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Às 8h em ponto, o carro antigo que alugamos para que eu chegasse à igreja encostou no meio-fio. O motorista acenou. Obviamente não tinha como não notar sua cliente; afinal, eu estava usando um vestido imenso, um modelo sereia decotadíssimo que caiu perfeitamente nas minhas curvas. Para completar o visual, fiz um penteado sofisticado e uma maquiagem bem carregada no preto, já que a cerimônia religiosa seria à noite. Agarrei meu buquê amarelo e voei para o carro. Sim, amarelo, eu era dada aos clichês! Estava ansiosíssima, mas comecei a me sentir sozinha. Queria que as meninas ou minha mãe estivessem comigo, mas minha mãe achou melhor ir direto para a igreja para organizar tudo por lá e recepcionar nossos convidados.
Às 20h40, o carro parou na esquina da igreja, toda decorada com flores amarelas e luminárias antigas. A essa altura, minhas mãos suavam e
uma dor de barriga monstruosa ameaçava aumentar meu pânico, mas tudo passou milagrosamente assim que vi meu pai caminhando até o carro. Já tínhamos combinado de nos encontrar ali, pois eu não queria dar de cara com Mike antes da cerimônia. Dava azar.– Você está linda, raio de sol – disse meu pai, com os olhos cheios de lágrimas.
– Obrigada, pai. – Abracei-o com força. Meu pai era meu herói. Criou dois filhos trabalhando duro em um banco de investimentos e, acima de tudo, sempre tratou minha mãe como uma rainha. A relação dos dois era de dar inveja a qualquer um. Tinham trinta anos de casados e ainda se amavam como dois adolescentes.
– Querida… – começou. Opa, mau sinal. Normalmente o “querida” vinha sempre antes de um sermão disfarçado. – Você tem certeza do que está prestes a fazer? Digo… Um casamento deveria ser para vida toda… Você tem certeza de que é isso que quer para sua vida, kara? De que esse rapaz é o homem certo?
– Está todo mundo me perguntando a mesma coisa hoje. Você e Eve combinaram? – Dei uma
risadinha, mas por dentro aquela pergunta começava a me incomodar. – Fica tranquilo, seu Jeremiah.Meu pai pegou minha mão e a beijou e depois deixou que seu olhar se perdesse na avenida movimentada. Eu continuava segurando a mão do meu pai quando observei que minha mãe e o pai de Mike, seguidos pelos nossos padrinhos, começaram a entrar na igreja. Abaixei a cabeça para não ver meu noivo antes da hora, pois queria que tudo fosse uma grande surpresa para mim.
Ah, e como seria.
Estava na hora; a ansiedade voltou com força junto com um sentimento que não identifiquei a princípio, seria insegurança? Agora não! Talvez a decepção que emanava de todos os poros do meu pai estivesse me afetando mais do que eu supunha. Empurrei a enxurrada de pensamentos para a porta da qual fugiram e saí do carro. Caminhei ao lado do meu pai, que não disse nem mais uma palavra, mas que segurava minha mão com todas as forças. Eu podia ouvir o fim da Ave Maria que os músicos tocavam e sabia que a marcha nupcial começaria a qualquer momento e que as portas se abririam.
Eu só conseguia pensar em como Mike me olharia. Ele choraria? Sorriria? Não saber acabava com meus nervos. Quando finalmente as portas se abriram e as pessoas levantaram para me receber eu olhei para ele e…
Ele não olhava para mim.
Mike olhava na direção dos padrinhos, mas eu não conseguia ver exatamente para onde, havia muitas pessoas em pé na frente do altar. Meu coração afundou e pela primeira vez na vida quebrei minha tradição: não olhei para o noivo durante alguns segundos. Em vez disso, procurei minha irmã no altar e assim que meus olhos se cruzaram com os de Alex e vi a reprovação que emanava deles, algo que ela tentava ao máximo esconder, uma vontade alucinante de chorar me invadiu, mas não por felicidade.
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A Garota dos Olhos Verdes - Supercorp
Roman d'amourQuando Kara era criança ela foi ao seu primeiro casamento, ela se apaixonou pela cerimônia, e quando uma música tocou uma moça toda de branco entrou pela porta da igreja com buquê de pétalas amarela e foi a direção ao rapaz que estava com os olhos m...