Capítulo-13

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Quando saiu da pousada pela manhã, Mariana só queria sair dali. Daquele quarto, onde as lembranças de Paulo estavam tão vívidas em sua mente.
As lágrimas ainda molhavam seu rosto, ao se lembrar do olhar aturdido de Paulo quando a deixou. Ela ainda podia vê-lo ao fechar os olhos.
Passou apressada pela recepção para evitar qualquer questionamento.
Saiu caminhando para fora da cidade, não queria encontrar ninguém. Só queria um lugar para pensar no que faria agora.
Seu coração estava repleto de tristeza, pois tinha conciência de que havia feito tudo que não deveria ter feito. E com isso acabaria perdendo a única pessoa que se tornou tão importante para ela.
Mariana sabia o que precisava fazer, mas estava doendo tanto.
Não sabia se suportaria mais uma perda em sua vida.
Ela caminhou sem rumo, na direção da casa de João, porém, em meio ao caminho se lembrou de um lugar, que o menino falava muito. Onde costumava pescar com o irmão mais velho, quando este ia vizitá-lo.
Era lá que Mariana havia passado toda a manhã, e já o começo da tarde. Estava sentada sobre as pedras que margeavam o rio que cortava a maioria das fazendas da região, com olhar perdido no horizonte.
Se assustou ao ouvir passos e vozes vindas do caminho em meio a mata fechada, onde ela estava.
—Mariana!
—Deus do céu!
Adele e Angélica disseram ao mesmo tempo, ao correrem para encontrá-la.
—Oi.
Mariana as olhava desanimada, e tentando secar suas lágrimas, porém não foi rápida o bastante para que elas não percebessem.
—Oi? Estamos te procurando o dia todo. O que está fazendo aqui? Sozinha Mariana, que perigo.
Adele estava verdadeiramente assustada. Muitas eram as histórias de pessoas que entraram nas águas daquele rio, e nunca mais saíram.
—Não briga com ela, Adele. Não está vendo que ela estava chorando.
Mariana faz que não com a cabeça, e se deixa ser puxada pelas duas para longe da margem.
—Me desculpem eu... só precisava de um lugar pra pensar. Me lembrei que João me falou desse lugar.
As três se sentaram a sombra de uma árvore, e Mariana percebeu que as duas aguardavam que ela dissesse algo, e isso era justamente o que ela não desejava.
Mariana suspirou pesadamente, e Adele percebeu que ela não pretendia falar, porém ela fazia uma ideia do que afligia Mariana, e trocou um olhar preocupado com Angélica que era perspicaz demais para também não ter percebido.
—Não quer contar por que está aqui sozinha?
Adele perguntou pegando uma das mãos daquela que ela já considerava uma amiga.
—Brigou com o padre?
Angélica questionou, trazendo o olhar surpreso de Mariana, e o indignado de Adele para ela.
—Angélica!
Adele a repreendeu, mas ela deu de ombros, para ela estava óbvio que era isso.
—Por que perguntou isso? Por que eu brigaria com... o padre Paulo?
—Porque fomos procurar você na igreja, e o padre só faltou nos expulsar de lá a ponta pés.
—Angélica, não exagera.
Mariana olhava as duas sem saber o que dizer.
—Ué, e tô mentindo? Ele só não nos expulsou, quando dissemos que você tinha sumido.
—Eu não sumi. Estava aqui o tempo todo.
Mariana se defendeu, porém as duas olham-na indignadas.
—É, só não disse a ninguém. E se tivesse dito, alguém lhe diria para não fazer isso.
Adele era a mais velha das três, e acabava se vendo na obrigação de colocar algum juízo na cabeça das amigas.
—O padre ficou preocupado. Aposto que se ele não tivesse que se preparar para a missa na praça, também a estaria procurando.
—Isso eu duvido.
Mariana soltou, e se arrependeu em seguida, mas os olhares das duas estavam fixados nela.
—Quero dizer que... o padre Paulo tem mais o que fazer do que ficar pensando no meu paradeiro meninas.
Angélica sorri.
—Bom, meu celular diz o contrário.
Adele ri da palhaçada de Angélica.
—É, o meu também.
—O que querem dizer?
Mariana perguntou, enquanto as duas mexiam nos celulares buscando algo, e viraram os aparelhos para ela ao mesmo tempo.
Uma lágrima teimosa desceu pelo rosto de Mariana ao ver as inúmeras mensagens de Paulo querendo saber se já a haviam encontrado.
—Pode falar Mariana. Vamos guardar segredo qualquer coisa que nos conte.
Não é Angélica?
—Claro que sim. Somos suas amigas Mariana. Se é pra chorar, vamos chorar juntas.
As palavras de Angélica fizeram com que as lágrimas agora viessem sem parar.
Havia feito amigos ali, Adele, Angélica, dona Amélia, João e sua família. Não era só de Paulo que sentiria falta quando tivesse que partir. Há muito tempo, não se sentia acolhida em um lugar, como se sentia em São Tomás. Não era justo ter que ficar sozinha outra vez.
Mariana se perguntava o que havia feito para merecer tudo o que se passava em sua vida.
"Como assim o que fez Mariana? Você só beijou um padre. Só isso.
Sua consciência respondeu.
—Fala Mariana, põe pra fora. As vezes falar, faz você ver as coisas por uma nova perspectiva.
Adele tentou consolá-la.
—De repente o problema nem é tão grave assim. Já já vocês superam.
Angélica também tentou, e teve êxito. Pelo menos Mariana a olhou.
—Eu o beijei.
Mariana disse de uma vez. E teria rido das caras de espanto das duas, se não estivesse tão devastada.
—Wow! Isso é...
—Um problemão.
Adele completou a fala de Angélica que parecia ter perdido a voz.
—Ainda acham que poderemos superar?
Mariana as questionou secando o rosto com as mãos e buscando o ar.
Sabia que não deveria ter contado algo tão grave, e que não dizia respeito só a ela, mas não suportava mais tantos questionamentos em sua cabeça.
—Não foi algo leviano, só... aconteceu. Por mais que eu tenha tentado evitar, porque eu tentei, juro!
—Ei calma, calma Mariana. Coloque a coisa em um contexto. Você o beijou? Assim, ele simplesmente ficou lá... parado?
A pergunta fez Mariana pensar a respeito. E a resposta, era um problema ainda maior.
—Não, não ficou.
—Deus do céu, eu não sei se quero participar dessa conversa não. Vamos todas para o inferno.
Angélica disse se levantando e fazendo o sinal da cruz por vezes sucessivas na própria fronte e nas das duas que continuavam sentadas.
—Para de bobagem Angélica, senta aí, ou vai embora. Se não vai ajudar não atrapalha.
Adele ralhou com a amiga que decidiu voltar a se sentar.
—Mariana?
—Acho que... terei que ir embora daqui.
Não posso continuar a vê-lo, trombando com ele em cada esquina. Morando de frente para a igreja. Porque toda vez que eu voltar a vê-lo, eu vou me lembrar daquele beijo.
—Deus do céu, tú se apaixonou pelo padre!
Angélica constatou.
—Eu já estava apaixonada antes. O beijo, foi só a cereja do bolo.
Mariana disse em um sorriso triste.
—Cereja não, maçã né? Não era o fruto proibido?
Angélica disse fazendo as três darem risadas.
—Cala a boca Angélica!
Adele deu um tapa no ombro da jovem que se encolheu fingindo dor.
Mariana olhava as duas a sua frente, e seu coração se apertou mais um pouco. Já não se lembrava de como era ter amigas. Amigas capazes de te fazer rir, mesmo quando tudo em você só quer chorar.
O pensamento foi interrompido pelo som de mensagem no celular de Adele, que se apressou em olhar.
—Padre Paulo quer saber se a encontramos. O que digo a ele?
—Ora a verdade. Tá doida, vai mentir pro padre?
Angélica e Adele olhavam Mariana alarmadas. Ela não queria que Paulo se sentisse culpado por nada. Já bastava tudo que havia acontecido, que com certeza, pelo jeito que ele havia saído daquele quarto, já o estava atormentando.
—Diga que sim, que estou bem.
—Só isso? Depois de ficar sumida o dia todo?
Adele questionou, e a demora em responder, fez com que o celular tocasse, assustando as três.
O nome PADRE PAULO, estava iluminado na tela.
—Atende logo Adele!
—Tá, tá. Fiquem quietas.
"Oi padre, sua benção!"
"Por que visualizou e não respondeu a minha mensagem, Adele? Encontraram a Mariana?"
"Sim, sim. Encontramos padre. Ela está bem, na verdade estamos com ela agora."
Adele pôde ouvir um suspiro de alívio do outro lado, antes dele voltar a falar.
"Passe o telefone para Mariana, por favor Adele."
Adele olhou para Mariana que nem respirava observando a conversa ao lado de Angélica.
—Ele quer falar com você.
Adele sussurrou, tapando o microfone do celular.
—Não!
—Sim, ele não perguntou se você queria, ele pediu para te passar o telefone, toma atende.
Adele empurrou o celular na mão de Mariana, e puxou Angélica para longe, dando aos dois um pouco de privacidade.
"Mariana?"
"Paulo."
"Eu estava preocupado, por Deus! Aonde você estava?"
Mariana sente as lágrimas voltarem. Tudo aquilo era tão injusto. Por que ela tinha que se apaixonar por um homem comprometido?
"Eu estou bem Paulo, me desculpe por preocupá-lo, não foi a minha intenção. Eu só... precisava pensar, e... tomei uma decisão. Podemos conversar em algum momento?"
"Acho que isso seria inevitável, depois... do que houve."
"Acredito que sim."
Mariana secou suas lágrimas, não queria que Paulo percebesse que estava chorando.
"Você vem a missa?"
A pergunta a pegou de surpresa. Como Paulo achava que ela poderia estar diante dele, vestido em sua batina.
"Não, Paulo, eu não vou."
"Por favor, Mariana. Farei um sermão para você. Estarei esperando.
"Paulo eu...
O sinal de que a ligação havia sido encerrada soou em seu ouvido.
—Ele desligou.
Mariana disse ainda sem acreditar.
—O que ele disse?
Angélica quis saber, e levou uma cotovelada de Adele que a olhou brava.
—Ai, que coisa.
Angélica resmungou saindo de perto de Adele e indo ficar de braços dados com Mariana enquanto faziam o caminho de volta a cidade.
—Ele pediu que eu vá a missa.
Disse que vai fazer o sermão para mim. O que ele quis dizer com isso?
—Talvez ele faça algum tipo de exorcismo, pra te livrar desse espírito beijoquei... Aaaiii!
Mariana não conseguiu conter a gargalhada com o tapa que Adele acertou na cabeça de Angélica.
—Cala essa boca Angélica!
—Caramba! Tomara que ele exorcize você também. Tá possuída por esse espírito violento.
Angélica disse e correu, fazendo as duas rirem.
"Vou sentir muitas saudades de vocês meninas."
O coração de Mariana já estava saudoso.

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Música tema do Capítulo

Sonhos- Cris Duran
Música linda. Amo Demais.

Mariana tomou uma decisão 🤔 Acham que ela está fazendo a coisa certa? Fugir do sentimento vai resolver a situação dos dois?
Vamos saber nos próximos capítulos 🥰
Beijinhos queridas.
Espero que gostem do capítulo.
Não esqueçam de votar e comentar 😉

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