CAPÍTULO 25

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Peter desceu as escadas correndo atrás de seu pai. Que porra! O que Pride tinha feito com Charlie?
"Calma, filhote. Eles já foram, você não ouviu o helicóptero?" Seu pai estava sentado confortavelmente na sala de estar com um livro nas mãos.
"Pai! Charlie está parada, com cara de boba e muda! O que aquele imbecil fez com ela?"
Vengeance deixou o livro numa mesinha de canto, se levantou e sorriu.
"Não dá pra saber com certeza o efeito da voz dele, Peter. Só que, mesmo que demore, é algo passageiro, não se preocupe."
Peter cruzou os braços. Por que seu pai tinha feito isso? Ele ergueu as sobrancelhas.
"Você iria pra cima dela, sem pensar que não era o melhor momento, filhote. Compartilhar sexo com ela hoje não seria uma boa idéia. Ela passou por muito medo, terror, pavor, ansiedade e muito mais coisas ruins que não sabemos. E você não está raciocinando direito, Peter." Ele disse olhando fixamente para Peter, que baixou a cabeça concordando. Ele ficou fora de si quando a viu. Se ela não tivesse apagado ele iria possuí-la sem pensar, sem considerar os sentimentos dela.
"Mas ela está muito estranha, pai. E como você disse, não sabemos o que a voz daquele idiota pode causar."
Seu pai balançou a cabeça e pegou o celular do bolso da calça. Discou e ficou aguardando.
"Pride? Preciso que você tranquilize Peter. Ele está com medo de Charlie não voltar do estado de letargia em que ela está." Vengeance passou o telefone para Peter.
"Olha aqui, seu merdinha, se você tiver feito alguma coisa com Charlie eu vou arrancar essa sua língua de bosta!" Por mais que entendesse as razões de seu pai, não podia deixar Pride se safar de ter feito aquilo com Charlotte.
"Hunter, já pensou em quantas ameaças dessas eu já ouvi? Só não faço você acreditar que é uma galinha e comece a cacarejar, por que tenho mais medo do seu pai do que do meu." Meu Deus! Quem aquele filhote pensava que era? Peter ia quebrar os dentes dele.
"Certo, você também está cansado, Peter. Você passou por muita coisa, seu corpo precisa descansar, sua mente precisa de uma pausa! Você vai fechar os olhos e dormir. Vai descansar a mente e o corpo. E só acordará quando se sentir descansado e calmo. Não precisa me agradecer."
Peter queria gritar com aquele filhote que arrancaria a cabeça dele fora. Mas ao mesmo tempo tinha de admitir que estava cansado física e emocionalmente. Dormir podia ser uma boa idéia. E a cama de Charlie era tão macia!
Esse foi o último pensamento de Peter antes de apagar.
Quando despertou, ele se levantou de um pulo da cama. Olhou pelas janelas abertas e constatou que devia ser de madrugada. Seu pai dormia, deitado de costas, com os braços cruzados sobre a barriga numa pose relaxada. Até dormindo, ele era imponente, e passava uma imagem de alguém forte. Por um momento, Peter pensou em como poderia ficar longe dele para estar com Charlie. Ela não largaria emprego e faculdade para ficar enfurnada na Reserva. Por mais que as coisas entre eles ainda estivessem em suspenso, ele não desistiria dela, imploraria de joelhos se fosse necessário. Mas como poderia ficar longe do seu pai?
Como ficar longe, como renunciar aos cafés da manhã, onde eles comiam a comida ruim dele em silêncio? Ou quando assistiam aos jogos de basquete? E as aulas de sinuca? Quando Silent foi finalmente morar com Emma e Sunny, a falta que sentiu do seu irmãozinho foi tão dolorosa! E olha que ele via Silent todos os dias. Como ficar todos aqueles quilômetros longe de seu pai? O vento estava frio e ele fechou a janela. Bom, uma coisa de cada vez.
Primeiro ia ver se teria mesmo que arrancar a língua de Pride. Depois ia conversar com Charlie e se tudo desse certo, iria fazer amor pela primeira vez em sua vida. Ou compartilhar sexo, como seu pai dizia. O certo era que pela primeira vez, ele colocaria seus sentimentos no ato. Ele estava com medo, mas sabia que bastava se deixar guiar pelo coração.
Mas o problema de ficar longe de seu pai ainda lhe doía o peito. Se ele...
"Eu ficarei aqui, filhote, com você, tio Francis e Charlotte. Eu nunca pediria pra você escolher entre mim e a fêmea que você ama. Eu amo todos na Reserva, mas eu te amo mais. E Silent pode vir uma vez por mês nos visitar. Agora saia desse quarto. As engrenagens da sua cabeça estão tão altas que está me tirando o sono. E você não quer ser responsável pelo meu mau humor amanhã, quer?"
Vengeance falou tudo isso de olhos fechados. Peter sorriu. Ele tinha o melhor pai de todos!
"Que parte do saia daqui você não entendeu?" Vengeance perguntou.
"Não posso sair agora. Preciso de um último conselho. Eu já devia ter conversado isso com você, mas com tudo o que aconteceu, eu deixei pra lá."
Ele abriu os olhos, passou a mão pela cabeça, que já estava toda coberta de fios negros curtos, e esperou.
"Eu estou desesperado para transar..." Vengeance ergueu as sobrancelhas.  "Quer dizer, fazer amor com Charlie, mas minha experiência sexual se resume a prostitutas. Eu nunca fiz sexo com uma mulher levando em conta a vontade e o prazer dela, só pensava em gozar e acabar o mais rápido que pudesse. E eu já machuquei algumas, pois não conseguia esperar o inchaço ceder. Mais tarde, eu aprendi a gozar fora, mas eu não quero isso com Charlie. O que eu faço?"
"Não faça, então." Ele se deitou e deu as costas para Peter, virando-se para a parede.
Peter piscou. Que merda de conselho era aquele?
Ia reclamar com o pai, quando os batimentos de Charlie lhe chamaram a atenção. Ela estava de pé, mais precisamente a frente da janela. Ele saiu do quarto e subiu as escadas com o coração ressoando em seu ouvidos.
'Não faça, então.' As palavras de seu pai voltaram a sua mente. Não faça nada que já tenha feito. Não repita o sexo egoísta e desprovido de sentimentos que sempre fez. Não faça pensando em obter prazer, mas em unir os corpos dos dois em um só, e desfrutar do prazer dessa união, não de um simples orgasmo.
Peter parou ante a porta fechada do quarto dela e respirou fundo. Não havia cheiro de medo, mas também não de excitação. Ela estava olhando pela janela ainda. Ele entrou no quarto e ela se virou. O sorriso dela fez ele entender o que devia fazer.

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