Capítulo 15 - Ricardo

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-Cara, sem querer ser chato, mas você está péssimo... - disse Tadeu com o olhar razoavelmente torto para mim, com as mãos para o alto demonstrando falsa indignação.

-Cara, sem querer ser chato, mas você está absolutamente ridículo com esses seus óculos de geek com esparadrapo no meio... - eu revelei em tom jocoso, esticando um camiseta azul amassada nas pontas depois de horas e mais horas de sono.

-Eu te disse... - Etan se apoiou na cômoda branca enquanto gargalhada e apontava para Tadeu que revirou os olhos, fez uma expressão seria e cruzou os braços.

Seu jeito meio blazê era hilário e não pude suportar. Me ajeitei melhor na cama de hospital com a qual já tinha me acostumado, tentei suportar em meus insuficientemente fortes braços o peso do meu corpo sem a ajuda de uma das pernas e me agitei em gargalhadas.

A cama rangia de tanto que eu ria.

-Quer dizer que o cara que sofreu um acidente grave de carro, perdeu uma das pernas, foi traído pela namorada com o seu maior rival já está bom o suficiente para fazer piadas com o amigo aqui...? - Tadeu entortou um pouco o pulso do braço direito apontando para si mesmo de uma forma meio afetada e eu sorri com mais vibração.

Era verdade.

Com eles ali e com minhas resoluções, era como se um pássaro antes trancafiado em uma gaiola no meio de uma escuridão desconcertante tivesse tido a inédita oportunidade de se ver livre daquele pesadelo, em busca de um ponto luminoso no alto.

Um ponto luminoso que eu preferia associar a um reatamento do meu namoro com Julia.

-Você está parecendo uma criança que ganhou um picolé de cereja... - Tadeu disse imitando uma lambida no ar.

-Eca! Picolé de cereja? Não... O Ricardo parece um cara que teve a sua primeira vez com uma funkeira popozuda bem safada... - continuou Etan imitando no ar os contornos de uma bunda bem avantajada e generosa.

Eles eram demais!

-Já chega de chorar né? Já chega de sofrer... Já chega desse luto idiota... Está na hora de eu encarar tudo isso com um sorriso estampado no rosto e um bem grande... - eu esclareci enquanto eles me olharam espantados e, de alguma forma amedrontados. Repentinamente, Tadeu pós as mãos no queixo e me fitou com uma expressão mais pensativa e eu soube que ele - como sempre - tinha matado a charada.

-Eu ja entendi... Você vai lutar pela Julia... Você considerou a possibilidade real dela ainda te amar e vai usar de todos os seus atributos para reconquista-la...

-Mas e se... - Etan ia iniciar uma saraiva de perguntas hipotéticas e eu lhe cortei antes de tudo.

-Se ela preferir permanecer ao lado do Gabriel... Bem, eu vou procurar permanecer ao lado dela, como amigo... - estremeci com a situação, com uma ardência incômoda e dolorosa no coração, mas me recuperei com o emprego de todas as minhas forças psíquicas, porque aquela era só uma hipótese - O importante é que, vou me esforçar, pra que, no mínimo nós fiquemos unidos, como os cinco, porque no fim das contas a amizade é o que importa... - eu conclui com contentamento pondo o meu dedo indicativo da mão direita no alto.

Minhas palavras pairaram no ar enquanto o silêncio eloquente preencheu o recinto. Tadeu sorriu com confiança e ironia fina e me forneceu um aperto de mãos.

Etan chegou mais perto e tocou na minha cicatriz, com cuidado avaliando algumas costuras com linhas expostas, quando ele fez uma careta.

-Cara, a sua mãe deve estar voltando... Melhor sairmos, antes que ela pegue uma daquelas unhas dela bem ao estilo mãos de tesoura e nos fira... Sem ofensas! - ele concluiu na defensiva e com as mãos para o alto.

-Então quer dizer que depois daqui, vocês vão se encontrar com a Julia e a Paty lá no Hotel? - pûs meu tom enigmático em teste, enquanto Etan já colocava as mãos na maçaneta se despedindo.

-Sim, por que? - Tadeu perguntou ajeitando os óculos.

-Porque eu vou!

-Diabos Ricardo... Você esta completamente louco? - Etan me forneceu um tapa forte na cabeça.

-Vocês realmente achavam que iriam olhar as estrelas sem mim? Essa é uma tradição dos cinco, e pelo que eu sei, se vocês me excluírem disso, irão apenas quatro... - eu forneci-lhes a verdade enquanto finalizava mais um curativo em meu resto de perna.

-Tradição é tradição... - bradou Etan me ajudando a me levantar com as muletas em uma das mãos e me apoiando com a outra.

-Perigoso demais... Será que as duas garotas não compreendem isso? - Tadeu reclamou enquanto me apoiava do lado oposto.

-Tadeu, vê se não empata minha vida... Estou aleijado, mas não morto... - mencionei com casualidade.

-Sua mãe vai nos matar... - Tadeu chorou nos meus ouvidos enquanto em me erguia em pé, me apoiando em minhas novas muletas.

-O que eu quero conversar com vocês dois tem justamente a ver com a mamãe e o incêndio na boate... Vocês conhecem uma tal de Verona?

Os Cinco (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora