Capítulo-7

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—Eu estou muito ferrada!
Mariana batia na própria testa, sentada a beira da cama, em seu quarto na pousada. Estava agitada, gotinhas de suor se formavam e desciam pelas laterais do rosto.
Ela inda não conseguia entender as batidas erráticas de seu coração ao ver aquele homem em cima do altar dedicando a ela o seu melhor sorriso. Como se... a presença dela ali, o enchesse de alegria.
E não foi só um pensamento seu, ou loucura da sua mente insana. Ele simplesmente disse isso, em voz alta, diante de todos que estavam dentro da igreja, quase a matando de constrangimento.
Se vê-lo vestido em uma batina pregando o evangelho de forma fervorosa, não foi o bastante para apagar aquele fogo que a corroía por dentro, o que mais seria?
— Para com isso Mariana!!!
Há tempos você não se sente tão bem em um lugar, tão acolhida. Vai estragar tudo com essa maluquice?! O homem é padre, é casado com a igreja, enfia isso nessa cabeça!
Ela batia na própria cabeça enquanto falava, e não pôde deixar de rir de si mesma.
—Céus, estou enlouquecendo! Ele está me enlouquecendo.
A frase saiu em meio a um suspiro profundo, antes dela decidir tomar um banho frio e ir se deitar, pois agora tinha um trabalho, e era graças a quem?
Mariana não se permitiu responder, que absolutamente tudo, tudo que estava acontecendo de bom em sua vida, ela devia a ele. Paulo.
Aliás Padre Paulo. Era assim que iria passar a chamá-lo. Quem sabe assim ela parava de achar que ele era..., ele era... padre, ele era padre.
Mas que... parecia se esquecer de vez em quando que era padre, sendo apenas um homem lindo, cativante, apaixonante. E ela estava a um passo de esquecer disso também.
***
Paulo tomou uma sopa bem quente antes de se deitar, estava exausto, porém satisfeito com o dia de trabalho. Ficou surpreso quando ao erguer o olhar para a assembleia, se deparou com os olhos e o sorriso tímido de Mariana.
A forma tão ressentida com a qual ela falou de Deus naquela manhã, o havia chocado. Acreditou que ela seria a última pessoa a colocar os pés na igreja para assistir a missa. Mas ela estava lá, isso era um sinal de que nem tudo estava perdido. Mariana ainda podia fazer as pazes com o Criador, e ele teria prazer em fazer essa intermediação.
Ele sorriu confiante, antes de puxar as cobertas e procurar uma boa posição para dormir. Porém o sono não vinha, e por mais que tentasse não pensar, o resto daquela jovem era o que vinha a sua mente. O olhar as vezes triste como se carregasse toda a dor do mundo, as vezes alegres como os de uma menina, e as vezes... misteriosos como se ocultasse algo que ela está se esforçando muito em esconder.
Paulo se remexeu por sob as cobertas angustiado com o rumo de seus pensamentos. Por que eles sempre voltavam para ela, desde que a conheceu.
Preciso ajudar essa moça em seu reencontro com Deus, para que meus pensamentos possam deixá-la de vez. Era isso. Uma vez findando esse desafio, tudo voltaria ao que era.
Paulo suspirou pesadamente e se forçou a fechar os olhos e dormir, só não esperava sonhar com lindos olhos castanhos em um um rosto adornado por um sorriso triste.
"Paulo estava de pé observando o mar, cujas ondas quebravam próximas aos seus pés. Era uma sensação boa, reconfortante.
Ao longe ouviu a voz de uma criança que corria na sua direção com os olhos brilhantes e um sorriso meigo.
A criança gritou, mas ele não conseguiu entender o que dizia.
Paulo se abaixou para receber o pequeno que só então percebeu ser um menino. Porém quando a criança já estava quase chegando até ele, Paulo a viu. Mariana estava logo atrás e chamou pelo menino, que parou de correr em sua direção, e voltou sua atenção para ela.
Mariana estendeu a mão para o menino, que lhe deu a sua, antes de dedicar um lindo sorriso a Paulo. O mesmo sorriso estava no rosto de Mariana, que seguiu com a criança para longe dele, deixando seu coração entristecido, com uma imensa sensação de perda."
Paulo ainda podia sentir a sensação ao acordar atordoado e perplexo. Ele havia sonhado com Mariana.
Seu coração estava acelerado, buscava por ar e a garganta estava seca.
Paulo levantou-se e foi a cozinha, serviu-se de um copo com água, que bebeu de uma vez, e lavou o rosto jogando água gelada da mesma garrafa que bebera.
Deus! O que foi isso? E... quem era aquela criança?
Mariana havia lhe falado do irmão pequeno que morreu. Era isso, ele havia ficado mexido com a história, tocado pela tristeza da moça. Só podia ser isso.
Paulo suspirou pesadamente e decidiu que não adiantava mais se deitar, porque não conseguiria mais dormir. Estava com seus batimentos cardíacos alterados, precisava se acalmar.
Voltou ao quarto, vestiu uma calça e uma camiseta, jogou um casaco por cima e saiu em direção a pequena área de serviço atrás dos seus tênis.
Calçado, deixou a casa e seguiu para o ginásio da escola municipal, que ficava bem próximo a esquina.
Usou a sua chave para abrir o portão de grades e ascendeu as luzes do lugar, onde costumava treinar com os jovens que faziam parte do time de futebol masculino e feminino.
Nos fundos da quadra havia uma pequena academia com alguns equipamentos que ele costumava usar com frequência.

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