Padre Paulo, caminhava pela calçada, retornando para a casa paroquial, depois de conversar com o pai do pequeno João.
O menino anda com muitas dificuldades na escola, e os pais acreditam que o problema do menino é espiritual. Se recusam a levá-lo a um psicólogo.
O padre sabia que teria bastante trabalho para convencê-los de que o menino tinha problemas de aprendizado, e não estava sendo assombrado por nenhum espírito maligno.
Paulo ainda se chocava com a ignorância daquele povo. Ele vinha de uma cidade grande, ainda não estava acostumado as crendices e superstições de uma cidade pequena. Mas estava tentando se habituar.
Parou em frente a igreja, e observou o céu coberto por nuvens negras, anunciando que em breve iria chover.
Seu olhar vislumbrou a silueta de uma pessoa sentada em um dos bancos da praça.
Ora, mas quem estaria sentado na praça naquela friagem? E ainda por cima com os céus anunciando chuva?
Foi o que ele pensou, ao atravessar a rua em frente a igreja, e caminhar até a praça.
O lugar era iluminando por algumas luminárias, porém era muito arborizada, o que só lhe permitiu perceber que se tratava de uma mulher, quando já estava bem perto.
Padre Paulo, parou por um momento, analisando a jovem a sua frente, que parecia procurar algo em sua mala.
Ele não a conhecia. Deveria ser de fora, ele pensou. Talvez estivesse esperando alguém vir buscá-la. Porém, a chuva não tardaria.
—Olá!
Ele a saudou, e viu o quanto a jovem ficou assustada com a sua aproximação repentina
—Desculpe, eu não quis assustá-la. Me chamo Paulo!
Ele disse, dando mais um passo na direção do banco e lhe estendendo a mão.
Mariana estava surpresa, e por isso demorou um pouco a responder ao cumprimento do homem a sua frente.
—Mariana.
Ela disse apenas e apertou a mão de Paulo com delicadeza.
—Minha nossa, você está congelando.
Paulo disse, e imediatamente retirou o sobretudo que usava e o colocou sobre os ombros de Mariana, sem esperar que ela dissesse qualquer coisa. E ela estava realmente congelando. Seu corpo tinha arrepios, mas ela não conseguia discernir se eram provenientes do frio, ou se eram devido ao olhar daquele homem, e agora estava mergulhada no perfume dele.
—Mariana, o que faz aqui? Está muito frio, e logo vai chover. Está esperando por alguém?
—N... Não. Eu cheguei... no ônibus.
Disse com a voz trêmula.
—E não tem lugar para ficar?
Mariana apenas balançou a cabeça em negativo e abaixou o olhar. Pensou que tão logo o homem percebesse que ela era uma sem eira nem beira, deixaria-na ali mesmo.
—Venha Mariana!
Paulo pegou a mala de Mariana e seguiu em direção a hospedaria. Mariana ficou um pouco atordoada com a atitude de Paulo, só então começou a andar apressada atrás dele.
—Ei, é Paulo né?
Eu não tenho dinheiro suficiente pra ficar na hospedaria.
Mariana já precisava correr para alcança-lo, porém ele só continuou andando.
—Ei, senhor, senhor!
Paulo adentrou a hospedaria, com Mariana atrás dele.
O homem de cabelos grisalhos sorriu assim que viu o padre, porém logo o sorriso se foi ao deparar-se com Mariana atrás dele.
—Boa noite senhor Olavo, como tem passado? A esposa, vai bem?
—Boa noite padre. Vamos bem sim senhor.
Paulo pois a mala de Mariana no chão ao seu lado, e colocou as mãos nos bolsos. Precisava convencer aquele homem a fazer uma boa ação. E o conhecendo bem, sabia que a missão não seria das mais fáceis.
—Graças a Deus!
Senhor Olavo, talvez o senhor possa me ajudar.
O homem o olha desconfiado, porém, lhe dá toda a sua atenção.
—Do que o senhor precisa?
—Minha amiga Mariana...
Paulo pega no braço de Mariana, trazendo-a para o seu lado, no que ela reagiu com certa relutância.
—... está visitando a cidade, e pelo tardar da hora, não terei como arranjar hospedagem para ela, antes que a chuva caia. Será que o senhor poderia recebê-la aqui? Eu ficaria muito agradecido.
Paulo disse fechando as mãos a frente do corpo, como em uma súplica.
O senhor Olavo olhou para Mariana, que olhava para qualquer outro lugar, menos para ele.
—Por que não disse que era amiga do padre?
A voz nada gentil, a interpelou, fazendo com que Mariana fixasse seu olhar no homem desagradável a sua frente.
—E o senhor me deu tempo de dizer qualquer coisa?
Mariana perguntou, já querendo pegar sua mala e sair dali. Era evidente que aquele homem não iria ajudar.
Quando ela fez menção de fazer isso, uma senhora surgiu da lateral da recepção, e assim que viu Paulo, lhe abriu o maior e mais acolhedores dos sorrisos.
—Padre Paulo, veio finalmente provar meus biscoitos?
Chegou na hora certa. Acabei de fazer uma fornada caprichada.
Disse a gentil senhora já o puxando de lado na mesma direção de onde havia vindo.
—Dona Amélia, eu vim ver se o senhor Olavo poderia hospedar a minha amiga Mariana. O ônibus chegou tarde, e... não terei como hospedá-la na casa paroquial.
Paulo disse a senhora, como se lhe contasse um segredo.
Ela riu balançando cabeça.
—Não, é claro que não.
E por que a moça ainda não está acomodada Olavo?
Dona Amélia questionou o marido, dando-lhe um olhar enviesado.
—Eu já ia ver isso Amélia. Já ia ver.
O homem grisalho, não muito satisfeito se encaminhou para trás do balcão, pegou uma chave e entregou ao padre, que repassou para Mariana.
—Obrigada, é só... até amanhã.
Mariana agradeceu, e foi surpreendida pela senhora que lhe pegou pela mão e a encaminhou, juntamente com Paulo para a lateral do saguão de entrada.
—Você pode ficar o tempo que precisar querida. É amiga do padre Paulo, então é nossa amiga.
Agora venham, venham, antes que os biscoitos esfriem.
Dona Amélia os guiou até uma pequena sala de estar, muito aconchegante, com poltronas em madeira escura e almofadas floridas e cortinas claras, uma mesa de centro onde serviu-lhes uma bandeja de biscoitos que cheiravam maravilhosamente bem, e um bule de chá fumegante.
Olhando ao redor, Mariana pode entender o nome da Pousada afinal.
Paulo e Mariana se acomodaram lado a lado em uma das poltronas, enquanto dona Amélia foi levar biscoitos e chá para o marido.
—Você não se apresentou como padre.
Mariana disse após tomar um gole do seu chá e quase suspirar, ao senti-lo aquece-la de imediato.
—O colarinho não me denunciou?
—Eu realmente não reparei.
—Engraçado, normalmente é a primeira coisa que as pessoas veem, quando olham para mim.
Paulo disse em um sorriso que fez o coração de Mariana saltar dentro do peito.
—Eu duvido muito.
—Como disse?
Paulo perguntou, quase se engasgando com o chá que acabava de levar a boca.
Mariana repreendeu-se mentalmente por ter colocado o pensamento em palavras.
—Eu disse que... sou mesmo distraída.
Paulo apenas acenou em concordância, e tomou o último gole de seu chá.
—Bem, Mariana, você já está instalada, eu preciso ir. Daqui a pouco a chuva vai cair, e ficarei preso aqui.
Ele disse se levantando e sendo seguido por Mariana até a porta.
—Muito obrigada por tudo que fez por mim, é... Paulo. Posso chamá-lo assim?
Ela perguntou, unindo as mãos do padre as suas em agradecimento. O olhar dele acompanhando o seu gesto, lhe fez soltá-lo de imediato.
Paulo a olhava divertido.
—É o meu nome, não?
—Sim, é sim.
—Fique bem Mariana. Se precisar de algo...
Paulo apontou para fora, na direção da igreja do outro lado da praça.
—... Sabe onde me encontrar.
—Obrigada.
Paulo seguiu para a saída, despediu-se de Dona Amélia e seu Olavo no caminho e partiu.
Mariana, nem percebeu que sorria, e espantou-se ao notar.
Era muita ironia, ter encontrado ajuda onde menos esperava.
Ela pensou acariciando o tecido do sobretudo que ainda usava.
Ela permaneceu na porta, olhando todo o percurso que Paulo fez até chegar a igreja.
A alguma distância, debruçados ao balcão da recepção, Dona Amélia e seu Olavo a observavam e se entreolharam, com certa preocupação.
Já a porta da igreja, Paulo podia sentir o olhar de Mariana que o acompanhava, ele era acostumado aos olhares, costumava ignorá-los com frequência, porém aquele olhar lhe causou certa inquietação, e isso sim poderia ser um problema.Paulo
Mariana
Seu Olavo
Dona Amélia
Imagens meramente ilustrativas
Texto ainda sem correçãoMúsica Tema do Capítulo
So Beautiful- Chris de Burgh/ Tão linda
Mais um capítulo para vocês conhecerem um pouquinho mais dos personagens 😘
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Tentação
RomanceMariana perdeu tudo que amava na vida. Ela só encontrou dor por onde passou. Mesmo sendo ainda tão jovem, ela já não tem perspectivas de futuro. Em seu íntimo ela já desistiu. Descrente de que haja um Deus no céu, pois ela não acredita que um Deus...