CAPÍTULO 41

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Enquanto fazia sua mala, Peter tentava ignorar a dor que rasgava seu peito. O quarto, a decoração feminina que kit imprimiu ali, e seu pai não mexeu. As cortinas floridas, a poltrona delicada que não comportava a bunda de Silent, as plantinhas pequenas em vasinhos dourados pendurados na parede.
Quando foi dormir ali e disse que mudaria algumas coisas, seu pai rosnou e disse que não. Ele não estava brincando, seu olhar fez medo puro brotar em Peter. E agora cada coisa dali faria falta para ele.
Mas, isso era ser macho. Deixar para trás as coisas que o identificavam como filhote. Tomar decisões pensando na felicidade de sua fêmea. Ele fechou a mala e saiu do quarto.
Seu pai estava na cozinha, lavando a louça da refeição que eles tinham acabado de fazer. Nunca a comida dele teve um gosto tão ruim. E Peter sabia que nada que ele comesse longe dali seria tão bom.
"Pai." Ele continuou de costas. Não havia mais louça dentro do bojo da pia, ele lavava a própria pia.
"Vá." O que ele queria? Um abraço? Provavelmente se o abraçasse não o soltaria.
Então, ele saiu, fechando a porta levemente. A varanda, com as plantas e as cadeiras que os dois sentavam quase toda a tarde, lhe parecia outro lugar. Isso era bom. Talvez já estivesse aprendendo a deixar tudo pra trás.
Jogou a mala no banco de trás do jipe, se sentou no volante, deu uma última olhada na cabana e pôs o veículo em movimento.
No heliporto, o helicóptero do tio Francis já estava a postos.
Amber já estava sentada lá dentro com cara de poucos amigos. Ela não deu certo com Honor. Ele era tímido, ela uma idiota. O ignorou completamente e deu em cima dos machos adultos. Como nenhum quis nada com ela, ela jogou a frustração em todos, ficando insuportável de aturar.
Charlie tentou pedir o tio para mandá-la embora, mas a sugestão de Pride foi muito forte nele, ele nem pareceu ouví-la.
Mary estava de mãos dadas com Joe, os dois com cara de enterro. Mas ele era uma criança ainda, e Mary tinha família pra sustentar, não podia deixar o emprego, seus pais eram idosos e ela também tinha um irmão mais novo. Até James estava triste por eles, provando que o gêmeo malvado pelo menos gostava de seu irmão.
James não o olhou quando chegou. No episódio da luta com Pride, quando Peter perguntou por que foi Joe e não ele que o ajudou, ele deu de ombros e disse que se Peter estivesse todo quebrado ele não iria embora, e Talvez visse que estava trocando uma buceta pela amizade deles.
Era um ponto, Peter teve que concordar.
Daisy e Violet estavam abraçadas a senhora Melvis e chiavam para quem se aproximava. A gorda senhora tinha os olhos vermelhos e não sabia o que fazer.
Valiant não estava presente. O grandalhão também caiu de amores por ela. Peter entendia. Novas Espécies não tiveram mães. Qualquer tratamento semelhante ao de mãe que recebiam os fazia se apegar. E para Novas Espécies uma senhora que cozinhava comidas deliciosas, durona e briguenta, além de robusta e bonita, era a mãe perfeita.
Tio Francis e Joel estavam parados, hesitantes em entrar. Miracle segurava a mão do tio Francis e parecia triste. Sunny estava segurando a mão de Joel. Depois que o homem lhe deu dinheiro, Sunny decidiu que ele era seu amigo.
Charlie conversava tranquilamente com Amy, parecendo ansiosa para irem embora. Peter também queria acabar com aquilo logo.
Ele parou perto do helicóptero.
"Eu vou sentir saudades de todos. Voltaremos sempre que der. " Seu pai diria algo assim, ele pensou enquanto ajudava Charlotte a subir no helicóptero.
Os machos o olharam confusos, Harley chegou a abrir a boca pra dizer alguma coisa, mas percebendo que seria melhor assim, fechou.
Brass se aproximou.
"Tenha cuidado. Não ande sozinho a noite. Se precisar de carne, ligue e mandaremos. Vou ficar de olho no seu pai." Peter balançou a cabeça. Não era possível falar, sem começar a chorar.
Silent, por outro lado, estava chorando. Era esperado, mas mesmo assim foi duro de ver. Ele não se aproximou. Continuou onde estava abraçado a Emma. Ela também estava triste, mas não chorava. Na verdade em seus olhos havia uma pontinha de raiva. Peter a encarou com toda a ternura que pôde. Ela lhe sorriu, um sorriso cansado. Não seria fácil pra ela consolar Silent e Vengeance.
Os próximos a entrarem foram o tio Francis e Joel. Miracle soltou o tio e se jogou no colo do pai. Ele não chorou, mas se agarrou a Harley com força. Sunny pulou dentro do helicóptero, abraçou e cheirou Joel e o tio Francis e parou a frente da poltrona de Peter.
"Adeus, amigão. Não vou demorar a voltar, tá bom?" Peter disse baixinho, lutando contra a vontade de saltar daquele maldito helicóptero.
"Idiota!" Ele disse e pulou. Peter ficou olhando ele abraçar Emma, colocando o rosto contra o ventre dela. Emma alisou os cabelos claros dele, falando alguma coisa.
Mary e a senhora Melvis foram as próximas. Daisy e Violet choravam abraçadas a Joe que tinha os olhos vermelhos. Tammy estava parada, sem saber como consolar as filhas.
Pride estava calado, meio distante. Peter sentiu a vontade de pedir para ele fazê-lo dormir, só acordando quando estivessem em Nova York. Mas não faria diferença. Seu pai não estaria lá quando ele acordasse.
Slade, parecendo triste, também veio se despedir.
"Se precisar do helicóptero, apenas ligue. " Ele disse baixinho. Era bom saber. Charlotte o olhou. Ele fez força para sorrir. Conseguiu algo entre franzir os lábios e mostrar os dentes. A aeronave levantou vôo. Seriam horas até chegarem, Peter abraçou Charlotte oferecendo o ombro. Ela descansou a cabeça e fechou os olhos.
Todo o trajeto até o famoso apartamento foi cansativo, Peter nem parecia Nova Espécie. Finalmente eles entraram na portaria do prédio luxuoso.
No elevador, Peter suspirou. Sua nova vida ao lado da mulher que amava começava agora. Ela sorriu para ele, devia estar pensando o mesmo.
No apartamento, Peter se sentiu meio deslocado em meio ao luxo da decoração. Ele estranhou, pensou que seria um lugar simples.
"Já estava decorado, eu fiquei com preguiça de redecorar. Sem falar que seria caro e meu tio já estava gastando muito em me deixar morar aqui." Ela justificou.
Ele se virou e a mochila em suas costas bateu numa peça delicada de cristal, a fazendo cair e se partir em milhares de pedacinhos.
"Me desculpe, Charlie." Ele disse arregalando os olhos. A porcaria parecia cara.
"Tudo bem. Eu vou tirar um pouco desses enfeites e guardar. Você é grande, vai demorar para aprender a se movimentar entre tantos móveis."
Ele acenou. Era uma sala meio atulhada de coisas, na opinião dele. Havia sofás, no plural, e cadeiras, também no plural. Eles não precisavam de tantos lugares para sentar, eram apenas duas pessoas.
"Onde fica o quarto?" Ele queria desfazer sua mala e se enterrar dentro dela. Só assim iria se sentir bem ali.
Ela foi andando e ele a seguiu. Passaram por um corredor com portas dos dois lados, até que ela abriu uma delas. Era um quarto incrível, bonito, aconchegante. Ela continuou andando, atravessou o quarto e abriu uma porta, revelando um closet enorme. Daí ela continuou até outra porta.
"Aqui é o banheiro. Eu quero tomar um banho enquanto você desfaz sua mala, tudo bem?" A voz dela estava meio impessoal.
"Sim, claro." Peter respondeu.
Ele pensou em perguntar se podia tomar banho com ela, como faziam na cabana, mas algo na voz dela o deteve.
Ele desfez a mala, pendurando suas poucas roupas num canto do guarda roupa lotado com as roupas dela. Quando morava com Gabriel, adorava ir às compras. Ele se lembrou de todas as tralhas que ficaram na casa do médico. Bonés, calças, cintos, tênis, camisas e camisetas, casacos e jaquetas. Ele olhou as poucas roupas que tinha agora. Talvez ele e Charlie pudessem ir a algum dos vários shoppings famosos de Nova York. Seria divertido.
O barulho do chuveiro parou e ele sentiu a onda de excitação correr por seu corpo. Sim. Foi por isso que veio, por ela. Tudo pareceria melhor depois de fazer amor loucamente.
"Podemos pedir pizza, você está com fome?" Ela disse. A toalha estava firmemente presa debaixo de seu braço.
Ele a encarou sabendo que ela veria o tipo de fome que o afligia.
Ela se virou e começou a se vestir. Colocou uma calcinha preta e uma camisola de algodão branca simples.
"Pode tomar banho, vou pedir a pizza." Ela falou, saindo do closet.
Peter tirou a roupa e entrou no banheiro. Uma banheira enorme estava a um lado. Ele pensou na delícia que seria quando estivessem dentro daquela banheira, mergulhados em água quente. Mas isso não seria hoje, ele suspirou.
Ligou o chuveiro, deixando a água fervente lhe lavar os músculos cansados. Ele fechou os olhos. Não tinha vontade de comer pizza, queria a comida ruim de seu pai.

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