Capítulo 24 - Ricardo

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-Está certo... Contanto que você revele a verdade sobre essa questão, posso fechar os olhos para todo o resto e quem sabe podemos ter um novo começo... Eu faço isso por ela! Porque tudo agora se resume a ela para mim... Não serei seu amigo, não confio em você... Continuo te achando o mesmo safado mal amado de sempre, mas te invejo porque você talvez tenha sido presenteado... Tens a ela, tens a criança... Tens tudo o que eu sempre quis... - eu respondo com sentenças entrecortadas, instável, com berros intransponíveis compondo minha mente feito um campo de batalha.
Esses berros formando um coro sombrio, imaginando estapafúrdias possibilidades de escapar com ela, fazendo cálculos e criando teoremas bestas pra conseguir montar uma poupança e sobreviver com ela e a criança em um rancho fundo bem pra lá no fim do mundo. Com a relva e as gramíneas preenchendo a paisagem em um céu com explosão de cores quentes e frias.
Puts, não sei como serei capaz disso.
Posso viver verdadeiramente sem a Julia?

A voz sai falhada, surda e sinto que ninguém além de Julia e Gabriel puderam me ouvir completamente. Percebo que minha garota está colada ofegante em meu cangote e quando cruzo meus olhos com os dela castanho claro sinto ela corar e sorrir inocente, coçando nervosa as têmporas já secas enquanto seus cabelos permanecem úmidos pela tempestade qua agora não passa de um chuvisco.

Inspiro com meus olhos atados aquele doce aroma de morango.

Eu vou sentir muita falta disso, preciso me apegar a cada lembrança dela, a cada curva de seu corpo esculpido.

Porque ela agora será uma garota comprometida com outro cara e ele não estará disposto a compartilhar seus atributos.

Eu não estaria.

-Temos um acordo então... Julia, venha comigo... - profere Gabriel me estendendo as mãos, enquanto Julia se afasta demoradamente de mim e se abraça a ele com carinho e afeição.

-Não precisamos dessas formalidades... Aperto de mãos não é necessário... - digo, sensivelmente zangado.

-Sou um cavalheiro, e devo me portar como tal, mesmo que não mereça Ricardo! - ele sorri ironicamente me dando uma piscadela provocante.

-Tenho palavra como qualquer homem de verdade... E nem adianta tentar extrair de mim mais uma reação extremada... Não é que você não mereça uns belos socos nessa tua fuça... É que já bati minha cota hoje e não quero magoa-la...

-Que seja... Eu cuido dela no fim das contas... Não te preocupes com esse problema em específico!

-Quero saber como é que será isso... Como assim nós diremos a verdade? Pra quem e como? - interrompe Caique com os mamilos e as tetas gordurosas a mostra naquela camisa lisa branca encharcada.

-Eu cuido disso... - Gabriel esclarece descontraído pondo as mãos na nuca e suspirando, beijando Julia sorridente na testa.

-Ricardo, melhor irmos embora... Eu e o Etan iremos leva-lo até o hospital novamente... Não podemos levantar suspeitas... Você ainda vai ter que tomar um banho, se secar e torcer pra não pegar um resfriado... Sem falar que teremos de achar um jeito pra escondermos esse corte da sua mãe - esclareceu Tadeu me segurando forte nos braços e já me conduzindo para fora dali com o Etan desastrado e confuso a beijar Paty e vir até mim.

-Para de se portar feito minha mãe... - gozo procurando a última réstia de bom humor em mim e procurando gargalhar forçado.

Não gostaria que Julia me visse sair dali tão abalado quanto aparentava.

Era preciso transparecer o mínimo de "eu supero e posso viver sem ti, Ok?", por mais que eu soubesse que não.

-É o preço de se ter um amigo tão irresponsável... - Tadeu respondeu também induzindo e inspirando todo aquele circo de risos e sorrisos e piadinhas manjadas. Ele estava a tentar me animar porque tinha ideia do quão combalido emocionalmente eu estava.

Em frangalhos a gravitar sem rumo.

-Own, so cute...(tão fofo) O honey baby pode vir chorar suas mágoas com a querida que vos fala... Seria ótimo, eu adoraria... - comentou com uma expressão forçadamente sarcástica, se alisando vulgarmente no colo exposto pela roupa indecente Marta, fazendo beiços que capturaram rapidamente minha atenção.

Talvez ser um cara babaca fosse a minha sina, desses que ama uma garota como nada no mundo mas não nega uma rabo de saia quando se depara com ele nessa carência crônica.

Merda.

Vamos em frente.

Talvez assim eu supere.

-Esta certo Marta... Me encontre amanhã no hospital, na hora que desejar... Venha nua se desejar e eu me servirei a gosto...

Tadeu me cutucou umas trinta vezes antes de passarmos pelo portal do primeiro lance de escadas e avistarmos aquelas luzes vermelhas dos avisos de emergência. Não quis olhar para Julia uma última vez com medo de ter aquela cena incrustada em minhas retinas até o dia em que minhas funções vitais cessassem. Até o dia em que morresse sem ela ao meu lado.

Etan me apoiou do lado oposto e eles me guiaram esforçados e calmos, sem pressa até o último degrau. Permanecemos em silêncio por alguns intermináveis minutos, até Tadeu romper a barreira e falar desenfreado como ele sempre fazia quando retia muito em si mesmo.

-Desculpas, por tudo que eu fiz lá em cima... Desculpas por ter quase matado aquele cara... Desculpa não ter me controlado... Desculpa não ter sido o mesmo Tadeu de sempre, aquele que está sempre trilhando os caminhos mais racionais possíveis... Sei também que devia desculpas para o Caique, mas eu não consegui... De verdade, não consegui... Sei que Julia também contava comigo e eu a decepcionei... Sei que piorei tudo e sei que estou chorando nesse momento...

Paramos por um momento e nos abraçamos como há muito não fazíamos e eu disse, tentando contornar tudo, enquanto ouvíamos os soluços ruidosos de Tadeu que apertava os óculos com força.

-Cara, não se culpe por tanto... Eu ja estava há séculos com vontade de ferir aquelas banhas...

E todos rimos.

Os Cinco (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora