CAPÍTULO 15

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A limosine ia devagar pelo trajeto de sempre. Charlotte suspirou e fechou os olhos. Hunter tinha chegado na hora 'h'. Será que Torrent a atacaria? Amy lhe contou cada detalhe da sua história com Harley. Tinha sido meio perigoso, mas muito romântico. Mas o olhar no rosto de Torrent antes de Hunter aparecer era quase assassino. Ele teria coragem de machucá-la?
A limosine parou e ela abriu os olhos, já tinham chegado?
"Senhorita Delacour, estamos cercados. Mas não se desespere, o vidro é a prova de balas, e eu tenho uma arma aqui. Chame Hunter."
A voz calma de Joel, o motorista, a condicionou a respirar fundo e não gritar. De nada adiantaria se descabelar. Ela olhou e viu que estavam numa rua a poucas quadras da entrada do condomínio. Duas SUVs, uma na frente e outra atrás da limosine impediam Joel.
Ela tocou no número de Hunter no celular, e ficou olhando para todos os lados, esperando ele atender.
"Charlie? Onde Joel se meteu? Estou ligando pra ele, o táxi o perdeu numa curva, onde vocês estão?" A voz de Hunter estava calma. Bom. Ele a acharia.
" Estamos numa rua próxima ao condomínio, mas estamos cercados." Ela ia procurar o nome da rua, mas dois homens saindo da SUV da frente e mais três que saíram da de trás, a fizeram arfar de medo.
"Não perca a calma, estamos chegando. Eu posso ouvir seu coração, não estamos longe." Enquanto ele falava ela podia ouvir Torrent falando alguma coisa ao fundo, devia estar chamando Vengeance.
Um barulho seguido da limosine ser sacudida e quase virada fez o celular na mão dela cair. Ela olhou a direita e viu que um dos homens tinha dado um murro no vidro da janela.
Joel destravou a arma.
"Calma, Charlie, se ele entrar aqui vou cuspir fogo nesse filho da puta."
Outro soco, mais forte ainda que o primeiro trincou o vidro. Charlotte pensou que a limosine ia aguentar. Hunter já estava chegando, ele ia matar todos aqueles idiotas.
Mas um dos caras puxou a porta e a arrancou. Joel abriu sua porta disparou no homem, que caiu numa poça de sangue.
Mas eles eram muitos. Outro fez menção de pegar Charlotte pela porta arrancada, e quando Joel atirou nele, outro o alvejou. Joel caiu pra trás, no assento da limosine, crivado de balas.
Enquanto o homem a agarrava pelos cabelos, Charlotte olhou o homem mais velho fechar os olhos. Ele num último suspiro disse o que todos sempre souberam:
"Francis..."
E Charlotte foi jogada na SUV. Eles arrancaram cantando pneus. Charlotte estava em choque, ela não tinha voz, ela não conseguia gritar ou lutar. Era como se estivesse presa em seu corpo, impotente, paralisada.
Mas uma sacudida no veículo, a trouxe de volta. Algo tinha aterrizado no teto do carro.
Uma mão apareceu do nada no teto do SUV, ela não estava raciocinando direito, parecia que uma mão tinha brotado no teto! Charlotte olhou abismada essa mão puxar a lataria do teto como se estivesse abrindo uma caixa de papel. Um homem que estava do lado do motorista atirou contra o buraco, mas quem quer que fosse que estava rasgando o carro continuou.
E logo Torrent estava dentro do carro, torcendo o pescoço do homem que atirou e apontando uma arma na nuca do que estava dirigindo.
O motorista parou, e Torrent atirou mesmo assim. Charlotte se encolheu no banco.
"Calma, Charlie. Está tudo bem. Acabou, nós vamos pra casa, tá bom?"
Mas Charlotte só conseguia ver os olhos de Joel quando disse o nome de seu tio e morreu. Os olhos dele eram escuros. Joel era um homem bonito, gentil e prestativo. Ele já devia ter uns sessenta anos, mas não aparentava a idade.
A mão ensanguentada de Torrent a tocou no rosto. Ele tinha marcas de bala no ombro e no braço.
"Vamos, querida, vamos sair daqui." Ela só conseguiu balançar a cabeça e soltou as pernas. Torrent saiu e abriu a porta para ela sair, mas como não encontrou forças nas pernas, ele a pegou no colo.
Charlotte escondeu o rosto no pescoço dele. Como, depois de tanta ação, ele ainda cheirava bem?
Mas ele só deu dois passos e parou. Um rosnado vibrou no peito dele e Charlotte virou a cabeça para ver o que o tinha feito parar.
Um homem segurava um revólver contra a cabeça de Sheyla. Seus olhos estavam arregalados, e sua face  vermelha era o sinal de que tinha levado uma bofetada.
Torrent rosnou alto.
"Você vai morrer por ter tocado nela. Se a soltar agora te mato rápido com o mínimo de dor. Se não, vou mastigar cada membro seu enquanto você observa gritando como o maricas que você é."
"Eu vou atirar." A voz do homem mostrava o medo que as palavras de Torrent despertaram nele.
"Sim, você vai matá-la. E vai levar muito tempo para morrer. Dias. E não será só você, será todos aqueles que tiveram o azar de se envolver com um merda como você. Mulher, criança, não importa pra mim. Vou arrancar sua pálpebras, cortar o seu pau, todos os seus dedos, te amarrar de cabeça pra baixo, e cortar membro a membro daqueles que você ama. Mate-a, e sofra. Ou a deixe ir e você terá uma morte rápida. Não vou falar de novo." Torrent colocou Charlotte sobre seus pés e deu um passo. Ela olhou para trás e viu Vengeance e Hunter correndo na direção deles. O alívio a inundou, eles viraram o jogo, a salvaram mais uma vez.
Mas Sheyla pegou a arma do homem e apontou para a própria cabeça. Torrent rosnou alto, fechou os punhos e se abaixou em posição de combate.
"O que acontece se for eu que puxar o gatilho?" Ela sorriu. Charlotte quis rir, ela devia ser louca, que tipo de ameaça era aquela?
"Pegue Charlie. Me lembro de você me dizer para te chamar assim." Ela sorriu. A face tímida não existia mais. Os olhos verdes que encaravam Charlotte não eram doces e hesitantes, mas frios e calculistas.
"Eu..." Torrent olhou para Charlotte. Vengeance e Hunter vinham, mas ele chegou primeiro e pegou Charlotte pelo pescoço.
"Torrent!" Hunter gritou.
"Se soltá-la, eu explodo meus miolos. Pode conviver com isso?" Sheyla disse. Charlotte arregalou os olhos, quando Torrent começou a apertar seu pescoço.
Ela não entendia o que estava acontecendo. Porque Torrent tinha obedecido?
Vengeance e Hunter rosnaram.
"Torrent, sei o que está acontecendo. Não é real. Ela não é sua companheira vinculada. Deixe que ela exploda a porra dos miolos e solte Charlie."
Torrent rosnou e apertou o pescoço de Charlotte mais um pouco. Manchas pretas começaram a aparecer na visão dela. Tiros foram ouvidos, mas ela não sabia quem atirava em quem.
Só deslizou pela nuvem negra do esquecimento, grata por ter uma pausa em todo aquele terror.

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