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                A garota dos olhos verdes

Vocês devem tá se perguntando como eu conheci a garota dos olhos verdes, bom vamos lá...

FLASHBACK

Midvale, uma cidade litorânea no interior de National city, era lá que eu e minha irmã passávamos todas as férias. Sempre senti que a cidade era mágica, adorava a forma de como cada praia era diferente uma da outra, o fato de termos um pequeno deserto tão perto de nós.

Raramente ficávamos em casa, pois, ao contrário de muitas avós, a minha sempre foi meio biruta e moderna. Nada de assar biscoitinhos para ela. Usava só esmaltes vermelhos e saltos altos. Não existia tédio naquela casa, todos os dias fazíamos um programa diferente, íamos a uma praia diferente ou simplesmente saíamos e ficávamos na praia do centro, perto de casa, brincando, nadando, tomando sol, curtindo uma vida sem responsabilidades, escolas ou as manias de limpeza da nossa mãe.

Mas tudo mudou no verão de 2001.

Foi quando o conheci. Em junho daquele ano, vovó ficou doente. Não era nada de mais, apenas uma gripe muito forte que gerava desconforto, e minha mãe ficou preocupada em deixá-la sozinha, assim, resolveu me mandar a Midvale antes do tempo, para eu ficar de olho nela e ajudar como pudesse. Lembro-me como se fosse hoje. Fiz a última prova do semestre, minha mãe me buscou na escola com as malas já prontas e me levou quase um mês antes do planejado para o meu paraíso pessoal. Eu estava empolgadíssima de ter muitos outros dias de férias e principalmente por Alex não poder ir comigo. Eu a amava, mas, naquela época, ela achava divertido tornar minha vida um inferno.

Durante alguns dias tudo correu normalmente. Minha avó já estava melhor e eu pude sair de casa sem culpa por deixá-la sozinha. A única coisa que me incomodava era ter que cruzar com a Andrea, uma garota da vizinhança que era caidinha pela Alex. Ela sempre fazia piadinhas ou ria da minha cara sem motivo aparente. Era desagradável e na verdade eu não entendia, pois até onde eu sabia, minha irmã ficou com ela nas últimas férias, só que pelo visto as coisas terminaram entre elas e, pelo
ressentimento da garota, não por culpa dela. Na maioria das vezes, eu simplesmente atravessava a rua ou fingia não ouvir. Eu tinha certeza de que me daria mal se respondesse, porque aí sim ela não me daria mais paz. Apenas relevava, até o dia em que as brincadeiras de mau gosto passaram do limite. Ou digamos, do meu limite...

Era dia dos namorados e as filhas gêmeas dos vizinhos me chamaram para ir a um luau na Praia no final da tarde. Não era nada de mais, os jovens da cidade se encontravam aos montes para jogar conversa fora e ficar de namorico. Todos acabavam indo, dos mais populares até aqueles meio esquisitos. A região é pequena e todo mundo acaba se conhecendo, assim que chegamos, eu e as gêmeas paramos para conversar com alguns meninos da rua de baixo, o que seria impossível se minha irmã estivesse na minha cola. Acabei me perdendo no assunto e me separei das meninas.

Esse foi meu primeiro erro da noite.
O segundo foi ter ido ao encontro de Andrea quando uma de suas amigas veio me avisar que ela queria conversar comigo. Segui a garota com os olhos fixos em seus sapatos.

Mais um erro. Essa Praia de Midvale sempre foi minha favorita, ela possui uma barragem de areia que divide o mar de um pequeno rio. Ela tem o melhor de dois mundos. Sempre achei o mar gelado demais, então tinha preferência por estender a toalha na beira do rio, que é quente e convidativo para um mergulho raso. Era lá que Andrea me esperava, mas não estava sozinha. Com ela havia mais quatro garotas, contando com o pombo-correio que foi me dar o recado. Assim que meu olhar cruzou com o dela, eu só consegui pensar duas coisas. Primeira: ferrou. Segunda: se minha irmã não matar essa garota, o videogame dela vai parar na privada. Ela não falou nada a princípio, mas começou a me empurrar em direção ao rio. Caramba, a garota era dois anos mais velha e um metro mais alta, eu não tinha a menor chance (cá entre nós, eu também era meio bundona).

- Você se acha muito importante, né, pirralha? - Mais um empurrão. - Sempre com esse narizinho empinado, como se fosse alguém. Se não fosse pela sua irmã, ninguém notaria você. - Todas as amiguinhas dela estavam rindo a essa altura e ela começava a chamar a atenção dos grupinhos que estavam por perto. Não que eu tenha olhado, mas pude ouvir com clareza as risadinhas pelas minhas costas. - Feia do jeito que você é, ninguém NUNCA vai notar você.
Como vocês devem imaginar, essa parte atingiu a ferida. Não se brinca com os sonhos de uma garotinha. Fiquei com tanta raiva, que acabei me defendendo. Quando ela me empurrou novamente, revidei o empurrão e as palavras.

- Tudo isso é porque Alex deu um fora em você? Vê se cresce e deixa de ser mal-amada!

Porém, meus segundos de fama acabaram mais rápido do que eu podia imaginar. Ela se descontrolou e me deu o empurrão final.

- Sua piranhazinha de merda!
Caí sentada dentro d'água.

O choque e a humilhação foram tão grandes que eu nem pensei em me levantar. Até então eu nem tinha percebido que lágrimas corriam pelo meu rosto. Só me dei conta quando as meninas começaram a gritar a plenos pulmões que eu chorava feito a criancinha que eu era. Fiquei mais envergonhada do que já estava e olhei ao redor para ver as proporções do circo.

Muitas pessoas presenciaram a confusão. Alguns garotos se contorciam de tanto rir, mas meus olhos pararam em uma garota, a única que não ria; na verdade ela parecia irritada. Seus olhos estavam fixos em mim, e lembro nitidamente de pensar que eram os olhos mais bonitos que eu já tinha visto.

Ela se afastou dos garotos que estavam com ela e veio em minha direção, sem desviar os olhos sequer uma vez dos meus. Seu olhar ainda me prendia quando me dei conta do que ela fazia.
Ela entrou no rio, foi até mim ainda de tênis e me estendeu a mão. Ela me tirou da água e me conduziu para fora da praia, segurando firme na minha mão, com o maxilar e o outro punho cerrados.

Ela não precisou pronunciar nem uma palavra, as pessoas abriram caminho para que passássemos e pararam de rir. Quando chegamos à rua, ela soltou minha mão e limpou minhas lágrimas com o polegar de forma meio
desajeitada. Eu estava tão absorta naqueles olhos verdes que não consegui pronunciar nenhuma palavra, mas nada me prepararia para o que ela fez em seguida. Ela abriu a mochila e tirou de lá de dentro um ramalhete de rosas brancas amassadas, depois pegou minhas mãos e fez com que eu segurasse as flores.

- Não escuta o que ela falou. Eu sei que algum dia alguém vai notar você. - Então ela abriu o sorriso mais lindo que eu já tinha visto, o que me fez lembrar daquele noivo de muitos anos atrás, mas o sorriso daquele rapaz não chegava nem aos pés da minha garota dos olhos verdes. Borboletas dançaram no meu estômago. - Sabe por quê? - Neguei com a cabeça. - Porque eu notei.

Assim que terminou de pronunciar a última palavra ela colou seus lábios nos meus. Fechei os olhos instintivamente, mas o melhor beijo da minha vida acabou tão rápido como começou.
Quando abri os olhos ela já se afastava de mim. À distância, sorriu novamente, fazendo minhas pernas bambearem, e voltou correndo para a praia. Fiquei em pé observando a garota morena de olhos verdes se perder no meio de vários outros rostos.

Ela não voltou.

Eu estava morta de vergonha. Todos viram a cena, todos presenciaram as coisas horríveis que Andrea havia me falado. Todos me viram cair dentro do rio sem um pingo de dignidade. Eu nunca na minha vida havia sido tão humilhada e destruída quanto naquela noite, nunca havia chorado tanto e desejado que as horas não passassem e que eu pudesse me esconder debaixo das cobertas até a dor ir embora.

Mas alguém me salvou naquele dia. Lindos olhos verdes tentaram me tirar do fundo do poço.

Foi só de madrugada, quando eu já estava na minha cama, que me dei conta de que não sabia nem o seu nome. Chorei até pegar no sono.

Flashback off

Abandonei minhas memórias e voltei para o presente. Ainda faltavam horas de viagem até National city...






continuação......







A Garota dos Olhos Verdes - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora