Capítulo-2

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Padre Paulo, caminhava pela calçada, retornando para a casa paroquial, depois de conversar com o pai do pequeno João.
O menino anda com muitas dificuldades na escola, e os pais acreditam que o problema do menino é espiritual. Se recusam a levá-lo a um psicólogo.
O padre sabia que teria bastante trabalho para convencê-los de que o menino tinha problemas de aprendizado, e não estava sendo assombrado por nenhum espírito maligno.
Paulo ainda se chocava com a ignorância daquele povo. Ele vinha de uma cidade grande, ainda não estava acostumado as crendices e superstições de uma cidade pequena. Mas estava tentando se habituar.
Parou em frente a igreja, e observou o céu coberto por nuvens negras, anunciando que em breve iria chover.
Seu olhar vislumbrou a silueta de uma pessoa sentada em um dos bancos da praça.
Ora, mas quem estaria sentado na praça naquela friagem? E ainda por cima com os céus anunciando chuva?
Foi o que ele pensou, ao atravessar a rua em frente a igreja, e caminhar até a praça.
O lugar era iluminando por algumas luminárias, porém era muito arborizada, o que só lhe permitiu perceber que se tratava de uma mulher, quando já estava bem perto.
Padre Paulo, parou por um momento, analisando a jovem a sua frente, que parecia procurar algo em sua mala.
Ele não a conhecia. Deveria ser de fora, ele pensou. Talvez estivesse esperando alguém vir buscá-la. Porém, a chuva não tardaria.
—Olá!
Ele a saudou, e viu o quanto a jovem ficou assustada com a sua aproximação repentina
—Desculpe, eu não quis assustá-la. Me chamo Paulo!
Ele disse, dando mais um passo na direção do banco e lhe estendendo a mão.
Mariana estava surpresa, e por isso demorou um pouco a responder ao cumprimento do homem a sua frente.
—Mariana.
Ela disse apenas e apertou a mão de Paulo com delicadeza.
—Minha nossa, você está congelando.
Paulo disse, e imediatamente retirou o sobretudo que usava e o colocou sobre os ombros de Mariana, sem esperar que ela dissesse qualquer coisa. E ela estava realmente congelando. Seu corpo tinha arrepios, mas ela não conseguia discernir se eram provenientes do frio, ou se eram devido ao olhar daquele homem, e agora estava mergulhada no perfume dele.
—Mariana, o que faz aqui? Está muito frio, e logo vai chover. Está esperando por alguém?
—N... Não. Eu cheguei... no ônibus.
Disse com a voz trêmula.
—E não tem lugar para ficar?
Mariana apenas balançou a cabeça em negativo e abaixou o olhar. Pensou que tão logo o homem percebesse que ela era uma sem eira nem beira, deixaria-na ali mesmo.
—Venha Mariana!
Paulo pegou a mala de Mariana e seguiu em direção a hospedaria. Mariana ficou um pouco atordoada com a atitude de Paulo, só então começou a andar apressada atrás dele.
—Ei, é Paulo né?
Eu não tenho dinheiro suficiente pra ficar na hospedaria.
Mariana já precisava correr para alcança-lo, porém ele só continuou andando.
—Ei, senhor, senhor!
Paulo adentrou a hospedaria, com Mariana atrás dele.
O homem de cabelos grisalhos sorriu assim que viu o padre, porém logo o sorriso se foi ao deparar-se com Mariana atrás dele.
—Boa noite senhor Olavo, como tem passado? A esposa, vai bem?
—Boa noite padre. Vamos bem sim senhor.
Paulo pois a mala de Mariana no chão ao seu lado, e colocou as mãos nos bolsos. Precisava convencer aquele homem a fazer uma boa ação. E o conhecendo bem, sabia que a missão não seria das mais fáceis.
—Graças a Deus!
Senhor Olavo, talvez o senhor possa me ajudar.
O homem o olha desconfiado, porém, lhe dá toda a sua atenção.
—Do que o senhor precisa?
—Minha amiga Mariana...
Paulo pega no braço de Mariana, trazendo-a para o seu lado, no que ela reagiu com certa relutância.
—... está visitando a cidade, e pelo tardar da hora, não terei como arranjar hospedagem para ela, antes que a chuva caia. Será que o senhor poderia recebê-la aqui? Eu ficaria muito agradecido.
Paulo disse fechando as mãos a frente do corpo, como em uma súplica.
O senhor Olavo olhou para Mariana, que olhava para qualquer outro lugar, menos para ele.
—Por que não disse que era amiga do padre?
A voz nada gentil, a interpelou, fazendo com que Mariana fixasse seu olhar no homem desagradável a sua frente.
—E o senhor me deu tempo de dizer qualquer coisa?
Mariana perguntou, já querendo pegar sua mala e sair dali. Era evidente que aquele homem não iria ajudar.
Quando ela fez menção de fazer isso, uma senhora surgiu da lateral da recepção, e assim que viu Paulo, lhe abriu o maior e mais acolhedores dos sorrisos.
—Padre Paulo, veio finalmente provar meus biscoitos?
Chegou na hora certa. Acabei de fazer uma fornada caprichada.
Disse a gentil senhora já o puxando de lado na mesma direção de onde havia vindo.
—Dona Amélia, eu vim ver se o senhor Olavo poderia hospedar a minha amiga Mariana. O ônibus chegou tarde, e... não terei como hospedá-la na casa paroquial.
Paulo disse a senhora, como se lhe contasse um segredo.
Ela riu balançando cabeça.
—Não, é claro que não.
E por que a moça ainda não está acomodada Olavo?
Dona Amélia questionou o marido, dando-lhe um olhar enviesado.
—Eu já ia ver isso Amélia. Já ia ver.
O homem grisalho, não muito satisfeito se encaminhou para trás do balcão, pegou uma chave e entregou ao padre, que repassou para Mariana.
—Obrigada, é só... até amanhã.
Mariana agradeceu, e foi surpreendida pela senhora que lhe pegou pela mão e a encaminhou, juntamente com Paulo para a lateral do saguão de entrada.
—Você pode ficar o tempo que precisar querida. É amiga do padre Paulo, então é nossa amiga.
Agora venham, venham, antes que os biscoitos esfriem.
Dona Amélia os guiou até uma pequena sala de estar, muito aconchegante, com poltronas em madeira escura e almofadas floridas e cortinas claras, uma mesa de centro onde serviu-lhes uma bandeja de biscoitos que cheiravam maravilhosamente bem, e um bule de chá fumegante.
Olhando ao redor, Mariana pode entender o nome da Pousada afinal.
Paulo e Mariana se acomodaram lado a lado em uma das poltronas, enquanto dona Amélia foi levar biscoitos e chá para o marido.
—Você não se apresentou como padre.
Mariana disse após tomar um gole do seu chá e quase suspirar, ao senti-lo aquece-la de imediato.
—O colarinho não me denunciou?
—Eu realmente não reparei.
—Engraçado, normalmente é a primeira coisa que as pessoas veem, quando olham para mim.
Paulo disse em um sorriso que fez o coração de Mariana saltar dentro do peito.
—Eu duvido muito.
—Como disse?
Paulo perguntou, quase se engasgando com o chá que acabava de levar a boca.
Mariana repreendeu-se mentalmente por ter colocado o pensamento em palavras.
—Eu disse que... sou mesmo distraída.
Paulo apenas acenou em concordância, e tomou o último gole de seu chá.
—Bem, Mariana, você já está instalada, eu preciso ir. Daqui a pouco a chuva vai cair, e ficarei preso aqui.
Ele disse se levantando e sendo seguido por Mariana até a porta.
—Muito obrigada por tudo que fez por mim, é... Paulo. Posso chamá-lo assim?
Ela perguntou, unindo as mãos do padre as suas em agradecimento. O olhar dele acompanhando o seu gesto, lhe fez soltá-lo de imediato.
Paulo a olhava divertido.
—É o meu nome, não?
—Sim, é sim.
—Fique bem Mariana. Se precisar de algo...
Paulo apontou para fora, na direção da igreja do outro lado da praça.
—... Sabe onde me encontrar.
—Obrigada.
Paulo seguiu para a saída, despediu-se de Dona Amélia e seu Olavo no caminho e partiu.
Mariana, nem percebeu que sorria, e espantou-se ao notar.
Era muita ironia, ter encontrado ajuda onde menos esperava.
Ela pensou acariciando o tecido do sobretudo que ainda usava.
Ela permaneceu na porta, olhando todo o percurso que Paulo fez até chegar a igreja.
A alguma distância, debruçados ao balcão da recepção, Dona Amélia e seu Olavo a observavam e se entreolharam, com certa preocupação.
Já a porta da igreja, Paulo podia sentir o olhar de Mariana que o acompanhava, ele era acostumado aos olhares, costumava ignorá-los com frequência, porém aquele olhar lhe causou certa inquietação, e isso sim poderia ser um problema.

Paulo

Paulo

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Mariana

Mariana

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Seu Olavo

Seu Olavo

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Dona Amélia

Dona Amélia

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Imagens meramente ilustrativas
Texto ainda sem correção

Música Tema do Capítulo

So Beautiful- Chris de Burgh/ Tão linda

Mais um capítulo para vocês conhecerem um pouquinho mais dos personagens 😘
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