CAPÍTULO 19

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Charlotte acordou e olhou uma aranha tecer sua teia no canto da parede. O tempo estava contra ela, quanto mais tempo ficasse ali, mais chance de eles se cansarem e decidirem matá-la. Sheyla dormia a sono solto. Charlotte descobriu que ela gostava de dormir. Tinha até perguntado se era por causa de sua situação, e ela tinha respondido que gostava de dormir e ficava muito mal humorada se a acordassem.
Charlotte tentou juntar em sua mente tudo o que sabia sobre aquela garota. Ela não era má, Charlotte sentia isso, mas ela tinha feito muitas coisas sérias. Ela tinha ajudado David. Amy poderia estar na cadeia, devido às coisas que Sheyla tinha feito. Mas quando Charlotte olhava nos olhos dela, Charlotte não conseguia ter raiva.
"Acordada tão cedo?" Sheyla perguntou.
"Quem é a dorminhoca e você. Eu cresci numa fazenda, sempre acordei cedo." Charlotte se sentou na cama.
"Eu adoro dormir, mas parece que alguém está agitado hoje." Ela disse tocando o estômago.
Sheyla era pequena e magra. Sua barriga era facilmente escondida se ela usasse uma blusa larga. Mas de camisola, a protuberância era nítida.
"De quanto tempo você está?" Era uma barriga bem pequena, como o bebê poderia já estar se mexendo?
"Pouco tempo. E ele não está se mexendo, mas me incomoda muito." Ela se deitou de lado." Max veio ontem, você já estava dormindo. O dia D do plano será amanhã."
Charlotte sentiu toda a calma a abandonar. As palavras de Sheyla a lembraram que ela estava cativa e a intenção de seu captor era matá-la.
"Mas você disse que falou pra ele que a substância não estava pronta!"
Ela fechou os olhos. Charlotte segurou a vontade de chorar.
"Sim, mas ele não é bobo. Torrent continua rosnando, atacando todos que chegam perto, e gritando que vai matar todos se não deixarem ele me ver."
Charlotte suspirou triste. Sheyla lhe disse que provavelmente Torrent tinha perdido a razão. Ele rosnava e uivava por horas sem parar e gritava chamando a 'fêmea'. Ele parecia tão louco, que tinha comido um pedaço da perna de um dos homens que ele matou dentro da cela.
"Eu disse que não vão conseguir transportá-lo. E Max foi atrás de tranquilizantes. A entrega está prevista para hoje."
Charlotte se levantou e começou a andar de um lado para outro no pequeno quarto.
"Não faça isso, Charlie, ficar te olhando ir de um lado para outro me faz querer vomitar."
Charlotte voltou a se deitar.
"Me fale sobre Vengeance." A outra pediu. Ela a olhava com uma expressão ansiosa no rosto.
"Vengeance é... Incrível! Ele é bondoso, leal, divertido! Eu estraguei um lance que ele estava tendo com Fiona. Eu fiquei muito mal por ter me metido." Charlotte se lembrou do rosto triste de Fiona, quando Vengeance a dispensou.
"Eu sei. Ela é minha amiga. Eu acho que também ajudei a melar o romance deles. Ela é muito insegura, e eu falei um monte de merda, do tipo: você vai ter sempre medo de que ele te troque por outra mais nova. Ou: ele não aparenta a idade, como estará daqui a vinte anos? Ela foi procurá-lo aquele dia para terminar."
Charlotte sentiu tanta raiva! Sheyla era uma vadia!
"Você é uma desgraçada invejosa! Como pôde fazer isso com Fiona?"
"Eu tinha uma missão, que era destruir os Novas Espécies. Fiona era uma boa amiga, mas eu nunca me deixei gostar de outra pessoa a ponto de me desviar do meu propósito."
Ela disse indo ao banheiro. O som do chuveiro se ouviu e Charlotte ficou pensativa.
Sheyla não era de confiança. Ela mesmo tinha lhe dito que não iria mais ajudar Max por causa da gravidez. Ela falou que sabia que o plano não daria certo, mas não disse por quê. Ela tinha dito que os Novas Espécies estavam vindo, mas não disse como ela sabia disso.
"E Peter? Você me falaria sobre ele?"
Ela disse quando saía do banheiro nua e começava a se vestir. Ela não tinha um pingo de vergonha de sua nudez. Charlotte não conseguiu evitar olhar o corpo magro, mas bem feito dela. Ela tinha músculos bem feitos, seu corpo era atlético, não havia uma grama de gordura em seus membros. O cabelo era negro e liso, enorme. Charlotte nunca tinha reparado em como o cabelo dela era comprido.
"Hunter é o cara mais enervante do mundo. Muito cheio de si, inteligente, irônico. Ele é o desgraçado mais bonito que eu já vi. E o pior é que ele sabe disso."
Sheyla riu.
"Porque você não o chama de Peter?"
Charlotte se lembrou de tentar chamá-lo de Peter, mas se sentia estranha.
"Eu tentei, mas era estranho, eu sempre o vi como Hunter. Ele então disse que eu podia continuar chamando-o de Hunter."
Sheyla vestiu um conjunto de moletom azul claro, bem surrado, sem vestir calcinha ou sutiã. Os seios dela, que Charlotte erroneamente achava pequenos,mas eram cheios e empinados, ficaram nítidos mesmo cobertos pelo moletom.
"O que foi?" Ela perguntou vendo que Charlotte olhava para seu busto.
"É que eu nunca tinha reparado em você. Você tem um corpo muito bonito e seios grandes. Como passou despercebida naquele prédio?"
Ela riu, seus olhos bonitos e grandes brilhando. Ela era mesmo linda.
"Eu sempre me escondi atrás de roupas largas e coques de vovó. Não era do meu interesse chamar atenção para a minha aparência." Ela deu de ombros e se sentou na cama, massageando a barriga.
"Amy te falou do desconforto?" Ela perguntou.
"Sim, mas a gravidez dela era..." Meu Deus! Charlotte arregalou os olhos.
Sheyla ergueu os olhos para ela e sorriu. Charlotte ficou olhando os dentes dela.
"Quem é o pai?" E as perguntas dela sobre Vengeance e 'Peter', ecoaram na cabeça de Charlotte. Hunter não dizia o nome dele para qualquer um. Como ela sabia que o nome dele era Peter?
"Como você sabia o nome de Hunter?" O estômago de Charlotte se retorceu, ela preferiu começar com uma pergunta genérica.
Sheyla começou a rir. As gargalhadas dela doeram nos ouvidos de Charlotte. Ela era má. Estava rindo porque era um absurdo seu bebê ser de Hunter? Ou porque Charlotte tinha demorado pra descobrir?
"Fiona me disse. Ela o chama de Peter, pois ele foi apresentado a ela por Vengeance que o chama de Peter. Sério que você pensou que o meu bebê era dele?"
O alívio foi tão grande que Charlotte nem fez questão de esconder.
"Se gosta tanto dele, por que vocês não estão morando juntos?"
"É complicado." Não era. Ele tinha a magoado e ela tinha sido idiota o suficiente para não perdoá-lo.
"Bom. Max vem vindo. Vamos mostrar pra ele o quanto nós duas nos amamos."
Charlotte sempre achava estranho como ela sempre sabia quando alguém se aproximava do quarto delas.
"Vagabunda! Você queria que Torrent comesse essa sua bunda magrela." Charlotte se divertia nessas horas.
"Você gosta de ser comida por animais, Charlie, eu não. Quem é a piranha então?"
Max entrou no quarto e elas se calaram. O coração de Charlotte sempre disparava quando o via. E depois do que Sheyla contou que o dia D seria no dia seguinte, ela começou a hiperventilar. Os olhos de Sheyla estavam frios, mas quando Max se virou ela ergueu as sobrancelhas e disse 'calma' com os lábios.
Ele andou pelo quarto em silêncio. E parou na frente da porta, cruzando os braços.
"Se serve de conforto, vocês conseguiram me enganar durante todo esse tempo."

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