Capítulo-20

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Fazia dois dias que Padre Lucas havia retornado a capital, com a promessa a Paulo de que retornaria para substituí-lo. Assim que o Arcebispo fosse informado do desejo de Paulo de deixar a batina.
Lucas acreditava que não haveria problemas quanto a isso, afinal, seria muito mais fácil arrumar um substituto para a catedral de Olímpia, do que para a cidadezinha de São Tomás no interior do estado.
Ele mesmo ainda se perguntava se não estaria sofrendo do mesmo surto de loucura de Paulo, porém, já havia dado sua palavra, e ele estava confiante de que seria um bom desafio para sua caminhada como pároco.
Paulo dedicou-se naqueles dias as celebrações que ocorriam todos os dias, por causa da grande quantidade de visitantes na cidade pela ocorrência da festa que ainda duraria toda aquela semana.
Mariana estava se dividindo entre as aulas de reforço de João, e a pequena reforma na recepção da pousada Aconchego, que com muito custo, e a ajuda de Dona Amélia, conseguiu convencer seu Olavo de que era muito necessária.
Mariana ainda ria quando se lembrava da cara de poucos amigos do homem, quando ela lhe pois a par de suas idéias.
"—Não!
Seu Olavo disse, sem sequer desviar o olhar do programa de auditório que passava na tv aquela hora.
—Olavo, deixa de ser turrão, homem! A menina só está querendo ajudar a melhorar esse muquifo que você chama de recepção.
Dona Amélia disse brava, porém sem surtir nenhum efeito no marido, que continuou a ignorá-las.
—Deixa Dona Amélia, minha ideia era melhorar a entrada da pousada, porque a primeira vista, não tem nada de aconchegante aqui.
Mariana disse, sabendo que acertaria no orgulho do homem, que mesmo convivendo com ele a pouco tempo, aprendeu a gostar e a respeitar.
—Aconchego não é um lugar, mocinha. Aconchego são as pessoas que trabalham aqui. São essas pessoas que tornam essa pousada aconchegante para os hóspedes.
Seu Olavo respondeu finalmente fixando seu olhar rabugento em Mariana que conteve o riso.
—Exatamente seu Olavo. Vocês são pessoas maravilhosas, incríveis mesmo. Porém, um hóspede recém chegado, não teria como saber disso, não é?
—A resposta ainda é não. Esse lugar está desse jeito, desde que o recebi como herança de meu pai.
Dona Amélia soltou uma gargalhada alta que só aumentou a indignação do marido.
—Sim, e é por isso que está caindo aos pedaços. O que adianta eu cuidar de tudo lá dentro, se aqui que é o cartão de entrada da pousada, é essa velharia?
Mariana preferiu não se meter nesse quisito, só ouviu o homem a sua frente bufar feito um touro bravo.
—Não temos dinheiro para nenhuma reforma agora mulher. Talvez ano que vem.
Seu Olavo disse, e já havia dado o assunto como encerrado, ao voltar a sua posição inicial, sentado de frente para a tv atrás do balcão.
—Mas, quem disse que precisaria de dinheiro? Eu vi umas latas de tinta guardadas lá atrás, e podemos trocar essas cadeiras antigas, pelas poltronas que ficam na varanda. Quase ninguém fica lá, os hóspedes preferem a sala de chá de Dona Amélia.
Podemos trocar esse tapete pelo que está no corredor do segundo andar. Acho que ali nem precisa de um tapete.
Como o senhor pode ver, são pequenas mudanças, não uma reforma completa.
O homem gastou alguns minutos pensando a respeito de tudo que Mariana havia dito.
—Não vai gastar dinheiro?
—Não senhor, tem a minha palavra.
Mariana e Dona Amélia trocaram um olhar cúmplice, enquanto aguardavam a resposta de Olavo.
—Tá, tá. Façam como quiserem, só não me perturbem mais.
Seu Olavo disse abanando a mão em um gesto para que as duas o deixassem em paz."
O pobre homem, não fazia ideia de que acabaria tendo muito mais participação nas tais "pequenas mudanças" do que ele gostaria.
Mariana disfarçava o riso ao segurar a escada para que seu Olavo terminasse de colocar os pregos para que Angélica pendurasse os quadros florais que ela mesma havia pintado e presenteado dona Amélia.
Adele arrastava os móveis de um lado para o outro procurando uma posição que a agradasse.
O homem não parava de resmungar, que as três estavam fazendo muito barulho, e não sabiam sequer pregar um prego na parede, indo ele mesmo resolver o problema. E assim foi também com as tintas que precisavam ser diluídas, e elas não faziam ideia de como fazer isso. As trocas das cortinas e muito mais.
Por fim, Seu Olavo havia chegado a conclusão de que preferia ter pago pessoas que sabiam o que estavam fazendo, para realizar as tais mudanças, pelo menos ele não teria perdido três jogos importantes do campeonato que estava acompanhando.
Porém, na quinta feira, quando tudo estava como Mariana havia pensado, até ele foi obrigado a reconhecer que o lugar ganhara uma aparência totalmente diferente e muito mais aconchegante, como Mariana prometera. E o mais importante, sem perder a identidade de pousada rústica que era a características da Aconchego.

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