Capítulo-1

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O tempo estava frio lá fora. Ventava bastante, porém, nada que fizesse Padre Paulo ficar na cama até um pouco mais tarde.
Logo que os primeiros raios de sol fizeram a tentativa de sair por detrás das nuvens, ele já estava de pé.
Vestido com uma calça e casaco de moletom cinza, ele saiu para correr. Já era um costume, adquirido desde muito jovem. Os exercícios físicos eram sua inspiração, depois do sacerdócio é claro.
Paulo dedicava sua vida a igreja, desde que havia encontrado a sua vocação.
Já era padre a cinco anos, porém ainda tinha dificuldades em aceitar certas normas da igreja, que segundo ele, só existiam para afastar os jovens da religião.
Paulo iniciou sua corrida, e por onde passava, era cumprimentado brevemente pelos moradores da cidade, que já estavam nas ruas.
Ele adentrou a trilha arborizada que o levaria ao parque florestal, onde já não haveria mais ninguém.
Correu até o alto da colina, desviando das árvores que vez ou outra estendiam seus galhos pelo caminho.
Do alto ele podia ver toda a cidade de São Tomás. Era uma vista encantadora. Ele nunca se cansava de admirar tamanha beleza, criada em parte pelo homem e em parte por Deus.
Paulo descansou um pouco, antes de retomar a corrida de volta a casa paroquial, onde morava desde que chegara a cidade há alguns meses, para substituir padre Ancelmo, que havia falecido decorrente da idade já muito avançada.
No início, os paroquianos estranharam as mudanças drásticas as quais ele havia submetido a paróquia, e até mesmo a sua juventude era motivo de desconfiança. Apesar de já ter 35 anos, demorou até conseguir conquistar a simpatia de todos. Mas ele acreditava ter conseguido.
—Bom dia Padre, sua benção!
Duas jovens uniformizadas, disseram ao mesmo tempo, ao passarem por ele na rua em frente a igreja.
—Deus as abençoe, queridas. Tenham um ótimo dia.
As duas acenam sorridentes e seguem em direção ao colégio municipal, que não ficava muito longe dali.
Paulo desejava ir direto para casa tomar um banho, pois estava pingando suor, porém antes que conseguisse subir os degraus na frente da igreja, foi parado por duas fiéis, que precisavam de sua orientação sobre os últimos preparativos para a festa do padroeiro, que já estavam atrasados, em decorrência da morte do antigo pároco.
Levou mais tempo do que desejava para conseguir dispensar as senhoras, quando se deu conta, já passavam das nove horas.
Cruzou finalmente as portas da igreja pela lateral do prédio antigo, e seguiu para casa, onde após tomar seu banho, se vestiu para dar início ao seu dia na comunidade.
Uma das coisas que causaram grande estranheza nos moradores, foi o fato de Paulo não usar a batina habitualmente, somente durante as missas, ou em ocasiões específicas, como casamentos, batizados, sepultamentos, ou dias de confissões. Fora isso, ele usava calça e camisa social pretas, e o colarinho clerical. O único acessório que o diferenciava de um homem comum.
Sua beleza também não era muito bem vista pelas paroquianas mais idosas. Que julgavam os olhos verdes e os cabelos claros do padre, juntamente com o corpo em boa forma, do qual ele cuidava com afinco, muitos motivos para causarem pensamentos impuros nas jovens frequentadoras da igreja.
Paulo ria ao ouvir tamanho absurdo. Ora, então ele precisava ser feio para fazer o trabalho de Deus?
Ele seguia ignorando o assunto. Para Paulo, a batina era algo sagrado, porém ela não definia quem ele era. Ele era padre, com ou sem a batina. O sacerdócio estava nele, não nas roupas que vestia. E o povo daquela cidade, teria que se acostumar a isso.
Durante toda a manhã, padre Paulo esteve envolvido com os preparativos da festa do padroeiro. Parou apenas para almoçar e no início da tarde, acompanhava o ensaio do coro das crianças da creche paroquial, que finalizaria os festejos do dia de São Tomás.
—As crianças estão muito afinadas Adele, você fez um belíssimo trabalho. Parabéns.
Paulo disse dedicando um sorriso genuíno a professora.
—Não foi nada padre, elas é que são pequenos anjos, o mérito é todo delas.
A jovem de belos olhos castanhos disse sorridente. Ela continuou observando o padre, depois que ele se despediu, e já se dirigia para a saída, parando vez ou outra para cumprimentar os pais, que chegavam para buscar as crianças.
—Deus me perdoe!
—Deus vai ter que te perdoar por que amiga?
Angélica, perguntou surpreendendo a amiga, que quase morreu de susto, ao perceber que havia falado em voz alta o pensamento que havia tido.
—Angélica você quer me matar de susto!?
—Eita que tá afogueada hein! Pelo jeito o pecado é dos grandes.
Ela diz rindo da cara da amiga de longa data. E ao seguir o olhar de Adele, ela pôde ter certeza do que afirmou.
—Adele, Adele. Deixa sua mãe ver você espichando o olho pro lado do padre. Ela te frita em óleo quente.
—Fala baixo! Ficou doida!?
Adele puxa a amiga para longe dali, mas não antes de soltar mais um suspiro ao ver o padre atravessar o portão conversando com um dos pais. E assim era com a maioria das jovens da cidade. Padre Paulo provocava suspiros por onde passava. Ele fingia não perceber, já estava habituado a isso. Porém, desde que decidiu dedicar sua vida a Deus e a igreja, era fiel aos seus votos. E a muito tempo havia abdicado do homem. Sendo apenas o padre.
Paulo não tinha problemas com isso. Achava normal as moças admirá-lo, desde que elas parassem por aí. E desde que havia chegado a cidade, elas estavam se comportando, e ele esperava que continuassem assim.
****
A noite começava a cair. Um vento frio, fez com que Mariana apertasse um pouco mais o casaco que vestia sobre o vestido preto, junto ao corpo.
Quando o ônibus parou na pequena rodoviária de São Tomás, ela desceu e atravessou a rua carregando uma velha mala, contendo todos os seus pertences.
Era triste pensar que tudo o que tinha na vida, cabia em apenas uma mala, e nem era tão grande assim.
Ao chegar a hospedaria de nome Aconchego, Mariana quase riu, pois o lugar não tinha nada de aconchegante, porém era o que ela podia pagar por alguns dias, "poucos dias", até conseguir um emprego, se decidisse realmente ficar.
—Eu gostaria de um quarto, por favor.
Ela se dirigiu ao senhor de cabelos grisalhos, que nem a olhou, pois estava muito interessado no que passava na tv naquele momento.
—Por quanto tempo?
O homem perguntou ao finalmente decidir lhe dar atenção.
—E isso importa?
—Na verdade não, mas tenho que perguntar a todos os forasteiros que chegam, por quanto tempo pretendem ficar na cidade.
—Bem, e se eu disser que não sei. Talvez eu decida ficar.
Mariana disse, sem tirar os olhos do homem, que pareceu não gostar muito do que ouviu.
—Sendo assim, você teria que arrumar outro lugar para morar, aqui não é lugar de sem tetos.
Mariana não estava acreditando no que ouvia, foi difícil conter sua indignação para não acabar sendo expulsa do único lugar que poderia pegar por algumas noites.
Não sabia o que esperava. Nunca foi de receber gentilezas. Não adiantava mudar-se de cidade, ou de estado. Parecia que em lugar algum, havia alguém capaz de enxergá-la, e tratá-la com o mínimo de respeito.
—Eu vou pagar, não estou mendigando senhor.
O homem lhe dá um sorriso irônico.
—Ainda.
—O senhor vai ou não me dar a porcaria do quarto?
—Muito bem. São cinquenta reais por noite.
—Cinquenta reais!? O senhor só pode estar de brincadeira.
Mariana disse se esforçando para conter as lágrimas, pois sabia que não teria dinheiro para pagar nem três noites.
—Se não tem dinheiro, por favor retire-se, eu tenho mais o que fazer.
O homem voltou para a frente da tv e não lhe dirigiu mais nenhum olhar.
Mariana pegou sua mala e saiu do lugar, precisava pensar. O vento bagunçou seus cabelos, e ela conteve uma lágrima que insistia em cair.
Atravessou as duas ruas que se estendiam a sua frente e puxando o casaco mais para perto, foi até a praça que havia do outro lado.
Sentou-se em um banco de madeira disposto no lugar e pois a mala ao seu lado.
Olhou ao redor, já estava escurecendo, e não tinha ideia do que faria. Se decidisse se hospedar, mal teria dinheiro para comer, e não sabia se teria a sorte de arrumar logo um emprego, pois em sua vida, sempre que dependera da sorte, nunca a encontrou.
Algumas pessoas passavam por ela, mas nem a notavam. Era invisível. Esse sentimento a acompanhava a algum tempo.
Mariana ergueu os olhos e adiante viu uma igreja, e um sorriso triste escapou de seus lábios.
Essa era a hora de pedir a ajuda de Deus?
Pensou pesarosa.
Ele nunca a ouvira. Não fazia ideia da sua existência. Mariana duvidava de que realmente existisse um Deus. Pois, se existia, ele era bem cruel.
O pensamento a fez se arrepiar inteira. Ou não, talvez fosse só o frio da noite que já chegava.

 Ou não, talvez fosse só o frio da noite que já chegava

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Padre Paulo

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Padre Paulo

Padre Paulo

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Mariana

Imagens meramente ilustrativasTexto ainda sem correção

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Imagens meramente ilustrativas
Texto ainda sem correção

Olá pessoal!!!
Vamos dar início a uma nova história.
Tentação está iniciando e esse capítulo é para vocês conhecerem um pouquinho de Paulo e Mariana, nossos protagonistas.
Obrigada por estarem comigo em mais um trabalho. Espero que gostem de acompanhar essa história 😘
Não esqueçam de votar e comentar, isso ajuda o livro a ter maior visibilidade 😉

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