34 Capítulo

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“Segurei-a perto de mim, com os olhos fechados, perguntando-me se alguma coisa na minha vida já havia sido tão perfeita, e, ao mesmo tempo, sabendo que não. Eu estava apaixonado, e a sensação era ainda mais maravilhosa do que eu jamais poderia ter imaginado.”
Nicholas Sparks, Um amor para recordar.

                           *****
                    Tudo por você

Lena
Seu médico não autorizou a permanência de nenhum acompanhante durante a noite. Pouco me importei, eu não iria embora. Sua família se hospedou em nosso apartamento. Minhas chaves já
estavam com Alex e eu a autorizei a ir embora com meu carro para descansar. Seu pai insistiu que eu fosse com eles, mas eu não cedi; disse que dormiria na sala de descanso dos médicos, mas não foi o que fiz. Depois que todos se foram, subi novamente até a UTI e subornei o enfermeiro da noite para que eu pudesse ficar ao seu lado, arrastei uma cadeira até sua cama e me sentei.

Não preguei o olho um minuto sequer. Eu acreditava que você acordaria e, quando o fizesse, eu queria ser a primeira pessoa que você veria.

Você não acordou.

                                  * * *

Na manhã seguinte, sua família voltou ao hospital no momento em que você era transferida para um quarto, para ter mais privacidade e uma comodidade melhor. O quarto era mais espaçoso e possuía dois sofás e uma pequena varanda. Fiquei mais tranquila porque, com tanto espaço, eu não precisaria
abandoná-la para que outras pessoas a vissem, eu não sairia do seu lado.

– Querida, eu trouxe algumas roupas – disse sua mãe me entregando uma sacola de papel. – Pedi para Bryan pegá-las em seu guarda-roupa, espero que você não se importe. – Sorriu um sorriso fraco e cansado, sorriso de quem não tinha conseguido pregar os olhos durante a noite.

– Claro que não. – Fiz um esforço para sorrir, mas assim como ela, encontrei dificuldade. – Eu agradeço.

– Você não saiu do lado dela, não foi? – perguntou Alex ao se sentar.

– Não – admiti.

– Quanto custou? – perguntou, sorrindo. Ela já sabia que os enfermeiros da noite só não vendiam as mães porque era difícil achar comprador.

– Bem menos do que ela vale. – Ficar ao seu lado não tinha preço, era tudo o que eu mais queria.

– Querida, você tem que ir para casa descansar – aconselhou sua mãe.

– Deixa a garota em paz – ralhou seu pai. – Se ela quer ficar, deixa ela ficar.

– Eu não vou embora, dona Eliza– afirmei, sentando-me ao lado da Alex . – Não até ela acordar.

– Isso pode levar dias – disse Alex, franzindo os olhos. Como se eu não soubesse.

– Não me importo – respondi, dando de ombros.

                             * * *

Mais uma noite chegou e você não acordou. Todos foram embora. Como eu deixei bem claro que não sairia do seu lado, sua família achou melhor voltar para o apartamento para descasar. Arrastei uma poltrona para perto de sua cama e peguei novamente sua mão. Encostei a cabeça em sua barriga
e adormeci.

Fui acordada por alguns cutucões.

– Acorda, Lena – disse Alex, de pé ao meu lado. – Você precisa comer alguma coisa.

Pela luz do sol que entrava através das persianas fechadas, deduzi que já era de manhã. Minhas costas doíam e meu coração também. Olhei para o seu rosto. Seus olhos ainda estavam fechados,
você não esboçava nenhuma reação. Minha Bela Adormecida. Sim, eu assisti ao desenho. É o preço que se paga por ter uma irmã mais nova.

Eu me perdi em pensamentos olhando para sua boca. Eu queria beijá-la outra vez. Será que você acordaria como a princesa do conto de fadas?

– Não vou sair daqui – respondi. Eu teria que desenhar?

– Toma, eu trouxe comida, achei mesmo que você fosse responder isso – disse ela, me entregando uma sacola. – Levantei da poltrona e fui me sentar no sofá para tentar comer. Não consegui engolir nem metade do sanduíche. Alex se sentou perto de você, mas virou a poltrona de lado para poder me olhar.

– Você realmente a ama não é? – disse, sorrindo um sorriso verdadeiro.

– Sim – afirmei, abandonando o sanduíche.

– E a criança? – perguntou.

– O que tem ela? – A falta de confiança das pessoas em mim já começava a me tirar profundamente do sério.

– Não é todos que cria o filho de outro, você sabe bem disso. Você está preparada para tudo o que vem por aí? Trocar fralda, comprar leite, essas paradas? – perguntou confusa.

– Estou.
Eu estava morrendo de medo. Nunca me passou pela cabeça ter um filho, mas também nunca me passou pela cabeça que eu fosse fazer de tudo por uma mulher até conhecer você. Eu estaria mentindo se dissesse que não tomei um choque quando liguei os pontos e deduzi que você estava grávida, quando continuou a passar mal. Mas no momento em que eu vi os testes darem positivo e você cair escorada em uma parede, eu soube. Soube que também faria de tudo pela bebê.

– Serão noites sem dormir, uma mulher gorda e irritada, e uma criança que precisa de roupas, sapatos, escola. Tudo isso é responsabilidade dela, mas se vocês ficarem juntas, uma hora ou outra
vai cair no seu colo. Você tem certeza de que está preparada? – insistiu.

– Você acha que eu já não pensei em tudo isso? – respondi de mau humor. – Minha resposta não vai mudar, eu amo a sua irmã e eu quero essa criança.

– Você é incrível – disse admirada – eu não faria isso por mulher nenhuma.

– Você diz isso porque nunca se apaixonou Alex.

– Como você sabe que não é passageiro? – Ela ainda parecia ter dúvidas.

– Porque eu nunca senti por ninguém o que eu sinto por ela. Porque ela é única, é linda, é meiga e extremamente chata como só ela conseguiria ser, porque ela é meu primeiro e último pensamento do
dia, porque seu cheiro me deixa louca e seu sorriso me desarma. Eu faria tudo por ela – olhei para a cama. – Eu trocaria de lugar com ela se pudesse.

– Ela nunca vai acreditar em você – disse Alex, parecendo triste. – Ela levou uma porrada boa da vida.

– Eu vou provar pra ela – respondi determinada.

– Como?

– Ainda não sei.
Mas eu pensaria em alguma coisa. Disso eu tinha certeza.

A Garota dos Olhos Verdes - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora