Mariana observava ao longe, a interação de Lucas com alguns fiéis, que vieram a igreja para cumprimentá-lo e desejar boas vindas.
Ela não conseguia olhar para o homem ao longe, vestido em sua batina preta, sorridente e solícito, e não pensar em Paulo. Aliás, ele era o único motivo pelo qual a moça ainda estava alí.
Angélica já havia partido, pois naquele dia iria juntamente com a família, visitar seus avós que moravam na capital. Deixando Mariana na companhia de Adele, que não estava nada satisfeita em continuar alí.
-Amiga, você não poderia fazer suas perguntas em outro momento? Estou cansada de ouvir elogios e ver tantos sorrisinhos pra esse... esse...
Argh! Nem sei como me referir a ele.
Mariana riu divertida com a irritação da amiga.
-Padre, seria essa a palavra que procurava, amiga?
Adele a olhou bufando.
-Que bom que minha irritação a diverte, amiga.
Mariana continuou rindo.
-Espere aqui, eu vou até ele. Estou ansiosa demais para esperar que ele cumprimente todo esse povo.
-Não! Eu vou com você. Imagina se vou deixá-la sozinha com esse... padre metido. "Deus me perdoe".
Adele grudou no braço de Mariana, e as duas seguiram para o fundo da igreja, onde ainda haviam algumas pessoas aguardando pela sua vez de pedir a benção do padre.
-Adele, sei que Lucas é um tanto arrogante, até um pouco desagradável a meu ver, mas, por que tanta má vontade com o pobre homem?
Adele olhou-a numa mistura de incredulidade e indignação.
-Como por quê, Mariana?
O homem é um poço de arrogância, não viu como ele olha pra você? Cheio de julgamento.
Mariana balançou a cabeça em negativo.
-Ele é padre Adele. Como queria que ele viesse a mulher que levou o seu amigo a largar a batina?
Acha que todo esse povo me veria como, se soubessem?
-Isso não justifica. Ele e o povo deveriam cuidar das próprias vidas.
Adele resmungou em um sussurro, pois já estavam perto demais das pessoas que aguardavam por alí.
As duas aguardaram um pouco, até a última pessoa prestar seus cumprimentos, e para surpresa das duas, a mulher que agora segurava as mãos do padre e não parava de falar, era a mãe de Adele, que sorriu imensamente ao ver a filha, e não tardou a buscá-la para apresentá-la ao padre. Mariana acabou sendo puxada junto com a amiga, que lhe deu um olhar de pânico.
-Venham, venham meninas.
Eu estava fazendo um convite ao padre Lucas. Vi que vocês já se conhecem. Tanto melhor, assim ele não ficará deslocado no nosso jantar.
A mulher falava e ria, como se estivesse nervosa e ao mesmo tempo muito feliz.
-Que jantar mamãe?
Adele olhava a mãe, com um olhar aflito, que passou totalmente despercebido por ela.
-Ora, Adele, um jantar de boas vindas querida. Acredito que o padre Lucas irá a um a cada dia da semana.
Ela riu ainda mais com a própria piada.
Lucas observava a conversa com um olhar curioso sobre as três mulheres a sua frente.
-O padre deve ter mais o que fazer mamãe, não é padre?
Lucas sorriu imensamente para a jovem irônica que tentava lhe dizer algo com o olhar, porém ele também a ignorou.
-Imagina, será um imenso prazer comparecer ao jantar de boas vindas. Só precisarei de um guia, ainda não conheço a cidade.
Adele suspirou frustrada, e Mariana limpou a garganta para abafar o som do descontentamento da amiga.
-Fique tranquilo padre, essas meninas virão buscá-lo, amanhã, sete horas está bom para o senhor?
-Está ótimo senhora Dolores. Será um grande prazer.
A mãe estava tão satisfeita e eufórica, que saiu com mais duas senhoras, deixando as duas moças para trás.
-Bem, parece que vocês duas foram eleitas como minhas guias oficiais.
Lucas disse divertido, ao acenar para as senhoras que deixavam a igreja ao longe.
-Só se for Adele, porque eu não tenho me sentido muito disposta para comemorações, padre.
Mariana recebeu o olhar incrédulo da amiga sobre ela, porém não contestou.
-Será apenas um jantar, Mariana. E uma boa oportunidade para conversarmos.
Lucas disse prendendo seu olhar ao dela, Mariana soube alí, que ele não lhe falaria nada, se ela não fosse ao tal jantar.
Ela suspirou profundamente antes de respondê-lo.
-Está certo padre, viremos buscá-lo no horário marcado, então.
Ele acenou em meio ao sorriso, e saiu, deixando as duas sozinhas.
Mariana guiou Adele para fora, antes que ela dissesse algo ao homem que já havia se encaminhado na direção da sacristia.
-Você viu como ele é irritante? Ele não perguntou se você queria ir, ele disse pra você ir, e você... vai!
Adele resmungou as palavras, enquanto era quase puxada por Mariana para fora da igreja. A garota parecia a ponto de voltar lá, e dizer poucas e boas ao padre recém chegado.
-E você não vai?
-Ora, Mariana, o bendito do jantar é na minha casa, como posso fugir disso?
Além do mais, eu preciso estar lá. Minha mãe estava muito estranha, estou com um mau pressentimento. Na verdade um péssimo pressentimento.
-Tipo o que?
As duas seguiram na direção da pousada Aconchego, enquanto conversavam, e não repararam que um olhar as acompanhava de longe.
Lucas sorriu ao ver as duas entrarem no prédio antigo que era a sede da pousada do outro lado da praça.
-Essas duas vão me dar trabalho.
Ele disse a si mesmo, ao inspirar e expirar o ar puro de sua nova casa.
***
Quando a aeronave aterrissou no Aeroporto Internacional de Roma (Leonardo da Vinci Fiumicino), e os passageiros começaram a desembarcar, Paulo se viu ficando por último. Sentia um frio percorrer sua espinha, e precisava de um pouco mais de tempo, para absorver que estava outra vez em Roma, no berço da igreja católica. Ele não acreditava que retornaria algum dia, menos ainda que retornaria por motivos totalmente contrários aos que o levaram até alí oito anos atrás.
Respirou fundo, e decidiu retirar sua bagagem de mão, antes que a comissária de bordo viesse ver o porquê de sua demora.
Na saída do avião, cumprimentou aos funcionários que lhe pediram a benção antes que ele descesse.
Apesar de não se sentir mais no direito de fazê-lo, aos olhos dos outros, ele ainda era um padre. E o terno preto que usava juntamente ao colarinho clerical, faziam-no não passar despercebido.
Paulo atravessou o desembarque, puxando sua pequena mala, contendo apenas seus itens pessoais, pois nada do que tinha era seu de fato, tudo pertencia a igreja, por isso, não havia bagagem para esperar na esteira.
Subiu pela escada rolante observando o grande movimento de pessoas por alí, e seguiu para a saída, onde esperaria um carro oficial do Vaticano ir buscá-lo.
O carro já o aguardava, quando chegou ao local indicado na convocação.
O motorista lhe cumprimentou educadamente em italiano, e lhe abriu a porta de trás do veículo para que entrasse.
O coração de Paulo acelerava um pouco mais a cada quilômetro percorrido pelas ruas de Roma. As mãos suavam e a respiração estava pesada.
Procurou respirar pausadamente, e tentou tranquilizar seus pensamentos com as lembranças de Mariana.
Em sua mente ele a viu sorrindo. Aquele sorriso genuíno, que eram tão raros em seu rosto, e que ele amava quando eram dedicados especialmente a ele.
"Era tudo por ela.
Ele enfrentaria o que fosse... por ela."
Esse pensamento o fez sorrir.
Deus estaria ao lado dele, Paulo tinha certeza. Ele só precisava ser paciente.
O coração pulou uma batida ao atravessar os portões do Vaticano, que se abriram, dando passagem ao veículo, que seguiu pela estrada principal.
"Eu cheguei até aqui, e não sairei sem minha dispensa."
Ele pensou ao descer do veículo, e respirar profundamente diante daquela construção impactante.
-Saluti figlio mio! (Saudações meu filho!)
Paulo ouviu a saudação que vinha da lateral a escadaria que pretendia iniciar a subida.
Seu rosto se abriu em um sorriso emocionado. Estava diante de seu primeiro confessor, seu exemplo de conduta dentro da igreja, mentor de seu sacerdócio e também um grande amigo. Cardeal Dom Rafael.
O homem de aproximadamente quarenta e poucos anos, olhos e cabelos escuros contrastando com sua pele clara, lhe envolveu em um abraço caloroso e lhe sorriu demostrando que também era grande a sua emoção em revê-lo.
-Nossa, eles vão pegar pesado assim?
Paulo perguntou em meio ao sorriso que dedicava a Dom Rafael.
-E você tinha dúvidas, figlio mio?
Estou aqui em uma missão, na qual pretendo obter êxito.
Dom Rafael disse em meio ao sorriso amigável, enquanto acompanhava Paulo na subida da escadaria que adentrava o grande salão principal.
-Acredite, mio amico, (meu amigo) o embate será inútil. Pois também estou em uma missão, e a derrota, não é uma opção para mim.Vaticano
Cardeal Dom Rafael
Música Tema do Capítulo
Alexandra Burke/ Hallelujah- Aleluia
Capítulo postado, espero que estejam gostando de acompanhar essa história.
Eu estou cada dia mais apaixonada por esses personagens 💗
Me digam se estão gostando, e não esqueçam de votar 😉
Até o próximo capítulo 😘
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Tentação
RomanceMariana perdeu tudo que amava na vida. Ela só encontrou dor por onde passou. Mesmo sendo ainda tão jovem, ela já não tem perspectivas de futuro. Em seu íntimo ela já desistiu. Descrente de que haja um Deus no céu, pois ela não acredita que um Deus...