Antes que minhas palavras fossem expelidas com dificuldade para fora, tudo o que pude pensar foi um mar assombroso de sangue no qual eu havia afogado todos em minha volta.
Dor.
Sofrimento.
Tudo culpa minha.
Minha culpa.
Minha tão grande e irrecusável culpa.
-Eu não chamei vocês aqui pra que arrumassem confusão uns contra os outros... Não quero brigas ou agressões.. . Isso precisa acabar, tudo tem que acabar... - eu pronunciei com uma voz incisiva, clara e segura o máximo que eu pude, o que naquela altura não era muito. Sentia meu coração pulsando tão rápido e constante, movimentando e circulando o sangue em minhas veias que parecia que estava a um passo de um ataque fulminante.
O calor do meu corpo trabalhando a mil por hora entretanto não era o suficiente para aquecer minha pele fina, pálida e frágil que havia praticamente congelado. Olhei para as palmas das minhas mãos e meus dedos estavam arroxeados e dormentes.
Meus pensamentos eram um mar revolto de dúvidas, incertezas e medos mas eu me agarrava ao último fio de energia que me mantivesse em pé para continuar com os meus planos. As minhas lágrimas não mais eram isoladas e marcantes, escorrendo pelo meu corpo junto com as gotas pesadas da tempestade.
Observei Tadeu se reerguer agitado com a ajuda providencial de Etan que lhe controlava com os dois braços formando uma espécie de armadura de ferro, e o ponto bem longe de Caique. Os olhos de meu amigo nerd estavam tomados por uma chama com núcleo laranja e pontas avermelhadas que lhe conferiam uma aparência cruel. Ele estava possuído pelo ódio e pela raiva.
E eu nunca o tinha visto daquela forma.
Assim como eu nunca tinha visto Ricardo acusar alguém com tanta veemência.
Gabriel se manteve impávido e ereto com um dedo indicador no canto da boca. Sua postura transmitiam segurança e clareza, com uma gota de sangue negro brotando de seu ferimento discreto na bochecha e respingando no concreto e manchando as poças transparentes de água. Ele não havia reagido de maneira tão descontrolada e irracional quanto era esperado da acusação que ele havia sido vítima.
E essa era a questão: Ele era uma vítima ou a acusação de Ricardo tinha seu fundamento?
Minha criança seria um fruto impuro de uma violência sexual?
Não sei... Foi o que pude pensar.
-Ju, este cara está completamente louco... É insano o que ele propõe! Não faz o menor sentido... Eu estava tão embriagado e bêbado quanto você naquela noite e não usamos proteção por descuido. Você sabe disso, essa é a verdade... Mas é o nosso filho, o nosso amor... Você crê nisso, não é?
Eu creio!
Duvidar da sinceridade em suas palavras implicava necessariamente em duvidar de seu amor? Obviamente que sim, conjecturei comigo mesma. Porque não é possível que uma pessoa, um ser humano, seja capaz de violentar de quaisquer formas uma pessoa que diz amar.
E se eu não duvidava do amor de Gabriel, porque ele já havia me dado provas de que era verdadeiro, também não duvidava que ele não faltava com a verdade comigo.
Ricardo estava absolutamente errado.
-Eu acredito em você, Gabriel! Não tens que se preocupar com isso... Ricardo só está estressado, um pouco...
-Não estou! Você está tão cega que não consegue ver um palmo a sua frente... Pare de ser tão estúpida Julia! - esbravejou Ricardo com a mesma expressão repuxada e tomada pela figura flamejante. Eu me afastei um pouco e vi ele despencar de joelhos em minha frente, quando eu me apavorei e me senti perturbada.
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Os Cinco (EM REVISÃO)
PertualanganQuando se é jovem, sempre se busca uma nova aventura, um novo caminho a seguir. Uma forma de ousar, de seguir em frente de forma diferente. De formar sua gangue de amigos queridos e compartilhar entre eles seus sonhos, medos e desejos futuros... Mas...