Observo desorientada na penumbra da noite a silhueta imponente e fortalecida de Gabriel destrancar um longo portão esverdeado com gotículas de chuva escorrendo pelo ferro fundido e moldado.
Gabriel a forçou com uma das mãos com habilidade, fazendo saltar seus músculos torneados e movendo o portão ruidosamente para o lado.
Me arrepio assustada e tomo cuidado para abafar ao máximo minhas passadas, já que não quero ser ouvida ou percebida. Com poucos segundos, sussurro em seus ouvidos próximos a minha boca quando ele me leva no colo me acariciando.
-Eu te disse que essa não era uma boa ideia... Seus pais irão acordar, e se me encontrarem aqui...
-Você não poderia dormir com seus pais... Não depois da briga que teve com sua mãe, e além do mais, deve descansar e se acalmar um pouco. É muita informação para se processar em apenas um dia! Sua cabeça deve estar borbulhando!
-É verdade... - confesso me esbarrando na lataria do jipe preto estacionado dentro da garagem por onde adentrávamos enquanto alguns consideráveis buracos no telhado gotejaram pingos de chuva congelantes em meus cabelos.
-Me desculpe... Eu era o encarregado a consertar esse telhado mas sou totalmente incapaz. Minha mãe disse que contrataria uma equipe de construção, mas eu achei que eles fossem bagunçar minhas coisas ou retirar tudo do lugar... E ninguém mexe no meu canto!
-Mas isso não passa de uma garagem...
-Não se trata de uma garagem... Na verdade, a última função desse espaço é servir de garagem... Esse carro é uma compra recente, meus pais me presentearam... E esse aqui é o meu galpão, tudo isso aqui em volta representa algo pra mim... É importante! Eu costumo passar mais tempo aqui que em meu quarto... Chego a dormir nesse chão desconfortável! - ele me revela em tom brincalhão e descontraído, com um sorriso cativante no rosto e sinto como se ele fosse uma criança inocente.
-Eu posso ver o que você guarda por aqui? Posso ter acesso a esses seus segredos? -sussurro quando ele nos tranca no recinto escuro e úmido, rolando o portão para sua posição original.
Um foco insuficiente de luz pisca algumas vezes no alto e o espaço se aquece e toma contornos mais aconchegantes com a iluminação baixa e confortável para os olhos. Gabriel retira as mãos do interruptor curiosamente decorado e personalizado com um grafite desenhando um buquê de margaridas envolto por uma explosão de tintas diversas e vibrantes.
Ele me puxa com uma das mãos e toma minha atenção com seus inebriantes olhos azuis.
-Eu faço tudo aqui! Tudo mesmo... Desde a instalação elétrica até os detalhes bobos... Tem muita coisa que tem a ver com você obviamente! Porque você costuma ocupar muito espaço nessa minha cabeça mirabolante e inquieta...- ele diz olhando para o chão com o rosto corado e um sorriso tímido brilhando escondido.
Meu coração perde o ritmo um pouco e começa a se acelerar impaciente. Isso porque Gabriel curiosamente nunca tinha me convidado a conhecer aquele espaço em específico. E eu não pude me controlar o necessário ao descobrir que eu era uma pessoa tão importante pra ele ao ponto de ter acesso a tamanha intimidade. Ainda mais sendo uma musa inspiradora para ele como ele próprio tinha dito envergonhado.
Aquilo era fofo.
Aquilo era romântico.
Aquilo era Gabriel?!
Ricardo nunca faria algo pensando em mim, me permiti cogitar feito uma idiota.
"Esqueça esse cara... Marta deve estar lhe fazendo favores de uma prostituta profissional", me respondi cruelmente.
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Os Cinco (EM REVISÃO)
PertualanganQuando se é jovem, sempre se busca uma nova aventura, um novo caminho a seguir. Uma forma de ousar, de seguir em frente de forma diferente. De formar sua gangue de amigos queridos e compartilhar entre eles seus sonhos, medos e desejos futuros... Mas...