Capítulo-3

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Choveu durante toda a manhã, impedindo que Paulo pudesse acompanhar os últimos preparativos para a festa de São Tomás.
As bandeirolas não puderam ser colocadas, tão pouco as barracas para a quermesse puderam ser erguidas, e isso o estava preocupando, pois estavam a uma semana da data de início da festa, e ainda havia muito a ser feito.
No começo da tarde, quando a chuva estiou, e por fim parou por completo, ele abriu as portas da igreja e esperou que os paroquianos começassem a chegar para pegarem os materiais para enfeitar a cidade.
Paulo tirava algumas caixas do armário na sacristia e trazia para o salão lateral ao templo. Quando retornava a sacristia, a viu entrar na igreja.
Mariana ainda estava em dúvidas se realmente deveria estar ali. Havia anos que não colocava os pés em uma igreja. E o incomodo que sentia era palpável. Tanto que, deu as costas e começou a fazer o caminho de volta.
Deu alguns passos em direção a porta, quando o ouviu.
—Mariana!
A voz de Paulo ecoou pelas paredes do templo vazio, fazendo com que ela parasse e se deparasse com ele ao se virar.
—Oi.
Ela disse um pouco nervosa. O coração acelerado lhe dizia que aquilo tinha mesmo sido uma péssima ideia.
—Precisa de algo?
Paulo a observava com atenção, o leve rubor na face, e as mãos que ela não parava de esfregar, lhe diziam o quanto ela estava nervosa. E toda aquela atenção só a deixou ainda mais aflita. Céus o homem era padre, e no momento, nem mesmo o colarinho ele usava, para fazê-la se lembrar daquilo.
—Eu... eu, bem, eu vim devolver o seu casaco, e agradecer mais uma vez por tudo o que fez por mim ontem.
Paulo se aproximou um pouco mais e lhe dedicou um lindo sorriso.
—Não precisa agradecer Mariana. Eu fiz o que qualquer pessoa teria feito ao ver alguém que precisava de ajuda.
Mariana lhe deu um sorriso triste.
—Isso não é verdade.
Ela disse sentando-se em um dos bancos da igreja. Paulo sentou-se ao seu lado. Algo naquela moça implorava por atenção.
—Muitas pessoas passaram por mim enquanto estive sentada naquele banco, mas... nenhuma parou para me ajudar. Só... você.
Paulo ouviu aquelas palavras ditas com tanta tristeza, vindas de uma moça tão jovem e lhe soaram tão sofridas, sem um pingo de esperança.
—Poço lhe fazer uma pergunta?
—Sim.
—Por que você estava na praça Mariana? Não tem parentes na cidade?
Mariana apenas balançou a cabeça em negativo.
—Meu irmão morreu... há alguns dias, então eu... vim para cá com o pouco que me restava. Não sabia ao certo para onde iria, comprei a passagem que era mais barata.
Ela disse em um sorriso tímido, que não conseguia esconder a tristeza por trás de seus olhos.
—Quer conversar sobre isso?
Paulo perguntou colocando suas mãos por sobre as dela que ainda seguravam o casaco.
Ela respirou fundo e passou o casaco para as mãos do padre.
—Não, não vim aqui me confessar.
Mariana se levantou e deu alguns passos para perto das caixas que estavam sobre uma mesa na lateral da igreja. Paulo a observou.
—O que estava fazendo?
Ela perguntou apontando para as caixas.
—Vamos enfeitar a igreja e a cidade para a festa do padroeiro que será em alguns dias.
Ele disse indo até uma das caixas e tirando de dentro dela um rolo de bandeirolas coloridas.
Mariana sorri. E Paulo não pode deixar de reparar em como o seu sorriso era belo mais ainda assim triste.
—Eu posso ajudar?
—Se não tiver mais nada para fazer.
Paulo estendeu um rolo de barbante e um pacote de bandeirolas para Mariana.
—Eu deveria procurar um trabalho, mas... confesso que não sei nem por onde começar.
Mariana comentou sentando-se e começando a amarrar as bandeiras.
—O que você fazia onde morava?
—Dava aulas particulares, era recepcionista em uma loja de departamentos, mas, eu posso fazer qualquer coisa, não estou em posição de escolher.
—Entendo.
Algumas pessoas foram chegando para ajudar na decoração da igreja, e Mariana achava curioso que Paulo sempre a apresentava como sua amiga. E aquilo fazia com que as pessoas lhe recebessem com simpatia.
Mariana ficou com outras mulheres encarregada da decoração dentro da igreja, enquanto Paulo e os outros homens, foram para fora.
Foi bastante trabalho, pararam para um almoço coletivo, e voltaram aos afazeres.
Já era noite, quando terminaram toda a ornamentação dentro e nos arredores da igreja.
As bandeirolas coloridas tremulavam com o vento, havia também uma iluminação especial. Pequenas luzinhas brancas estavam enroladas pelos jovens, nos troncos das árvores, nos postes, e nas fachadas das lojas próximas.
Padre Paulo ficou feliz em ver finalmente que os preparativos para a festa estavam encaminhados.
Mariana o observava a certa distância, enquanto guardava os materiais que sobraram de volta nas caixas.
Paulo conversava com um homem e uma mulher que o ouviam com atenção. E durante toda a tarde, Mariana pôde perceber o quanto as pessoas dali o respeitavam e o admiravam, pois foram muitos os elogios ao seu trabalho como pároco, e principalmente a sua dedicação aos jovens e as crianças da cidade.
Paulo era um homem incrível. Mas era comprometido com a sua fé. E ela ficava repetindo isso a si mesma, todas as vezes que se via parada, olhando-o, como fazia agora.
—Tchau Mariana! Vamos esperar você amanhã, para nos ajudar com as roupas das crianças.
Adele e Angélica, que haviam se aproximado de Mariana durante a tarde de trabalho na igreja, disseram ao se despedirem.
—Está bem, eu irei. Até amanhã.
As duas acenam em despedida e se vão após pedirem a benção do padre.
—Acho que terminamos por hoje.
Paulo disse ao entrar e fechar as portas da igreja por dentro.
—Ficou tudo muito bonito.
—Ficou sim. Amanhã começaremos a montar as barracas e se não chover mais até quinta feira, teremos acabado.
—Bem... eu, acho que já vou indo, você deve estar querendo descansar.
Mariana disse e já se encaminhava para a porta, porém foi impedida pela mão de Paulo em seu braço. E aquele toque a incendiou dos pés a cabeça.
Céus! De onde vinha aquilo?
Ela se perguntava sem conseguir tirar os olhos de Paulo.
—Espera, Mariana. Você não quer jantar comigo? Ainda preciso lhe dizer uma coisa, mas... estou morrendo de fome.
Mariana apenas sorriu, pois se tentasse dizer algo, era provável que gaguejasse. O calor que sentiu percorrer seu corpo ao simples toque de Paulo a estava assustando em demasia.
Afinal o que estava acontecendo? Nunca havia se envolvido com homem algum, após a morte dos pais, pois nunca encontrara alguém que realmente valesse a pena, havia dedicado a vida a cuidar do irmão, e isso sempre lhe bastou.
Era difícil para Mariana acreditar que estava se interessando pelo único homem por quem ela não deveria. Porém, ele também não estava facilitando as coisas. O jeito que Paulo a olhava, sempre tão intenso, como se naquele momento, no mundo inteiro só existisse ela, era perturbador. Ela não era acostumada a receber tanta atenção, e isso fazia com que seu coração a traísse, na tentativa de ignorar, os sentimentos que surgiam dentro dela.
Enquanto caminhava ao lado do padre em direção a uma lanchonete do outro lado da praça, ela tentava apenas não pensar.
Era isso, é só não pensar.

 Era isso, é só não pensar

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Imagens meramente ilustrativas
Texto ainda sem correção.

Música Tema do Capítulo

Vivir Sin Aire- Maná/ Viver sem ar

Música lindaaaa!!!
Estou me apaixonando por esses dois 😍😍😍😍
Padre Paulo querendo ajudar kkkk e Mariana surtando ❤️
Espero que estejam gostando dos capítulos.
Bjs. Não esqueçam de votar e comentar 😉

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