Capítulo-24

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Mariana acordou sentindo o Sol tocar o seu rosto, e a brisa que soprava lá fora, balançou as cortinas levemente. Ela se sentou na cama, ainda sonolenta, e só então, pouco a pouco as lembranças foram retornando a sua cabeça. E a percepção de que estava sozinha a atingiu no segundo seguinte.
Mariana levantou-se apressada, tinha a certeza de que ainda era muito cedo, pois o dia mal começava a clarear, porém, não conseguia conter o aperto no peito. "Paulo havia ido embora".
Ela ainda procurou por ele no banheiro, na esperança de que ele ainda estivesse ali, mas foi quando chegou a sala, foi que teve a certeza da presença dele ali, e de que... não o veria mais.
Havia uma folha de papel dobrada em cima da mesinha de madeira ao lado do sofá, e sobre ela uma rosa que mal tivera tempo de desabrochar completamente.
O coração de Mariana chorou, antes mesmo que as lágrimas chegassem aos seus olhos. Ela pegou a rosa e se sentou no sofá, tentando conter o pranto que a tomava. Respirou com dificuldade, secando os olhos com a mão livre. Ela olhou o papel dobrado com tristeza, antes de criar coragem de erguer a mão e pegá-lo.
Ao desdobrar devagar, foi aos poucos revelando a letra de Paulo gravada no papel.

"Mariana
Escrever esta carta é reafirmar o amor e o carinho que sinto por você. Perdoe-me se parecer antiquado pois, há muito tempo não faço essa atividade que tanto me enche de paz e alegria. Sempre gostei de escrever cartas para pessoas que amo, pois gosto de fazer isso usando minhas mãos, com a minha própria letra. Gosto que, na caligrafia, esteja gravado o sentimento forte e verdadeiro que sinto, como prova de que o que escrevo agora não é falso. Veja, desde que senti essa coisa linda e forte por você, posso dizer que sou uma pessoa mais feliz. E isso foi uma grande descoberta para mim, pois eu acreditava já ter encontrado toda a felicidade de que precisava.
Ainda restam muitos desejos e planos de vida a serem cumpridos, mas só de ter a certeza de que você estará ao meu lado, sinto que a vida vale muito mais a pena. Sinto que é importante saber aproveitar cada momento, e esse que dividimos essa noite, não me abandonará um único segundo sequer, dos dias que estarei longe de você.
Acredito que deixá-la, essa manhã, foi a coisa mais difícil que já fiz em minha vida. Juro que... por um momento pensei em desistir. Apenas voltar para junto de você, e esquecer de todo o resto. Porém, me conheço muito bem, e sei, que se eu não finalizar esse ciclo da minha vida, nunca serei inteiramente seu, e você merece me ter por inteiro, para que nós possamos viver sempre dessa forma, com muita leveza e simplicidade, pois não precisamos de muito, apenas desse grande amor.
E é em nome desse amor, que lhe peço que apenas me deixe ir, com a certeza de que voltarei para você, o mais breve que me for possível.
Me perdoe por essa despedida distante, porém necessária. Compreenda que... se eu olhar para você, não conseguirei.
Te amo, hoje, amanhã e depois.
Paulo."
As lágrimas de Mariana molharam grande parte do que estava escrito no papel, mas ela o abraçou, como se fosse ele ali. De olhos fechados em sua dor Mariana podia vê-lo, sentí-lo, pois o perfume dele ainda estava pela casa, ainda estava gravado em sua memória, sua pele, como ferro em brasa.
Ela continuou sentada ali, abraçada a carta e rosa, assistindo o dia tomar forma pela janela. O alarme do celular soou em algum lugar da casa. Mariana suspirou cansada, mas a vida precisava seguir. Era hora de se levantar, e fazer o que havia prometido a Paulo que faria,"esperar".
***
Lucas subiu a escadaria da arquidiocese apressado. Havia se encaminhado para o lugar, tão logo recebeu o chamado do Arcebispo no começo da manhã.
Quando chegou ao saguão principal, e foi anunciado, entrou na sala onde era aguardado.
Sua primeira visão, foi de Paulo, de costas olhando pela janela o vai e vem de pessoas lá fora. O grande movimento era comum na capital aquela hora da manhã. Porém, o que lhe chamou a atenção, foi a cara de poucos amigos do homem sentado atrás de uma magnífica mesa de carvalho envelhecido.
—Bom dia excelência!
Paulo, como está?
Lucas os cumprimentou, no que fez Paulo se voltar para o amigo, e caminhar até ele para cumprimentá-lo com um aperto de mão.
—Lucas, que bom revê-lo.
—Igualmente.
Lucas respondeu ao cumprimento, porém o olhar lhe lançava um monte de perguntas, que Paulo não poderia responder naquele momento.
—Bem, agora que tenho os dois aqui, posso externar a minha insatisfação.
O Arcebispo se pois de pé e apoiou as mãos sobre a mesa diante dele.
O homem de mais de setenta anos, tinha uma figura imponente, e o ar aborrecido era intimidante para a maioria, porém não para os dois a sua frente. Dom Euzébio havia sido um dos instrutores do seminário onde Lucas, e alguns anos depois, Paulo, fizeram seus votos. Na época Dom Euzébio ainda não era o Arcebispo diocesano da capital.
—Padre Paulo acaba de informar sua decisão de deixar a batina. O senhor sabia da pretensão dele, Padre Lucas?
O homem perguntou fixando seu olhar severo sobre Lucas, que não esperou ser convidado, apenas se sentou em uma das cadeiras diante da mesa do Arcebispo e lhe dedicou seu olhar.
—Eu sabia, excelência.
—E não tentou demovê-lo dessa ideia? Que espécie de orientador é você afinal?
Lucas olhou para o amigo que o seguiu se sentando ao seu lado. A
expressão pacífica também parecia aguardar sua resposta.
—Excelência, saiba que eu tentei com todos os argumentos que eu dispunha. Porém, sendo Paulo quem é, e o senhor, talvez até mais do que eu, sabe que este homem não é convencido de nada que ele não queira. Sendo assim, apenas me resignei a deixar o caso a decorrência divina.
O homem bufou de indignação, e Paulo precisou baixar a cabeça para conter o riso de tal situação.
Desde que entregara sua carta de solicitação de dispensa ao Arcebispo, o homem só fez tentar demovê-lo de sua decisão. Como se ele fosse um jovem seminarista, cheio de dúvidas do caminho que escolheu seguir. Esse com certeza não era ele, e Paulo estava mais do que disposto a mostrar sua determinação a todos que tentassem demovê-lo de sua decisão.
—Não achou que seria de grande importância, que eu fosse informado do fato, antes de receber essa carta?
Dom Euzébio ergueu o envelope de sobre a mesa e o mostrou a Lucas.
—Definitivamente, quis poupa-lo do transtorno, excelência. O homem está convicto de sua decisão, não serei eu ou o senhor a fazê-lo mudar de ideia.
—Isso é inadmissível. Um sacerdote com suas  habilidades, Paulo, com sua capacidade de conversão, é uma lástima, uma lástima.
O homem velho, voltou a se sentar inconformado.
—Eu sinto muito por decepcioná-lo excelência. Porém, sendo eu, essa pessoa em quem o senhor sempre depositou sua inteira confiança, não poderia de forma alguma continuar seguindo um caminho, que não me completa mais.
—Isso quer dizer que encontrou algo que o completa mais do que Deus? Sendo assim, não é apenas a mim a quem está decepcionando, Paulo.
Paulo balançou a cabeça negando.
—Estou aqui, justamente para evitar decepcionar a Deus. Os meus motivos, estão na carta.
—Eu não vou ler a sua carta, me recuso.
Paulo se levantou com determinação, sabia que não seria fácil, e esse era só o primeiro membro da igreja que iria minimizar o seu desejo de deixar a igreja como se ele fosse um jovem tolo, que não tem ideia do que está fazendo. Mas ele também não estava disposto a ficar se alongando com cada um que se dispusesse a fazê-lo ficar andando em círculos.
Tinha um caminho a percorrer, e seguiria em frente.
—O senhor não precisa ler a carta excelência, só precisa encaminhá-la. Desde já, agradeço.
Paulo deu-lhes um breve aceno e se encaminhou para a porta, quando a voz do homem ainda mais carrancudo o fez parar.
—Sabe que deve ficar na diocese, até ser chamado ao tribunal diocesano.
—Sim senhor. Estarei aguardando, peço encarecidamente que envie minha carta com a máxima urgência.
Com licença.
Lucas viu o amigo sair da sala do Arcebispo com o mesmo ar pacífico que lhe era predominantemente particular, porém também havia nele algo novo. Algo que não viu na última vez que esteve com ele, "urgência". E isso lhe preocupou.
—O que você tem aí nas mãos, Padre Lucas? Não vá me dizer que também pretende deixar a batina?
Lucas riu da indignação do homem a sua frente, se levantou e lhe estendeu a carta que trazia consigo.
—De forma alguma excelência. O senhor sabe que nasci para esse trabalho, nada nesse mundo seria capaz de me fazer trilhar outro caminho.
Lucas disse com veemência, ao estender-lhe a carta.
—Pois sim. Eu diria o mesmo do homem que acabou de sair daqui de forma tão resoluta. Ainda não consigo acreditar.
—Cada um tem suas diretrizes na vida, meu senhor. A minha sempre foi a igreja.
—O que é isso então?
—Apenas meu desejo de substituir Paulo na paróquia de São Tomás.
O homem o olhou com estranheza, porém Lucas não desviou o olhar.
—Quer deixar a catedral para se enfiar em uma cidadezinha no fim do mundo?
Ora essa, afinal, o que tem essa cidade?!
—Ovelhas senhor. Nada além de ovelhas.

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Música Tema do Capítulo

Laís Yasmin/ Eu só queria te amar

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