CAPÍTULO 11

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Charlotte deixou seu olhar vagar pela paisagem que se descortinava de sua janela. A vista era muito bonita. Um bosque verde com árvores enormes a perder de vista. O bosque também pertenceria a seu tio? Ela se levantou de sua mesa e ficou ante a janela que tomava toda aquela parede. Estudar se provou impossível. Como se concentrar em organogramas, planilhas e gráficos quando o homem pelo qual ela tinha se apaixonado estava a poucos metros dela, em algum lugar daquela mansão? O pior nem era isso, pois saber que ele estava a poucos passos, de algum jeito era bom, a deixava feliz. O problema seria quando ele fosse embora. Os homens que eles capturaram se negaram a dizer qualquer coisa sobre o mandante, o tal de Max Hunter. Mas em algum momento falariam. E quando não houvesse mais a ameaça... Ele iria embora.
Charlotte balançou a cabeça desanimada. Morar em Nova York, ter um trabalho bacana, um apartamento bonito e estar na faculdade era o sonho de milhares de mulheres, ela inclusa. Agora, a algumas semanas de voltar às aulas, a vontade dela era largar tudo e ir morar com Hunter na Reserva.
Hunter, não. Peter. Era estranho, depois de todos os sonhos dela com ele, todas as noites em que se tocou tentando sentir o que sentiu quando ele a tocou em seu lugar mais íntimo, o nome que ela dizia quando gozava, não era o nome dele. Hunter, caçador, combinava muito com ele. Peter? Ela achava que não.
Tinha sido Hunter quem a perguntou com os olhos brilhando na penumbra do quarto naquele motel, naquela noite, se ela queria que ele a distraísse.
Tinha sido Hunter que se levantou da cama, coberto apenas com uma cueca box e a hipnotizou com a visão de seu corpo perfeito. Hunter se sentou na cama dela e atacou sua boca antes que Charlotte respondesse qualquer coisa.
Hunter tinha ficado beijando seus lábios durante vários minutos, como se a beijar fosse algo tão bom que ele poderia fazer apenas isso. Foi Hunter que tirou a blusa de moletom que ela vestia e ficou um longo momento olhando os seios dela, acariciando-os com o olhar, até que tocou um seio com a ponta dos dedos, devagar, circulando o mamilo teso, despertando em Charlotte sensações que ela nunca tinha sentido e que, ela sabia, nunca haveria outro que despertaria as mesmas sensações. E foi Hunter que sugou seus seios, que os mordeu, que lambeu, que soprou. Foi Hunter que a enlouqueceu. Foi Hunter que continuou descendo os lábios por seu corpo, foi Hunter que tirou a calça dela, sem que ela percebesse. Foi Hunter que abriu as pernas dela e a lambeu. Foram os dedos de Hunter que a penetraram enquanto ele mordiscava seu clitóris.
E foi o nome dele que ela gritou, quando o clímax veio.
E infelizmente, quando ele se levantou bruscamente da cama e foi ao banheiro, era o nome Hunter que apareceu naquela mensagem de James, no celular dele que estava sobre o criado mudo que havia entre as camas. Se ela pudesse voltar no tempo, não olharia. Não leria a mensagem naquele celular, onde James o lembrava que de manhã a estariam entregando a polícia. Que ele seria um canalha se continuasse fazendo o que eles estavam ouvindo que ele fazia.
Foi de Hunter que ela fugiu, quando vestiu a roupa, pegou as chaves do carro deles e saiu a toda pela estrada.
Agora chamá-lo de Peter era estranho, era como se o Hunter que ela conheceu e a enganou estivesse tentando ser outra pessoa. Pelo menos era assim que ela se sentia quando pensava nele como Peter.
Um barulho despertou Charlotte de seus pensamentos, e ela olhou para baixo, para a entrada do bosque. Torrent vinha correndo, acompanhado de três cachorros enormes. Ele não só corria, mas também se lançava sobre os cachorros, rolava na grama com eles e depois voltavam a correr. Ela sorriu. O folgado gostava de cachorros. A tarde vinha caindo, o sol estava se pondo. Era uma visão terna vê-lo rolar na grama com aqueles cachorros enormes. Charlotte tinha medo deles e nunca se aproximou do canil. Mas olhando Torrent brincando com aquelas feras como se fossem doces cãezinhos, ela pensou no quanto as aparências enganavam.
Pensando em aparências, ela resolveu se vestir para o jantar. Dessa vez iria usar algo simples, mas bonito. Se Hunter se sentia atraído por ela, ela iria usar isso para finalmente dormir com ele.
Se ele ia mesmo embora, pelo menos ela teria uma lembrança melhor deles que a última. Foi um choque tão grande quando ela viu o que James tinha escrito naquela maldita mensagem. Antes disso ela tinha acabado de ter o melhor orgasmo de sua vida. Tinha sido estranho ele sair de cima dela abruptamente e correr ao banheiro, mas ela ainda estava com os sentidos enevoados. O choque foi bom, a fez reagir, ela conseguiu fugir. Mas agora não havia mentiras entre eles. Talvez as coisas pudessem se encaixar e eles teriam a chance de tentar unir as suas vidas.
Pensar nisso a fez sentir um arrepio de excitação por todo o corpo. E foi nesse clima que Charlotte vestiu um vestido justo, simples, mas que destacava suas curvas, sapatos de meio salto, afinal estava dentro da casa do tio num simples jantar.
Ela escovou o cabelo e prendeu um pouco no alto, para destacar o rosto. Passou um batom vermelho, o único que tinha e que quase não usava.
Será que tinha ficado demais? Seria óbvio que ela tinha se arrumado para ele. E como tinha mesmo, não negaria isso.
Ela desceu as escadas devagar, olhando a volta, mas não havia ninguém a vista. Como já estava na hora do jantar, seu tio, Hunter, Vengeance e Torrent já deveriam estar na sala a esperando. O coração dela disparou quando cruzou a entrada da sala jantar, ela não conseguir erguer o queixo, acabou olhando para o chão enquanto se aproximava da mesa.
Ouviu o som das cadeiras, eles se levantaram. Ela então sorriu e ergueu os olhos, para deparar com seu tio e Torrent. Só.
"Boa noite, Charlotte! Está muito bonita hoje. Espero que esteja com fome, pois eu nunca vi colocarem tanta comida nessa mesa." O tio dela disse sorrindo.
"Concordo com o tio Francis, Charlie. Está linda!" As palavras eram amigáveis, mas os olhos dele eram frios e zombeteiros. O desgraçado sabia pra quem ela tinha se arrumado.
Charlotte se sentou ao lado dele, sorrindo polidamente ante a gentileza que ele fez ao arrastar a cadeira para ela.
Do outro lado da mesa, haviam dois lugares com o serviço posto, o que deveria significar que Hunter e Vengeance ainda viriam.
Mas seu tio começou a se servir e ela não resistiu a perguntar:
" Onde estão Vengeance e Hunter? Eles não virão jantar?"
" Vengeance saiu para jantar com Fiona e Hunter está patrulhando." O tio disse.
" Fiona? Da contabilidade? Mas pensei que ele estava interessado em Shirley, eles almoçaram juntos hoje." Era difícil imaginar Vengeance saindo para almoçar com uma mulher e saindo para jantar com outra, e no mesmo dia!
"Ele não está interessado em ninguém, Charlie. Ele ficou sem compartilhar sexo durante muitos anos, agora está resolvido a aproveitar todas as oportunidades. E as fêmeas humanas nos adoram, então, qual o problema?" As palavras de Torrent a fizeram pensar. Ela era muito conservadora, essa era a verdade. Sempre pensou que nunca seria como seus pais, mas os ensinamentos deles estavam enraizados nela.
" Só espero que esse aproveitamento de oportunidades não cause nenhum problema a minha empresa. Se ele continuar almoçando com uma e jantando com outra, em poucas semanas terá 'compartilhado sexo' como vocês dizem, com todas as minhas funcionárias. Eu não quero brigas." Seu tio disse.
"Ele sabe o que faz, e é sincero com as fêmeas. Só irá tocá-las se entenderem que não haverá nenhum outro tipo de envolvimento. Pelo menos foi o que ele me disse." Torrent deu de ombros.
" Vocês conversaram sobre isso?" Novas Espécies eram francos e sinceros. Eles falavam sobre tudo sem pudor ou medo de julgamento. Era uma característica admirável, na opinião de Charlotte.
"Sim. Eu perguntei se há mesmo uma diferença em compartilhar sexo com uma humana e uma das nossas fêmeas." Torrent falou e encheu a boca de carne. A imensa quantidade de comida, já não era tão imensa assim.
"E o que ele respondeu?" Charlotte segurou o queixo ao ouvir a pergunta do tio. Seu tio era frio e reservado, nunca conceberia que ele se interessaria por aquele tipo de conversa.
"Ele disse que sim. A diferença é muito grande. E me deu alguns detalhes que acho que vocês não precisam ouvir. Em suma, as suas mulheres são mais emotivas e precisam de palavras e gestos de carinho durante o sexo. Nossas fêmeas são enérgicas, diretas e até violentas. Eu, então, decidi que prefiro continuar celibatário."
Ele disse sem tirar os olhos do prato. Então, Torrent era celibatário? Não parecia. Ele, as vezes, a olhava de forma intensa, lasciva. Não parecia o olhar de alguém que tinha resolvido viver sem sexo.
"Estranho. Vocês vendem a imagem de serem altamente sexuais, mas você se diz celibatário, Vengeance se dizia celibatário e Harley já me disse que há muitos na Reserva que são assim. Como vocês fazem, uma vez que vocês foram feitos com tantos sentidos super desenvolvidos?" O tio parecia curioso. Mas a dúvida dele era válida. Novas Espécies eram mais susceptíveis aos impulsos animais que os outros homens.
"A Reserva foi originalmente comprada para ser lar daqueles  que não se adaptaram bem a viver em comunidade. Todos eram machos. Nossas fêmeas são poucas e todas foram para Homeland, podendo passar um temporada na Reserva, mas o lar delas é em Homeland. Diante disso, a maioria de nós, residentes da Reserva, é celibatária. Mesmo quando Slade e Trisha e Valiant e Tammy fixaram residência, ainda assim, a Reserva era composta majoritalmente de machos." Ele parecia um professor explicando uma matéria que já tinha decorado.
"E entre vocês não há aqueles que se..." O tio olhou para Charlotte e pareceu resolver frear a sua curiosidade. Mas ela sabia sobre o que ele ia perguntar. E Torrent também.
"Machos que se sentem atraídos por machos? Sim. Nós temos dois machos que moram juntos, como se fossem um casal. E um ou outro que diz que tem atração por outro macho, mas não quer envolvimento. Não somos tão diferentes de vocês, humanos, tio Francis." Ele disse olhando para o homem mais velho, fazendo questão de mostrar que sabia que o tio era gay.
Charlotte, porém, admirou o tom casual com que ele disse isso. Sem julgamentos, era o que ele tinha deixado de dizer, mas estava implícito. A curiosidade de Charlotte, todavia, não a deixou encerrar o assunto.
"Quem são os dois homens que vivem juntos?" Ela disse e recebeu um olhar mortal do tio. Estava sendo incoveniente, ela sabia, mas não conseguiu evitar.
"Dusky e Blue. Eles são como anciões para nós. São inteligentes e sábios, muito respeitados. Todo nosso código de convivência na Reserva, foi feito por eles, sem que dissessem uma única palavra." O tom de respeito na voz sempre debochada de Torrent, fez Charlotte sentir o quanto Dusky e Blue deviam ser importantes para ele.
"Eu sempre fico admirado do quão civilizados vocês são. E agradeço a Deus que Amy esteja rodeada de pessoas tão extraordinárias. A comunidade de vocês deveria ser um exemplo para nós, não ser ameaçada e ter que se isolar do mundo. Bom, vou me retirar. Boa noite." O tio se levantou com uma certa dificuldade, fazendo Torrent contrair os músculos do seu pescoço. Ele só relaxou quando o tio saiu da sala.
"Tio Francis está muito frágil. Mas ele é forte, mesmo assim. Eu sempre penso que vou ter de saltar para amparar uma queda, mas ele estica a coluna e anda como se fosse um rei. Espero ter essa força quando tiver os mesmos oitenta anos que ele tem." Torrent disse. A admiração nos olhos azuis dele a fez sorrir.
"Como sabe a idade dele? Nem eu sabia!" Ela não sabia mesmo. Oitenta anos! Era muito se se considerasse o tanto que ele ainda trabalhava.
Torrent deu de ombros.
"Nós temos muita admiração pelos mais velhos. Veja o vovô, que está doido e bate em todos nós, e o amamos. Harley já disse que adoraria se o tio Francis fosse morar na Reserva." Ela gostou de ouvir isso, mas não respondia como ele sabia a idade de seu tio.
"Como você sabe a idade dele?" Pressionou.
"Simple me disse."

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