Capítulo-11

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O dia amanheceu, e Mariana se deu conta de que não havia dormido. Quando tentou, foi arrebatada por pesadelos que a levavam de volta a sua casa, aquele quarto, onde viveu alguns dos piores dias de sua jovem vida.
Estava indisposta, e como não haveria aula para João, pois se daria o início da festa do padroeiro, Mariana decidiu não sair do quarto, não queria encontrar com Paulo. Não sabia como olhá-lo, depois do momento que protagonizaram no dia anterior.
Porém, ouviu batidas na porta, e se levantou muito desanimada para atender.
E não é o que dizem?
"Quanto mais você foge do pecado, mais ele corre atrás de você."
Ao abrir a porta, se deparou com o próprio. Paulo lhe dedicou um olhar preocupado. Tinha uma bandeja de café da manhã nas mãos.
—Bom dia Mariana.
Paulo desejou, olhando-a por mais tempo do que deveria. Em seus pensamentos, se perguntava se aquela tinha mesmo sido uma boa ideia.
Quando chegou a pousada Aconchego logo cedo, para ver como Mariana havia passado a noite, depois de todo o desgaste psicológico a que foi submetida, e muito por culpa dele, que havia mesmo que indiretamente, insistido para que ela se abrisse.
Porém Paulo não imaginava o tamanho da carga emocional que Mariana carregava. E se sentiu culpado por esgotá-la daquele jeito.
Dona Amélia, que o recebeu com seu sorriso e gentileza costumeiros, o havia dito que Mariana não havia saído do quarto, nem mesmo para o café da manhã, que a jovem costumava ela mesma preparar.
Paulo sabia que aquilo não era nada apropriado, que provavelmente haveriam falatórios, porém, ele não era do tipo que dava ouvidos a falação alheia. Por isso se ofereceu para levar a bandeja que a senhora já havia preparado.
Se Mariana não iria descer, ele iria até ela, onde ela estivesse.
—Bom... dia! Paulo o que faz aqui?
Mariana o questionou, olhando para um lado e outro do corredor, para se certificar de que não havia ninguém por ali.
Paulo passou por ela e depositou a bandeja sobre a pequena mesa que ficava ao lado da porta.
—Venha Mariana, sente-se e coma alguma coisa.
Se sua preocupação é que alguém me veja entrando no seu quarto... bom...
Paulo sorriu brincalhão enquanto puxava a cadeira para que ela se sentasse.
—... Haviam alguns hóspedes no saguão, quando eu disse a dona Amélia que traria o seu café da manhã.
Ele disse se sentando a cadeira a frente dela.
—E você não se importou com isso?
Mariana perguntou o olhando por sobre a borda da xícara de café que tomava, para tentar acalmar seu coração que batia alucinado.
Paulo lhe sorriu sem parecer perceber o seu estado de euforia ao qual ela tentava controlar.
—Eu já lhe disse uma vez Mariana. O pecado está na cabeça deles, não na minha. Enquanto minha consciência estiver tranquila, não tenho com o que me preocupar.
Paulo disse cruzando as pernas tranquilamente e se recostando a cadeira.
Mariana não respondeu àquilo. Era difícil raciocinar com aquele homem olhando-a tão fixamente. Decidiu comer em silêncio, e tentar manter-se calma. Essa era a tarefa mais difícil. Estava sozinha com Paulo, dentro de um quarto. Ainda que tivesse deixado a porta aberta, ainda assim era difícil conter os pensamentos, mas ela estava tentando.
—Como passou a noite Mariana?
Paulo perguntou, quando Mariana terminou o café.
—Acordada, para evitar os pesadelos.
—Sinto muito em ouvir isso, Mariana.
—Eu já acostumei. Mas... me sinto melhor, por... ter falado com você. Obrigada por... me ouvir.
Paulo sorriu e pegou as mãos dela unindo as suas.
—Sempre.
Os olhares de ambos se prenderam por um único segundo, o que fez com que Paulo afastasse as mãos e se levantasse.
—Bem, você tem planos para o seu dia de folga?
Mariana ainda estava um pouco zonza quando ele fez a pergunta, demorou um pouco para se situar.
—E-eu? Não, quer dizer, eu prometi encontrar as meninas na festa mais tarde, mas...
—Mas?
—Acho que não vou sair.
—Eu acho que você deveria sair Mariana. Respirar, ver gente. Vai ajudar no seu processo de esquecer.
—Você... acredita mesmo que... algum dia poderei esquecer?
Mariana o olhou com esperança.
Paulo se abaixou diante dela e tocou seu rosto com delicadeza.
—Eu tenho fé que sim. Mas você precisa querer se livrar de tudo isso.
—Não há nada que eu queira mais.
—Então venha. Vamos sair desse quarto, tem alguém que eu quero que você conheça.
Paulo se levantou e ficou feliz por ver um sorriso no rosto de Mariana.
—Alguém?
—Sim, na verdade ela está, atormentando a minha vida querendo conhecê-la.
Paulo riu da carinha confusa com a qual Mariana o olhava. Era adorável.
—Minha mãe veio me visitar, e... bom...
Paulo passou a mão pelos cabelos e respirou fundo antes de dizer a Mariana o que precisava.
—O que?
—Ela viu o bilhete que você deixou.
Mariana ficou sem ar. Já nem se lembrava da bobagem que fez deixando aquele bilhete, e agora, não só Paulo o leu, mas a mãe dele também.
—E... o que você disse a ela?
—Que era um desejo de bom dia. Era um desejo de bom dia, não era?
Quando Paulo se aproximou, Mariana precisou puxar o ar com força. Como ele esperava que ela respondesse aquela pergunta, estando assim, tão perto, quando o perfume dele dominava todo o ambiente a sua volta.
—Mariana, para que nossas conciências continuem limpas, não pode haver mentiras entre nós.
—Eu... sei.
—Então... responda a pergunta.
—Paulo... é melhor você descer.
Mariana olhou nervosa para a porta aberta e de novo para ele e toda aquela proximidade.
—É a porta que a está incomodando?
Paulo disse já indo em direção a porta e fechando-a, antes de voltar até Mariana que não sabia mais como respirar.
—O que... o que você está fazendo Paulo? O que...
—Eu preciso que você responda a pergunta Mariana. O que você estava pensando quando escreveu aquele bilhete? Era só um desejo de bom dia?
—Não, não era. Você sabe que não. Se não soubesse, não estaria me perguntando isso.
Mariana disse tudo de uma vez, e não viu surpresa nos olhos de Paulo, ele só continuou a olhá-la. Então Mariana decidiu que era hora de acabar de uma vez com tudo aquilo. Talvez sabendo, ele não ousasse mais ficar fechado em um quarto sozinho com ela. Ele precisava saber que a conciência dela não estava tranquila como a dele.
—Eu não quis te causar problemas, nunca quis, juro. Mas... eu não posso me impedir de sentir, Paulo. Não tenho como arrancar os sentimentos de dentro de mim...
Dessa vez foi ela que se aproximou e tocou o rosto dele, acariciando devagar como a muito tempo desejava fazer.
—Você não sente?
Ela perguntou deixando uma lágrima escorrer pelo seu rosto.
Paulo pegou a mão que Mariana mantinha em seu rosto e a afastou delicadamente.
—A uma grande distância entre o sentir e o agir, Mariana. Antes de ser padre, eu sou humano, e sou homem, também não posso me impedir de sentir, mas... o que você deseja, eu não posso te dar. E é por isso que precisamos manter a distância entre o sentir e o agir, para que possamos seguir em frente.
—Eu confesso que... estou cada dia com mais dificuldade em enxergar essa distância Paulo.
Mariana se aproximou mais um pouco, deixando apenas poucos centímetros entre os dois.
Ela podia sentir a respiração dele alterada, assim como Paulo podia sentir a dela tocar o seu rosto.
Os olhos dele se fixaram nos  lábios de Mariana e a garganta seca parecia saber que era dela que ele precisava para matar a sede que sentia.
—Agora mesmo eu... já nem consigo...
Antes que Mariana concluísse a frase, a distância mínima foi encerrada por ele.
Os lábios de Paulo tocaram os de Mariana com suavidade, como uma carícia delicada, pouco a pouco pedindo espaço se reconhecendo. Nenhum dos dois saberia explicar a calmaria que os envolveu. Naquele momento, Paulo e Mariana sentiram que eram muito mais do que deveriam. Que algo muito maior e ainda mais profundo os ligava.
Envolvidos naquele beijo que nada exigia, mas ao mesmo tempo queria mais e mais. Mais corpo, mais pele, mais alma.
Mariana sentia as pernas trêmulas e se segurava em Paulo para continuar de pé.
Se algum dia ela duvidou que existia um céu, porém ali, sentindo todo o calor que emanava do corpo de Paulo para o seu. Ela agora tinha certeza que ele existia e ela estava lá. Ainda que essa compreensão também lhe levasse a certeza do inferno, e... bom, ela estava feliz de ter tido a chance de viver aquele momento com Paulo, e se a consequência era o inferno, ela iria sem reclamar.
Paulo afastou os lábios devagar, buscando pelo ar, ainda segurando Mariana junto a si. Ele manteve os olhos fechados, com sua testa unida a dela, estava atordoado com aquela avalanche de sensações que percorria seu corpo como correntes elétricas. Algo diferente de tudo que já havia sentido e que o dominava sem que ele pudesse fazer algo para impedir. Porém o que mais o assustava, era o coração em disparada, e o sentimento de que em nenhum momento ele quis impedir. Pelo contrário, ele queria mais, ele precisava de mais.

 Pelo contrário, ele queria mais, ele precisava de mais

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Imagens meramente ilustrativas
Texto ainda sem correção

Música tema do Capítulo

Soube que me amava- Aline Barros

Genteee!!!!
Está aí o que vocês estavam ansiosas kkkk
Ninguém aqui vai para o céu, isso é fato 😂
Espero que gostem do capítulo, ouçam a musica pessoal, que foi minha inspiração para o Capítulo. Que letra é essa? É Mariana e Paulo todinha 💓😍
Não esqueçam de votar e comentar 😉

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