CAPÍTULO 32

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Charlotte ficou olhando o sol nascer pela janela por onde Peter saiu. Ela levantou correndo da cama quando ele saiu, mas ele já tinha sumido quando chegou a janela. Eles eram rápidos.
Agora ela tentava não se sentir rejeitada, por ele ter saído correndo dizendo que se sentia oprimido. Ela não podia se deixar abalar por isso.
"Café?" Vengeance entrou no quarto e se postou a janela ao seu lado e lhe entregou uma xícara fumegante.
"Peter corre quando se sente estressado. É nossa herança animal, Charlotte, não pense que ele quer ficar longe de você. Ninguém é mais importante que você para ele." Vengeance cruzou os braços.
Charlotte não o olhou com cobiça quando ele veio socorrer Peter apenas de cueca, mas ela não pôde deixar de notar o quanto ele era forte. Peter não era tão forte, o que a fazia pensar que ele ainda era muito novo. Quando o tempo passasse, ele continuaria a amando?
As palavras de Sheyla para Fiona ficaram gravadas em sua mente: 'Como ele estará daqui a vinte anos?'
"Quantos anos você tem, Vengeance?" Pela aparência, ela daria a ele uns trinta anos, no máximo, trinta e cinco. Mas ela sabia que ele devia ter mais.
"Algo entre trinta e cinco e quarenta. Peter vai fazer vinte anos, eu não poderia ter menos de quinze, quando ele nasceu. Pensávamos que éramos mais velhos, a maioria de nós não tinha como contar o tempo nas instalações, não havia dia ou noite lá, muitas delas eram subterrâneas . Silent deve ser pelo menos cinco anos mais velho." Ele disse.
"É estranho pensar que sou mais velha que ele." Ela pensou alto.
"Nós amadurecemos mais rápido. É claro que Peter, como nós, não teve infância. Os outros filhotes da segunda geração, como são amados e têm uma família estruturada, não sentem necessidade de amadurecer tão rápido, ainda que seus corpos e mentes os obriguem a isso. Veja o leãozinho, por exemplo." Ele sorriu.
"Quem?" Ela perguntou. Esse ela não conhecia.
"Simple." Ele sorriu. Charlotte engoliu em seco. Cortar os cabelos o deixou mais bonito!
"Ele, Candid e Honest, tem a mesma idade, mas enquanto Candid e Honest são filhotes normais, ainda que com o tamanho e inteligência de crianças mais velhas, Simple é um macho num corpo de filhote. Ele até tenta aproveitar a infância, mas sua mente é evoluída demais. Eu tenho pena dele." Vengeance disse baixinho. Charlotte também sentiu pena pelo 'leaozinho'. Seu tio o chamou de rapazinho, Francis Delacour sabia das coisas.
Charlotte ia perguntar se Vengeance a levaria ao hospital, quando algo grande e loiro passou pela janela entre ela e Vengeance.
"Vovô!" O algo grande era uma criança de uns quatro anos, com lindos cabelos loiros, um olho castanho e outro azul. Ele era uma miniatura de Silent, só podia ser Sunny.
"Sunny!" Vengeance se ajoelhou e o abraçou. Foi uma imagem tocante ver o homem grande agarrado ao menino de olhos fechados. Ele o cheirou, da cabeça ao pescoço, o menino fez o mesmo. Vengeance beijou a testa dele e Sunny sorriu.
"Comida!" Vengeance começou a rir. Mas Charlotte percebeu o olhar meio úmido dele. Eles eram caninos. Até onde essa herança os afetava? A mãe de Charlotte teve duas cadelinhas que ela criou desde que eram filhotinhas, quando uma morreu, a outra logo morreu também. Sua mãe disse que isso aconteceu por que elas eram muito apegadas uma a outra. Quando Peter lhe falou que ele e Vengeance ficariam, ela viu o quanto ele sofreria se Vengeance não ficasse.
Vengeance levou Sunny pra cozinha e colocou um grande bife na frigideira.
Sunny deu um salto e se sentou no balcão.
"Ele é tão ágil!" Ele olhou para ela com seus olhinhos diferentes muito sério.
"Sensacional." Ele disse.
Charlotte e Vengeance começaram a rir.
"Isso mesmo, Sunny é sensacional." O garoto balançou a cabeça pra cima e pra baixo.
"Silent foi um dos primeiros, feitos de maneira diferente da nossa. São uma mistura de genes, fortes como os felinos, ágeis como os primatas e charmosos como os caninos."
Charlotte riu. Seria bom morar com Vengeance.
"Por que então, fizeram vocês de outra forma?" Parecia que sempre havia algo a saber sobre eles. Charlotte entendia agora a fascinação de sua tia pelos Novas Espécies.
"Mais barato. Todos os caninos, assim como felinos e primatas, compartilham o mesmo DNA. Produzir três classes de embriões, é mais fácil, do que criar um embrião por vez. Eles tentaram fazer clones, mas nenhuma mulher ou clone sobreviveu. Sunny é o único."
Sunny sorriu. Charlotte teve a estranha impressão de que ele estava entendendo cada palavra do que Vengeance dizia.
"Comida!" Ele pediu e Vengeance colocou um bife enorme no balcão onde ele estava sentado. Sunny passou para uma cadeira e começou a comer.
"Está gostoso?" Charlotte perguntou.
"Não." Ele disse de boca cheia.
Charlotte ainda ria, quando seu tio entrou pela porta aberta, vestido com o característico conjunto de moletom dos Novas Espécies.
"Querida! Tudo bem?" Ele lhe deu um beijo na bochecha.
"Tiofrancis!" Sunny disse e sorriu.
"Olá, rapazinho, você cresceu. Daqui a pouco estará tão grande quanto seu pai."
"Sensacional!" O tio riu.
"Quero que você conheça meu amigo Joel. Joel, esse é Sunny."
O garoto desceu do banco e estendeu a mãozinha para Joel.
"Prazer em conhecê-lo, rapazinho." Ele voltou ao banco e continuou comendo.
"Vengeance, essa carne parece boa. Depois de todo prejuízo que vocês me deram é justo comer da sua carne."
Vengeance o serviu. Charlotte olhou preocupada ele comer todo o bife. Ela olhou interrogativamente para Vengeance que deu de ombros.
"Meu Deus, homem, que carne mal cozida! Onde estão Mary e Amber?"
Charlotte olhou para o tio.
"Tio Francis, não se lembra? Elas não vieram."
O senhor idoso olhou para o amigo.
"Você disse que elas estavam aqui." Joel abriu a boca para responder, mas o tio fez um sinal o calando.
Ele tirou um celular do bolso e discou um número.
"Perkins? Onde você está? Ótimo, que bom que ainda está aqui na Reserva. Vá buscar Amber, Mary e a senhora Melvis, por favor."
Charlotte olhou para Joel, mas ele deu de ombros, ainda que eles fossem mais que amigos, seu tio não era alguém fácil de manobrar.
"Joel não paga seu salário! Se até de tarde elas não estiverem aqui, comece a preparar seu currículo, e não conte com uma carta de recomendação." O tio começou a se alterar.
"Tio, acalme-se, por favor. O que acha de irmos na casa de Amy?" O tio continuou ao telefone.
"Certo. Então amanhã, eu quero as três aqui, bom dia."
Ele desligou o celular.
"Perkins está ficando velho, Joel. Ele disse que hoje ele não estava se sentindo bem. Coitadinhas das meninas, vão ter que aguardar até amanhã."
Ele discou outro número no celular.
"Mary? Querida, estou ligando para avisar que Perkins estará aí de manhã. Você, Amber e Melvis estejam prontas."
Ele ficou ouvindo e Charlotte pensou se não deveria tomar o celular da mão dele.
"Senhora Melvis, não sabe o quanto precisamos da senhora aqui! A carne que Vengeance prepara parece uma sola de sapato e o gosto é ainda pior! Eu pagarei a mais é claro." Ele ficou ouvindo.
"Sabia que podia contar com a senhora. Até amanhã."
O tio suspirou parecendo muito satisfeito consigo mesmo.
"Pronto, tudo resolvido. Amanhã, Melvis estará aqui e nos poupará de comer esse isopor que você chama de carne. Charlotte, você sugeriu irmos na casa de Amy?"
"Miracle!" Sunny disse.
"Sim! Que homenzinho esperto você é, Sunny. Vamos?" Ele deu a mão a Sunny e foi se dirigindo a porta.
"Eu levarei vocês."Vengeance disse.
"Espero que Amy tenha carne, sem ofender, Vengeance, mas sua comida é horrível."
"Horrível!" Sunny repetiu com uma carinha travessa. Ele era muito fofo!
Eles entraram no jipe. Sunny subiu no capô e se segurou no pára brisa.
Vengeance deu a partida, com seu tio e Joel rindo do menino.

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