CAPÍTULO 43

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Peter desligou o telefone, foi a cozinha e abriu a geladeira. A carne tinha acabado. Droga! Ele estava faminto, tinha passado toda a madrugada, examinando os malditos papéis. Charlie já estava no banho, dali a poucos minutos ela sairia.
Foi a primeira noite em que ele deixou a cama de madrugada e não acordaram juntos. Seria a única?
Peter vestiu um jeans e uma camiseta, amarrou os cabelos e ia saindo quando Charlie saiu do banho.
"Vai sair?" Ela cruzou os braços. Parecia a velha Charlie briguenta. Que saudade das brigas, dos palavrões. Agora, eles estavam relegados a sexo quente e a uma educada convivência.
"Acabou a carne, estou com fome, vou ao mercado." Ela o examinou dos pés a cabeça. Estaria vestido como um morador daquele lugar luxuoso? Peter achava que não. Ela já estava implorando para irem comprar roupas novas para ele, mas Peter não queria. Até cortar o cabelo, algo que ele sempre fez, Peter não queria cortar.
Seu cabelo já estava pelo meio das costas.
"Peter, vamos conversar?" Ela vestiu um sutiã e calcinha pretos, ficando linda. Ele correu os olhos pelo corpo dela e deu um passo em sua direção.
"Conversar? Sobre o quê?"
Ele tocou o rosto dela, ela fechou os olhos. Mas ainda que a desejasse com loucura, alguma coisa o fazia hesitar.
"No almoço. Preciso comer." Disse e se afastou. Saiu do closet, do quarto e finalmente do apartamento.
Na rua, respirou fundo e quase se sufocou. O cheiro daquela cidade horrorosa era nojento. Como nunca tinha percebido que as cidades fediam tanto?
Um supermercado enorme estava a direita. Pensar em entrar naquele lugar, com todas aquelas pessoas, o cheiro dos corpos, da comida, dos perfumes enjoativos, e o pior: o barulho das centenas de corações batendo em seus ouvidos, causou náuseas nele.
Ele preferiu a lanchonete.
Lá dentro pediu um café completo, com ovos bacon e hamburguer. No quarto prato a garçonete se aproximou toda solícita.
"Sabe, você tem um corpo legal pra quem come tanto."
Peter elevou os olhos do prato e a encarou. Desejo brilhava nos olhos dela. Isso era outra coisa que o enfurecida naquela porra de lugar. Onde ele ia tinha que aguentar os olhares, as cantadas, os esbarrões  'sem querer'. Uma mulher mais ousada até lhe deu um apertão na bunda.
"Sou Nova Espécie." Isso afastava algumas, mas aumentava o interesse da maioria. E ela era do segundo grupo.
"Meu Deus! É verdade que vocês tem poderes sobre humanos?" Ela olhou para a virilha dele, dando a entender o poder a que ela se referia.
"Não. Na verdade, somos bem comuns. Temos o olfato bem apurado, é claro." Ele falou e franziu o nariz como se estivesse sentindo um cheiro ruim.
Ela ficou vermelha e se afastou. Peter se sentiu mal. Ele aprendeu desde cedo que mulheres se preocupavam muito com seus odores corporais.
Ele deixou dinheiro na mesa, bem mais do que seria suficiente, estava chateado. Pelo menos, ela teria uma boa gorjeta.
No prédio, um ou outro morador o olhou com desdém. Sua calça jeans estava rasgada nos joelhos, ele a vestiu de propósito. Se afastar as mulheres fosse tão fácil quanto afastar aqueles moradores esnobes...
Abriu a porta e o barulho do coração dela o recebeu. Teria acontecido alguma coisa?
"Charlotte? Tudo bem?"
Ela apareceu na sala, vestia um pijama.
"Não, Peter, não está nada bem. E nós vamos conversar, você não vai fugir dessa vez."
Ele acenou e se sentou num daqueles sofás. Ela escolheu outro. Então era para isso que haviam tantos lugares para se sentar na merda daquela sala. Humanos deviam discutir bastante.
"Peter, o que está acontecendo? Você não está feliz morando comigo?" Ela foi direto ao ponto. Mas a questão não era tão simples.
"Eu estou feliz com você, Charlotte. Não conseguiria estar em outro lugar que não fosse com você. Pensei que soubesse disso." Ele começou.
Ela entendeu exatamente o que ele queria dizer e suspirou. Seus olhos ficaram tristes.
"Mas não está feliz morando aqui." Ela disse tudo.
"Não, não estou. Eu pensei que o pior fosse sentir falta da Reserva, de James, de Silent, de Sunny. Mas morar aqui está me matando. Já faz dois dias que não falo com meu pai. Se eu falar com ele e sentir o sofrimento que senti na última vez..."
Ele se levantou e se postou a janela. O pai tinha dito poucas palavras na última vez que se falaram na esperança de que Peter não percebesse seu sofrimento, mas Peter percebeu. E isso o fez querer sair dali e nunca mais voltar.
"Peter, você quer ir embora?" Ela perguntou. Eram as palavras mágicas. É claro que ele queria, ele queria demais! Mas como seria deixá-la? Peter estava com medo. Medo de perceber que deixar Charlie não fosse algo tão difícil de fazer como ele pensou que fosse.
"Charlotte, eu estou tentando, tá? Estou tentando ficar com você, aqui, onde você quer que nós fiquemos. Sabíamos que não seria fácil."
Ela respirou fundo. Parecia estar segurando seu mal gênio. Mas ele é que estava longe de seu pai, de seu irmão, sobrinho e amigos, ele estava num lugar que lhe incomodava os sentidos. E ela que estava brava?
"Você não me respondeu, droga! Você quer ir embora? Quer me deixar?"
Ele sentiu a ira se ajuntando dentro dele.
"Eu odeio essa porra de lugar! Eu só estou aqui por sua causa e você sabe disso. Mas não é suficiente pra você, não é, Charlotte? Eu tenho que ficar aqui e ainda tenho que sorrir e te comer gostoso, não é?"
Ela estreitou os olhos. Ótimo uma boa briga podia tirar a mente dele do poço de miséria em que estava.
"Vá se foder, Hunter! Vá pro inferno com essa sua frescura de estar longe do seu papai! Seu desgraçado, filho da puta!" Ela arregalou os olhos. Pareceu que ela não queria dizer o que disse.
Mas era exatamente o que Peter queria. Assim tinha uma desculpa pra se aproximar.
" Filho da puta? Mas você gosta quando esse filho da puta está dentro de você, não é? Gosta quando enfio meu pau com força!"
Ela estava ofegante. O cheiro da excitação dela bateu em suas narinas e Peter a agarrou. Ela começou a se debater, mas foi fácil colar a boca na dela, e aí ela se rendeu. Enterrou os dedos nos cabelos dele tirando o elástico que os prendia e puxou. Com força.
Peter a pressionou contra a parede de vidro da janela. Sorte que era um vidro grosso, pois ele usou força. Rasgou a calça do pijama, arrebentou o botão e o zíper da própria calça, tudo sem tirar a boca da dela, e com o pau livre, a penetrou.
"Aaaahh!" Ela gemeu. Peter se descontrolou e investiu. Uma duas três vezes e já sentia o prazer se acumular na base do pau. Ele estava com raiva, não esperaria por ela.
E estocou com força, rápido, rosnando, até que a espiral do prazer o tomou. Enquanto gozava sentiu as contrações da vagina dela. Charlie também estava gozando. Ela gritou.
Ele ficou inerte, a segurando contra o vidro da janela, suas respirações ofegantes, seus corações disparados.
"Peter..." Ela começou.
"Não. Não diga nada, Charlotte. Eu sei que você não entende, eu sei que nos amamos, mas vai chegar o dia em vamos nos odiar, e eu nã quero que esse dia chegue."
Ele saiu de dentro dela, tirou a calça e se dirigiu ao quarto. Lá ele vestiu outra calça, e começou a arrumar a mala.
Na sala, ela estava numa cadeira, com a cabeça nas mãos. Era doído vê-la assim, mas talvez era o certo. Ele não queria tentar mais.
Saiu do apartamento sentindo seu peito se aliviar. Então era assim que as pessoas se sentiam quando terminavam? O coração ferido, doendo terrivelmente, mas a mente clara, os pensamentos coesos e a alma aliviada?
Subiu ao terraço e ligou para Slade.
"Hunter, amigão, a que devo essa honra? Quer algum conselho matrimonial? Por falar nisso, quando será o acasalamento?" Havia uma coisa estranha na voz dele. Peter balançou a cabeça. Droga!
"Preciso do helicóptero. Vou mandar as coordenadas."
Slade bufou. Era o que Peter imaginou.
"Vai ter que esperar até a semana que vem, o helicóptero está em manutenção. Sinto muito."
Será que ele esperava que Peter cairia numa desculpa esfarrapada dessas?
"Slade, eu não estou bem, acabei de terminar com Charlie. Mande essa porra de helicóptero agora."
"Que parte do helicóptero em manutenção você não entendeu? Você parece seu pai!"
"A parte que diz que Brass é responsável pelas manutenções. Manutenções essas que acontecem a cada seis meses. E se não estou enganado, faz apenas três meses da última manutenção."
"Que porra, filhote, você não poderia ficar com a humana mais uma semana?" Slade perguntou.
"Meu pai sabe?" Ele sabia a resposta, mas era divertido ameaçar Slade.
"Não, não sabe, mas temos um acordo. Ele não consegue bater em todo mundo ao mesmo tempo." Slade era esperto, isso Peter admitia.
"Silent está no meio disso?" O macho riu.
"Seu irmão? O único aqui que obedece as regras? É contra as regras bater no diretor da Reserva. Olha só, Hunter, que tal ficar com metade da grana? Você fica num hotel. Tem ótimos hotéis aí!"
Peter suspirou. Se ele ficasse um dia que fosse, iria rastejar aos pés de Charlie.  E ela pisaria na cara dele sem dó.
"Slade, eu sou a favor do matrimônio, odiaria ter que falar com Trisha, mas você está me obrigando a isso. Ainda bem que a casa de Valiant é grande, você pode ficar lá." Peter desligou.
Ele não iria apelar para Trisha. Não precisaria. Seu telefone tocou.
"Mande as coordenadas." Slade falou e desligou o telefone na cara de Peter.

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