CAPÍTULO 9

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A segunda feira amanheceu com o sol entre nuvens, mas estava quente, e Charlotte se levantou da cama de bom humor.
Estava na mansão do tio, onde os Novas Espécies a deixaram no domingo, lhe dizendo que não seria seguro que ela ficasse no seu apartamento. Charlotte concordou, tinha se levantado da cama se sentindo desanimada, torcendo para que o helicóptero não demorasse a chegar para a levar dali. E então chegou no domingo na casa de seu tio e descobriu que ele não estava. O dia se arrastou com ela assistindo tv e tentando não pensar em Hunter para variar.
Ela desceu a escadaria imponente e viu que seu tio a esperava no vestíbulo.
"Minha querida! Está bem? Eu nem sei o que te dizer!" O tio parecia nervoso, coisa que Charlotte nunca imaginou que  veria acontecer.
"Eu estou bem, tio. Estou faminta, podemos conversar enquanto tomamos café?" Charlotte disse se encaminhando a sala de jantar.
"Charlotte..." O tio foi dizendo, andando atrás dela. Assim que Charlotte entrou na sala de jantar, ela estacou.
" Bom dia!" Vengeance a saudou sorrindo, mas os olhos de Charlotte, é claro, se fixaram em Hunter que comia silenciosamente, os olhos baixos.
"O que vocês estão fazendo aqui?" A voz dela saiu meio estridente, mas ela não se importou.
"Viemos fazer sua segurança. Mas não se preocupe, que nem vai notar que estamos aqui." Torrent respondeu por Vengeance, e só então, ao ouví-lo é que Charlotte o viu, também sentado na mesa.
"Eu não preciso de segurança. Obrigada, mas podem voltar. O helicóptero ainda está aí?" Ela ergueu o queixo e disse olhando para Vengeance.
"Isso não está em discussão, Charlotte. Eles te colocaram em perigo, eles arriscaram sua vida, pelas minhas costas! Aquele rapazinho metido me chantageou! Agora, farão a sua segurança!" O tio estava transtornado. Charlotte nunca o viu levantar a voz ou se alterar.
"Tio..." Talvez ela pudesse conversar com Vengeance, pois não queria ter que passar nenhum momento na companhia de Hunter.
"Já disse, Charlotte! Ou aceita meus termos ou volte para a fazenda!" Ele saiu da sala todo empertigado.
"E eu pensando que os homens humanos eram frouxos! Tio Francis pode até ensinar uma coisa ou duas sobre autoridade para Slade." Torrent disse entre as garfadas de carne que ia enfiando na boca.
"Tio Francis?" Que falta de respeito! Quem aquele Nova Espécie pensava que era?
" Ele visitou o terreno em que estamos construindo o zoológico, na ocasião, disse que poderíamos chamá-lo de Tio Francis." Ele deu de ombros.
Charlotte ergueu as sobrancelhas. Nunca imaginou o tio sugerindo esse tipo de coisa.
"Acho que ele estava se referindo aos filhotes pequenos quando disse isto, Torrent." Vengeance disse.
O Nova Espécie passou a mão por seu cabelo negro comprido e disse olhando lascivamente para Charlotte.
" Eu sei." E encheu a boca de carne.
" Bom, seu tio ficará em casa hoje, então estarei na biblioteca." Vengeance disse se levantando da mesa com seu prato, garfo e copo na mão. Quando se virou Mary estava a sua frente.
" Pode deixar, senhor Vengeance, depois nós retiraremos os utensílios." A mulher disse olhando para o chão. Charlotte bufou. Mais uma apaixonada por ele.
" Obrigado, mas eu estou indo na direção da cozinha, não me custa nada lavar o que sujei." Ele disse enquanto sorria fazendo a mulher ficar vermelha como uma beterraba. Ele saiu da sala.
" Com licença." Mary disse e saiu atrás.
"Quem é esse macho, e o que ele fez com seu pai?" Torrent perguntou para Hunter rindo.
"Depois de ser chutado por Mariah, ele parece estar relutando a voltar ao celibato. Mas eu, em seu lugar, não estaria rindo, Torrent. As mulheres se atiravam aos pés do meu pai antes, quando ele não fazia nenhum esforço para ser simpático, agora, nenhuma delas vai perceber que você existe."
Torrent se recostou na cadeira, totalmente a vontade. Se perguntassem a Charlotte, ela diria que o achava um folgado.
"Talvez eu esteja interessado em alguém que já sabe que eu existo." Disse olhando para Charlotte. Ela olhou para o prato. Não tinha comido nada. Seu estômago estava cheio de borboletas.
"Certo. Bom dia para vocês. Vou trabalhar." Ela se levantou. Hunter também ficou de pé.
" Vamos, então. Torrent, não se esqueça de atenção redobrada na seção norte. Lá é o ponto mais vulnerável."
"Eu patrulho a Reserva desde antes de você saber pra que o seu pau servia, filhote. Você está aqui pra cuidar de Charlie, foque nisso."
A frieza na voz dele a surpreendeu. Novas Espécies eram voláteis, ela sempre esquecia isso.
"Peraí! Quer dizer que você vai fazer a minha segurança? Por que justamente você?"
Torrent abriu a boca para responder, mas um rosnado baixo ameaçador vibrou nos lábios de Hunter.
"Se não quiser que eu vá, posso ficar com seu tio e meu pai vai com você, não me importo." Ele disse sério, a carranca o transformando numa cópia do Vengeance de antes.
Charlotte olhou para as mãos. Passar o dia com Hunter atrás dela, seria inquietante, mas  seria também excitante. E eles poderiam conversar, se conhecerem melhor. Ela ergueu os olhos e o encarou. A expressão dele era fria e desinteressada.
"Eu prefiro Vengeance, então. Diga que o estou esperando no carro." Ela disse saindo da sala, numa imitação pobre da imponência de seu tio.
"Gostei dessa fêmea." Ela ouviu Torrent dizer.
Chegando na garagem, ela se lembrou que não tinha conversado com o tio sobre usar um dos carros dele, ou se tinha de ligar e pedir um táxi. Ia voltando quando o motorista de seu tio a abordou.
" Pronta, senhorita Delacour? Seu tio disse que eu deveria levá-la a fábrica, e ficar a sua disposição."
Uma das coisas que tinha feito Charlotte não querer morar na mansão do tio, era a mania dele de controlar todos os passos dela. Não era muito diferente de morar com seus pais. E agora, graças a Hunter, ela estava debaixo da proteção do tio. Droga!
Vengeance apareceu e parou silenciosamente ao lado de Charlotte esperando ela entrar na limosine. Sem outra alternativa, ela entrou, mas sem conseguir reprimir um suspiro.
A viagem até a fábrica, foi feita em silêncio. Charlotte era comunicativa e tagarela, mas a presença silenciosa de Vengeance era confortável, e Charlotte também ficou em silêncio.
Na fábrica, em sua pequena sala, porém, a manhã foi tumultuada.
Parecia que todas as mulheres do setor de criação de uma hora para a outra descobriram o quanto a opinião Charlotte era importante. De minuto em minuto, alguma das funcionárias apareciam em sua sala, precisando discutir ou perguntar algo para ela.
E Vengeance não estava ajudando. Cada mulher que entrava na sala de Charlotte era presenteada com um sorriso deslumbrante enquanto ele se apresentava e trocava algumas palavras com elas. Uma delas, mais atirada, chegou a convidá-lo para almoçar. Charlotte ficou pasma, quando ele aceitou e ainda disse que seria um prazer.
Faltando alguns minutos para o horário do almoço um Hunter mal humorado entrou na sala de Charlotte.
"Peter, obrigado por vir, filhote. Bom almoço para vocês, Shirley já deve estar me esperando." Vengeance disse e saiu, antes que Charlotte pudesse dizer alguma coisa.
Ela olhou a porta se fechar, sem ainda saber o que dizer.
"Vamos?" Ele disse, abrindo a porta de novo.
Charlotte se levantou. Talvez eles pudessem conversar sobre essa situação em que estavam vivendo.
"Hunter, por que veio fazer minha segurança, se você parece querer estar em qualquer lugar, menos perto de mim?"
Ele cruzou os braços e um sorriso cansado se desenhou nos lábios dele.
"Eu devo te manter segura, Charlotte, já que fui eu quem te pôs em perigo. Mas eu não sei como podemos conviver, pois eu te desejo tanto, mesmo sabendo que você não gosta de mim." Ele disse, se aproximando.
Quando estavam frente a frente, ele tocou o rosto dela com a ponta do indicador, traçando suas sobrancelhas, passando pela ponta do nariz e terminando sobre os lábios.
"Eu não disse que não gosto de você, só que..." Charlotte quase disse que estava apaixonada por ele. Deveria dizer?
" Só que também não disse que gosta." Ele completou." Certo. Vamos tentar nos dar bem, então? Tentar ser amigos? Ou só conhecidos que precisam passar um tempo morando na mesma casa, que tal?"
Ela apenas balançou a cabeça aceitando.
"Então, vamos logo. A cozinheira do seu tio é incrível! Eu passei na cozinha antes de vir, o cheiro estava maravilhoso." Ele sorriu.
No carro, enquanto sentia o calor do corpo dele sentado ao lado dela, Charlotte pensou que talvez fosse a hora de deixar de ter medo de expor seus sentimentos. Por duas vezes, Hunter tinha dito que gostava dela. Talvez fosse hora de esquecer o passado e mostrar que ela também gostava dele.




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