-Isso significa que, independentemente da sua escolha, do caminho que você prefira seguir... Nos lhe apoiaremos o quanto for possível... - disse Tadeu retirando uma mecha rebelde de meus olhos brilhantes.
-Nós tínhamos certeza que você já sabia dessa informação... Mas Patricia conversou conosco e... Bem, ela nos convenceu a deixar isso bem claro, sem que você tivesse que ficar supondo com quem pudesse contar e tal... - comentou Etan girando seu boné para trás, o que lhe dava a aparência de uma criança saltitante que vive quebrando seus ossos ao andar de skate.
Eu estava aliviada.
Vivendo a vida, novamente. Enxergando a beleza das cores do mundo e o quanto eu, com todas as minhas adversidades e problemas, ainda tinha chances de ser minimamente feliz.
Já passava da hora de a Julia de verdade tomar o lugar dessa pessoa amargurada e chorarosa, fraca e presa fácil pra qualquer dificuldade... Era hora da Julia dar lugar a fênix. A fênix que ela sempre tinha sido.
Aquela que renasce das cinzas e vem lutar pelo que é bom, justo e certo. Aquela que reestabelece musculatura e força para limpar as sujeiras e trabalhar com o que se tem para reestruturar a vida. Que enfrenta os erros com o rosto de frente, erguida, segura e incisiva. Pronta para bater e levar.
Pronta para lutar pela felicidade.
Pra ser muito mais feliz que muitos outros homens e mulheres desafortunados.
Eu tinha amigos, verdadeiros irmãos de afeto e lealdade e isso era tudo.
Que tinham vindo provar o seu amor por mim, sua amizade fraterna e verdadeira. Algo que eu não esperaria, não porque duvidasse de seus sentimentos, mas porque duvidava que eles fossem capazes de me perdoar.
Perdão. Era essa a palavra que me faria recuperar minhas forças e minha vontade de viver e batalhar pela minha felicidade diuturnamente. O perdão era o meu elixir, a cura para minhas feridas abertas, a minha motivação, o meu combustível para eu me reerguer novamente.Sabendo que meus erros não me trariam mais consequências devastadoras que as atuais, sabendo que nunca enfrentaria os desafios por vir apenas com minha consciência, sabendo que poderia dividir minhas dúvidas, dilemas e hesitações com quem me queria bem.
Não havia mais a necessidade de provocar minha morte e cessar minha dor porque agora a outra opção tinha se modificado para algo muito mais palatável, muito mais sustentável.
Agora eu poderia cuidar do meu filho ao lado de Ricardo, sem ter de abrir mão de meus amigos.
Patricia não equilibraria a balança ao lado de Gabriel se eu tivesse Ricardo, Etan e Tadeu me renegando, cuspindo em meu rosto, propagando desamor e me esfaqueando com a indiferença e a ignorância. Me enfraquecendo, me desmotivando e me empurrando para o buraco sombrio da solidão.
Se o fizessem, teriam boas razões para tal e não poderiam ser repreendidos mas a novidade era que agora apenas Ricardo talvez tomasse tais atitudes.
Aquela nova realidade poderia atenuar, com equilíbrio frágil mas suportável, minha factível distância de Ricardo, ou mesmo suas eventuais vinganças ou a propagação de seu ódio, ou quaisquer outros meios por ele passíveis de serem aplicados para me dar o troco.
Eu tinha um caminho. Tortuoso, duro, ainda penoso e doloroso porque nada seria como antes. Mas nos meus momentos de depressão mais aguda, com meu desejo suicida a espreita, teria quem me acalentar, quem me mostrar um sorriso e uma mão amiga.
Aquela altura, com aquelas circunstâncias e com aqueles acontecimentos, não haveria um momento sem medo, pavor e desespero. Sem falar na dor e no sofrimento. Eu conviveria com aquilo como um diabético convive com a diabetes.
Não havia cura para aquilo. Porque a cada momento que eu tentasse emergir me lembraria do corpo de Ricardo mutilado.
Eu havia mutilado fisicamente o meu amor. Não bastava desquilibra-lo emocionalmente.
Mas havia agora uma chance de reduzir aqueles sentimentos sombrios e negativos a níveis, ainda altos, mas não mais perigosamente altos me sufocando e me enterrando numa eterna escuridão.
Eu amava Gabriel, e isso era uma verdade incontestável. Mas já tinha experimentado em meus sonhos uma vida apenas com ele, sem nenhuma lembrança real e contínua de meu passado feliz. E eu sabia que não seria uma vida razoável, regular ou segura.
Seria apenas um mero adiamento do meu inevitável suicídio.
Repentinamente, passei uma das mãos em minha testa na região do meu cérebro como que afastando o pensamento do suicídio.
Eu não queria mais cogitar aquela possibilidade, porque ela não era mais do que uma não alternativa. Era apenas um delírio de minha mente desamparada e desequilibrada. Um transtorno superado de meus momentos trágicos.
E eu sorri.
Sorri com vontade e verdade.
Patricia sorriu de volta se aproximando mais de minha cama enquanto eu me sentava e erguia meus braços, pronta para abraçar a todos.
-Isso significa que perdoamos você Ju... Apesar de tudo... E enfrentaremos isso tudo unidos... Como sempre passamos...
Os três vieram me abraçar e senti a presença deles próximos de mim, colados em meu corpo e fisicamente me revigorei. Nos apertamos, morrendo de saudades de um momento daqueles.
-Isso significa que eu amo vocês... Apesar de tudo... - eu falei, como que deixando de bloquear meus pensamentos e me deixando verbalizar.
Quando nos afastamos, com Etan caindo em gargalhadas, foi como se os cinco estivessem prontos e armados para lutarem por si. Como se nada se resumisse apenas a soma de nossas individualidades, capacidades, personalidades, jeitos, trejeitos e potencialidades.
Como se nós cinco fossemos como um só, como um ente vivo jovial com instinto de sobrevivência.
Os Cinco não morreriam tão facilmente, porque funcionava para além de nós mesmos, era constitutivo e intuitivo, pensávamos como um só.
Senti uma pontada de culpa quando percebi a falta que Ricardo proporcionava quando pensava em nós todos juntos. Como se o tal corpo vivo tivesse perdido parte do brilho, mas considerei o contentamento que aquela realidade presente me proporcionava e arquivei a tristeza.
Eu precisava de um choque de felicidade e diversão.
-Cara, toda vez que eu te vejo com esses óculos, porra, me lembro da época que você era aquele nerd estranho... - falou Etan vermelho de tanto rir com as mãos no abdômen, como que sem respirar de tanto gargalhar, enquanto Tadeu revirava os olhos, cruzando os braços.
-Por que vocês estão vestidos desse jeito...? Vocês estão arrumados e, bem... -tentei dizer, antes de ser cortada.
-Julia, viemos te levar para um passeio... Seu médico já lhe concedeu alta... Vamos para o Hotel Seu Lar, nosso point predileto pra ficar observando as estrelas... - falou Paty ajeitando o vestido.
-Mas por que vocês estão vestidos assim?
-Porque precisávamos te lembrar quem você é... Sabíamos que estava passando por um momento difícil... E, te mostrar quem éramos, como éramos, te mostrar nossas origens foi uma forma de eu fazer você sair dessa... Você sabe que eu sempre fui meio patricinha, o Tadeu, meio nerd e o Etan, meio idiota né? Pois bem, somos os mesmos, e estamos com você aqui e agora...
-Você está completamente certa... Eu já sei como o nosso recomeço irá se dar...
Gabriel teria que fazer algo para que pudéssemos constituir nossa família sob bases legítimas e fortes.
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Os Cinco (EM REVISÃO)
PrzygodoweQuando se é jovem, sempre se busca uma nova aventura, um novo caminho a seguir. Uma forma de ousar, de seguir em frente de forma diferente. De formar sua gangue de amigos queridos e compartilhar entre eles seus sonhos, medos e desejos futuros... Mas...