Mesmo na noite da festa de Xuan Lu, Lin tinha literalmente dormido ao seu lado. Ele estava preocupado com Yibo, ela lenta da bebida e com sono.

Xiao Zhan, isso é ótimo! Sua namorada inteligente, bonita e divertida está aqui – Ele pensou tentando se convencer – Eu vou fazer um jantar delicioso e aproveitar minha noite com ela. Não é como se eu não estivesse precisando relaxar.

– Hummm, meu namorado vai cozinhar hoje? Aliás, o Yibo foi comprar bebida? Ele volta?

Zhan não soube o que responder. Notando confusão em seu rosto, Lin continuou.

– Eu vi a moto dele saindo do estacionamento. Você me disse que vocês comeriam juntos hoje.

O moreno avisou à namorada que Yibo não voltaria e que a noite seria só dos dois. Lin estranhou a empolgação repentina, não a identificou quando chegou.

– Vocês dois brigaram?

Zhan negou com a cabeça e pediu que ela não se preocupasse. Não era uma mentira, eles não tinham brigado. Lin foi pega de surpresa por um puxão de Zhan em sua cintura e um beijo de tirar o fôlego. Sorriu. Ele sorriu de volta e pediu que ela fosse descansar, ele a chamaria quando tudo estivesse pronto. Ela nem conseguiu responder e recebeu outro beijo, mais afoito e molhado que o primeiro. Já tinha entendido o que seu namorado estava ansioso para ter. Deveria ficar feliz, mas não conseguiu.

----------

Com a toalha enrolada no corpo após o banho, ela saiu do banheiro e pegou uma roupa limpa e confortável da mala. Antes de se vestir, abriu o guarda-roupa de Zhan. Havia deixado alguns pertences numa das prateleiras, como uma lingerie nova que ela queria inaugurar.

Porém, não estava preparada para o que viu ali dentro, principalmente, não estava pronta para o entendimento que teve. Alguns minutos passaram com ela parada, em frente ao armário.

Ela pegou a lingerie, mas não vestiu. Sentou na cama, olhou para o teto e soltou um suspiro profundo. Abriu a mala e colocou o conjunto íntimo dentro, assim como todos os seus pertences que estavam no guarda-roupa do namorado.

Quando Lin estava prestes a fechar o vestido, Zhan entrou no quarto. Os lábios dele tocaram sua nuca por trás e ele falou baixo:

– Se você quiser, eu posso fechar o zíper... Ou não. – O tom do moreno era sedutor.

Ela se virou e encarou Zhan. Entrelaçou os braços na nuca dele e olhando no fundo dos seus olhos, pediu que ele fizesse o que realmente queria. Segurando o choro, Lin pediu com confiança que ele só fizesse o que desejava com todo seu coração.

Zhan entendeu o peso daquelas palavras. Após alguns segundos encarando a mulher a sua frente, ele também engoliu o choro e se aproximou ainda mais. Ela sentiu as mãos dele em suas costas e o zíper se fechando lentamente. Lin deixou que o choro viesse e Zhan fez o mesmo. Os dois se abraçaram apertado, num consolo recíproco.

Ninguém começa um namoro torcendo para que ele termine. Acreditamos que o encaixe vai funcionar. Que a paixão é infinita e que nunca vai se transformar. E assim como os sentimentos, nossas crenças também mudam. Ela já tinha identificado alguns indícios, o copo transbordou quando a última gota caiu.

Mais precisamente, quando ela abriu o guarda-roupa e viu um capacete com detalhes em verde, lindo, com certeza novo. Zhan já tinha comentado que o aniversário de Yibo estava chegando e tudo estaria bem se o presente não estivesse ocupando a prateleira de Lin. Ela e Zhan tinham chegado a um acordo de que ela teria um espaço só dela. Um cantinho no armário de roupas de Zhan.

Contudo, as peças de Lin estavam comprimidas pelo objeto verde ou caídas em outros cantos. Ela olhou para cima e viu que a prateleira dele estava lá, intocada. Yibo tinha uma prateleira, ao menos era assim que Lin considerava, visto que naquele local havia mais roupas dele que de Zhan. E o bendito capacete ainda ocupava mais um espaço, o espaço que era para ser só dela. Lin estava ali, tentando conquistar um espaço importante, quando tudo já estava sendo ocupado por Wang Yibo.

Lin sabia que Zhan não era mais apaixonado por ela, mas acreditou que poderiam construir algo ainda mais forte: amor. Talvez tenham construído, mas um outro tipo de amor. Do tipo que conversa durante o filme, compartilha refeições e serve de apoio nas horas difíceis sem que o desejo acompanhe cada uma dessas coisas.

Com as mãos ao volante, parada no semáforo, era nisso que ela pensava após ir embora do apartamento. Acreditava que quando ela fosse amada e desejada ao mesmo tempo, aí sim valeria a pena lutar.

Uma menina atravessava a rua conversando com a outra, alegres. Em suas mãos, cadernos estampavam os rostos de Lan Zhan e Wei Wuxian. Do carro, Lin riu da coincidência. Desejou sorte aos dois do fundo de seu coração, eles iriam precisar. Ela olhou para cima, as luzes vermelhas se tornaram verdes.  

Roteiro - YizhanOnde histórias criam vida. Descubra agora