CAPÍTULO 22

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Torrent segurou um rosnado de dor quando os idiotas o lançaram dentro do furgão. O tal Max Hunter estava rodeado de imbecis.
Eles lhe deram um único tiro com tranquilizante, ele caiu e eles se deram por satisfeitos. Otários.
O carro com Charlie e Max passou o furgão, e aquele cheiro maldito entrou por suas narinas. A raiva e a loucura ficaram a borda, mas ele tinha tido muito tempo de se acostumar com a sensação e combatê-la. Charlotte devia estar com o corpo e as roupas encharcadas com aquela porcaria. Mas ele tinha descoberto uma coisa: aquela merda só funcionava com a fêmea maldita.
No corpo de Charlie, lhe despertava loucura, raiva e dor, mas não a vontade de fodê-la a qualquer custo.
Quando o soltassem ele correria para Charlie, mas não a machucaria.
Havia ainda outra coisa que aquele pau no cú não sabia. Aquela merda, de alguma forma, elevava seus sentidos, agilidade e força. Ele custou a entender, mas agora tinha certeza.
Ele abriu um teto de aço como se fosse papel. Novas Espécies eram fortes, mas não tanto. Ele quase desmoronou toda a casa, só não fez isso, por que Charlie estava lá também. Até seus uivos estavam mais altos. Isso ajudou quando queria que pensassem que ele tinha enlouquecido.
O furgão parou. Torrent ficou imóvel ouvindo tudo a sua volta. Estavam no meio de centenas de humanos. Droga!
Ele estava nú. Só andar no meio daquele povo, daria merda. Justice iria ter muito trabalho.
Falando em Justice...
Não só ele, mas Brass, Slade, Moon, Jericho, Silent... E Simple!
Santa Merda! Até Leo! Torrent nunca imaginou que seu amigo pudesse sair da Reserva. O que será que ele fez com sua cauda?
Eles estavam espalhados. O mais próximo do furgão era jericho. Mas ele e Jericho nunca foram muito próximos. Será que ele entenderia?
"Oito, três, m. Oito, três, m. Oito, três, m." Ele e os outros moradores da Zona Selvagem tinham um código. Como Leo estava lá, talvez eles soubessem que ele não estava louco. O código deles era bem simples, até porque alguns Novas Espécies de lá não sabiam ler. O número oito, nos relógios digitais, parecia uma letra 'B'. Da mesma forma, o três, era uma letra 'E' ao contrário. Juntando com a letra 'm', formava a palavra BEM. E se Jericho, pelo menos dissesse aos outros, Leo saberia.
As portas abriram e ele fechou os olhos. Ele gostaria de matá-los, mas isso poderia colocar Charlie em perigo. Ele sabia que ela estava do outro lado da praça, com centenas de humanos entre eles, Max Hunter estava perto dela. Ele teria que correr pelado no meio daquela multidão de humanos!
"Acorda, animal desgraçado!" Um dos humanos o cutucou com a ponta de um rifle. Eles não estavam brincando.
Torrent ficou em pé e rosnou. Tiros de rifle doíam como o inferno, ainda mais se dados de tão perto. Dependendo do lugar seria fatal.
Ele recuou um passo.
"Cara, olha o tamanho do pau dessa aberração!" Um deles falou.
Isso era o que fazia Torrent não querer sair dali. Ele conseguia resistir ao cheiro, mas não era capaz de evitar a ereção. Ele não podia sair daquele furgão! Mas não podia matar os humanos e ficar ali, pois Max mataria Charlie, se ele visse que seu plano não daria certo. Ele tinha que agir!
Ia se preparando para correr no máximo de sua velocidade, quando os humanos que estavam na frente das portas abertas do furgão, caíram desacordados. Jericho e Leo apareceram. Ele não entendeu por que eles estavam carecas, mas perguntaria depois.
"Você não tem muito tempo, Torrent, corra até ela." Leo disse lhe jogando uma calça de moletom.
Ele vestiu e saiu correndo, empurrando e até saltando sobre as pessoas. Jericho e Leo voltaram a se misturar na multidão. Ele entendia a lógica: Max acharia estranho ele estar de calça, mas vendo-o correr desesperado, rosnando, pulando e até derrubando alguns humanos que estavam em seu caminho, poderia concluir que era melhor deixar o plano continuar.
Charlie estava longe ainda, mas o cheiro do inferno começou a forçá-lo a aumentar a velocidade. Ele sentia que quanto mais próximo estivesse, a vontade de fodê-la ia ficando mais forte. Ele, porém, não conseguia se refrear.
As pessoas foram abrindo caminho para ele e logo ele a avistou. Ela estava vestida com uma camisola. Vários humanos olhavam para ela, que tentava se cobrir com os braços. Aquela demonstração de desconforto e vulnerabilidade trouxe sua razão de volta. Aquela era a Charlie, a fêmea que ele aprendeu a amar como se fosse sua irmãzinha. E mais: era a fêmea de Hunter, filho do seu amigo.
E ele parou a alguns metros dela. Rosnou, é claro, não estava em seu normal. Ela o olhou, com os olhos cheios das lágrimas que ela corajosamente estava segurando. Aquela era a sua Charlie! Durona!
"Charlie..." Um tiro no ombro o interrompeu. E outra bala passou zoando por seu ouvido direito. Torrent saltou a distância que faltava entre eles e a cobriu com seu corpo.
Outra bala acertou em cheio suas costas. Os humanos começaram a correr por todas as direções e a confusão explodiu.
Torrent continuou abraçado a Charlie, protegendo-a com seu corpo até que alguém tocou em seu ombro. Era Leo.
"Acabou, Torrent. Pegamos os snipers. Solte Charlotte, temos de levá-la para Hunter."
Ele a soltou, mas ela continuava agarrada a seu corpo. Ela tremia, devia estar em choque.
Torrent a pegou nos braços e olhou a volta. Ainda havia muitos humanos correndo, mas não se ouvia mais os assobios de bala rasgando o ar.
Leo o direcionou onde um dos SUVs dos Novas Espécies estava. Ele entrou com Charlie no colo.
Ela descansou a cabeça no ombro dele.
"Eu sabia que você nunca me machucaria, mas Max me falou dos atiradores. Eu achei que ia morrer com um tiro na cabeça." Ela começou a chorar.
"Não no meu turno, Charlie. Eu nunca poderia machucar você. Fico feliz por você ter confiado em mim." Ele tocou o rosto dela e enxugou as lágrimas. Ela balançou a cabeça concordando.
Leo e Brass entraram na parte dianteira, Brass colocou o carro em movimento.
Torrent suspirou. Charlie continuava em seu colo. Hunter não ia gostar, mas isso era pra outro dia.
Olhou para a frente e a nuca raspada dos dois o incomodou.
"Que porra vocês fizeram com seus cabelos?"

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