Capítulo 4 - Ricardo

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Eu estacionei aquele primor de carro com a maior destreza e cuidado possíveis. Acontecesse o que acontecesse, não poderia deixar nada fora do lugar, nenhum arranhão se quer na lataria... Tudo precisava sair perfeito, não apenas em relação ao carro e minha boa relação com o pai da minha namorada, mas também com relação ao plano e suas eventuais falhas.

Pelo visto, tudo sairia com perfeição. Não teria problemas de pôr tudo em prática.

Então, no fim, só uma coisa me incomodava afinal... Aquela gravidez mal explicada de não sei quem... E o visível incômodo de Ju ao comentar sobre essa história.

Me lembro de suas mãos trêmulas quando Ju me ajudou com aquele nó diabólico de gravata... Ela foi me contando tudo e eu fui ouvindo sem acreditar muito no que ouvia. Eu me lembro do dia em que tia Ivone, mãe da Ju, me disse no dia que nós cinco fomos pra Fernando de Noronha que ela estava ficando velha e a menopausa estava cada vez mais perto. Será possível que dois anos depois daquelas férias, o ciclo ovulatório dela ainda estivesse a pleno vapor...?

Quando sai do carro olhei para a frente e avistei aquela paisagem de celebração caprichada. E tive uma pontada de culpa porque poderíamos estragar tudo aquilo apenas pra pôr pra fora todas as sujeiras dos três... Valia a pena? E as pessoas que investiram capital, suor, lágrimas e muito trabalho duro pra que tudo desse certo?

Ao fundo, monumentais focos de luz tingiam o céu estrelado de espectros amarelados e avermelhados, mesas arredondadas com panos de seda brancos e arranjos de lírios no centro preenchiam o ambiente, no meio havia um grande piso negro emborrachado imitando um disco de vinil preparado para valsas e outras danças de fricote, preparado para a verdadeira discoteca, um palco mais ao fundo com um telão de LED reluzindo e reproduzindo mensagens motivacionais como "Parabéns pelo ano, os formandos da Escola de Santa Fé convidam a comunidade para o Baile da Última Dança"

E aí eu recebi um soco no peitoral e me retorci de dor.

-Alô, Terra chamado... Tá tudo bem com você Ri? - me perguntou Tadeu alinhando e esticando novamente seu terno.

-Tadeu, brother, como é que a gente vai transformar esse momento tão especial para a galera do bem numa inquisição pra galera do mal?

-Ri, cara, eu não sou seu amigo a toa... Eu te admiro porque mesmo que inconscientemente você sempre busque agradar a todo mundo, você sempre está nos unindo e nos liderando na luta pelo que é certo... O certo neste momento é provar pra todos que Gabriel e sua gangue nos tiraram a oportunidade de ir pra faculdade ano que vem... O seu senso de justiça falará mais alto porque o que nos une como um só, o que faz dos cinco nós mesmos, é você cara... Você é alma do nosso grupo!

O nosso abraço apertado foi sincero, Tadeu me entendia mais do que qualquer pessoa poderia me entender. Isso porque ele sempre foi o mais observador e o mais perspicaz... Ele antevia as situações e entendia a personalidade e os conflitos internos das pessoas...

E Etan surgiu por detrás de nós dois dando aquele salto de guepardo, se escorando em nossos ombros.

-Quer dizer que as moçoilas vão ficar nessa viadagem na frente da escola? Desse jeito vão achar que eu estou no meio disso... - Etan gritou querendo se fazer ouvir pelas garotas que se olhavam nos espelhos do retrovisor. E elas caíram na gargalhada.

-Eu te amo, teu babaca! - disse Paty se jogando para os braços abertos de Etan. Quando ele conseguiu agarrar ela no ar, os seus lábios se encontraram e o beijo se perdurou por um bom tempo enquanto os dois se acariciavam abraçados.

-Nem pense em agarrar tua amada neste momento... Não consigo aguentar os dois casais esfregando a sua felicidade na minha cara ao mesmo tempo... Tem que intercalar... - disse um Tadeu irritado com aquela expressão hilária dele.

Todos caímos na gargalhada e Julia veio correndo quase tropeçando nos saltos dar um abraço em Tadeu:

-Tadeu, pode ficar tranquilo... Eu e o Ricardo só nos pegamos em casa... São esses dois foguentos aí que ficam fazendo cena no meio da rua... - ela disse com um dos braços ainda em volta de Tadeu olhando torto para Etan e Paty ainda colados um no outro... Um emaranhado de membros desconcertantes. Eles eram uns putos safados que viviam se agarrando pelos cantos.

-Nós somos mais discretos Tadeu, você sabe disso... - eu disse me aproximando mais de Julia, me aconchegando em seus ombros e ela me dando um beijo fofo nos cabelos desarrumados.

O nosso momento era aquele, aquilo era os cinco que nós sempre fomos e queríamos ser... Cada um com seu jeitinho, todo mundo diferente, cada um se completando e se ajudando, de mãos dadas e confraternizando. Zoando, principalmente. Foi quando o celular de Ju vibrou e caiu no asfalto ainda quente.

Eu me abaixei e peguei o aparelho. Na tela, haviam duas notificações de mensagens não lidas.

As duas mensagens eram de Gabriel.

Os Cinco (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora