“Tá reclamando do meu orgulho e do meu ciúmes?
Espera pra ver a minha indiferença.”
Tati Bernard
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Ciúmes é um bichinho verdeEu não tinha nada para quebrar nesse quarto então resolvi desabafar. Procurei o número da Nia nos contatos e liguei; não dei chance nem de ela me dizer “alô”.
– A idiota da sua irmã estava com uma piranha aqui quando eu cheguei – anunciei irritada. – Ela estava com os peitos pra fora.
– Fica calma – disse Nia, me tranquilizando. Na verdade eu nem sei como ela estava me ouvindo com tanto barulho.
– Onde você está? Numa estação de trem?
– Na escola, amiga, eu ainda tô trabalhando – respondeu com uma risada. – Quer que eu passe aí
mais tarde?– Vai me ajudar a esconder o corpo? Se não, nem precisa vir.
– A gente a enterra no jardim do prédio, que tal?
– Perfeito.
Desliguei, já me sentindo melhor; melhor e faminta. Aproveitei que o celular estava na minha mão e usei o Google para encontrar alguém que viesse me trazer comida a essa hora, não eram nem cinco da tarde ainda.
– Boa tarde, vocês já estão entregando? – perguntei para o senhor que atendeu na pizzaria.
– Já sim, querida, qual o seu pedido?
– Eu quero uma pizza metade quatro queijos e metade calabresa – respondi, esperando que ele anotasse – e uma Coca dois litros.
– Mais alguma coisa?
– Fala pro boy que se ele entregar na porta do meu quarto ele ganha cinquenta reais.
– Pode deixar – respondeu o homem, rindo. Liguei na portaria e autorizei a subida do motoboy. Chovia e eu estava com preguiça demais para descer e ter que buscar minha pizza lá embaixo. Eu duvidava que ele fosse deixar de ganhar cinquentinha por preguiça, eu não deixaria, pelo menos. Por cinquentinha eu era capaz até de tirar a roupa. Meia hora depois comecei a ouvir vozes exaltadas por cima do barulho da televisão. Abaixei o volume e, não contente, abri minha porta para ver o que era.
– Você não vai até o quarto dela – Lena estava dizendo irritada.
– Mas a moça pediu que fosse entregue na porta do quarto – tentou se explicar o rapaz.
– Eu já disse que…
Eu a interrompi colocando a cabeça para fora da porta:
– Deixa o garoto passar com a droga da minha pizza, Lena! – berrei.
Não vi o que aconteceu na porta, mas o garoto trazendo a pizza logo apareceu no meu campo de visão. Eu paguei minha conta e, como prometido, dei-lhe a nota de cinquenta reais. Antes que eu pudesse dar a primeira mordida, Lena apareceu irritada.
– Você faz isso quando está sozinha? – perguntou, passando a mão pelos cabelos.
– Comer pizza? – perguntei, fingindo inocência. Ela revirou os olhos.
– Não, deixar que os entregadores entrem em casa e venham até seu quarto – explicou impaciente.
– Não interessa. – Aquilo ali pulsando no pescoço dela era uma veia? – Quer um pedaço? Ah, não, você já comeu, né? – disparei, referindo-me à garota dos peitões.
Sem que ela pudesse responder,
levantei e fechei a porta na cara dela. Ouvi Lena dizer um palavrão em alto e bom som, e depois sua porta bater com força.
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A Garota dos Olhos Verdes - Supercorp
RomansaQuando Kara era criança ela foi ao seu primeiro casamento, ela se apaixonou pela cerimônia, e quando uma música tocou uma moça toda de branco entrou pela porta da igreja com buquê de pétalas amarela e foi a direção ao rapaz que estava com os olhos m...