29 Capítulo

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“Difícil não é lutar por aquilo que se quer, e sim desistir daquilo que mais se ama. Mas não pensei que foi por não ter coragem de lutar, e sim por não ter mais condições de sofrer.”
Bob Marley

                             *****
                  Abdicando do amor

                            
– Não, Lena, não achei – respondi sendo sincera. – Apenas não vi motivos para chama-la.

– Ótimo, então continua me afastando de você – disse ela se levantando e passando a mão nos cabelos.– Quem sabe eu não acabo me tocando e fazendo o que você quer.

– Faça isso – respondi magoada. – Se quer sumir da minha vida, então vá.

– É realmente isso que você quer? – Lena já estava se afastando.

– Não importa – repliquei, derrotada. – É o que você vai fazer de qualquer jeito.

– É o que VOCÊ acha que vou fazer – rebateu – porque você não confia em mim.

– O problema não é você. – Ainda. – Sou eu.

– Eu sei – respondeu Lena, passando a mão pelos cabelos e saindo da sala.

Desatei a chorar no sofá. Alex entrou no apartamento e viu minhas lágrimas, mas baixou o rosto e foi para seu quarto.
Bryan apareceu na sala e se sentou do meu lado.

– Quer assistir a um filme em que alguém morre?

– Quero – ri. 

Acho que tinha chegado o
momento de ir embora dessa casa e de achar meu próprio caminho, meu lugar ao sol, como dizia a música.

Bryan escolheu o pior filme que encontrou e deitou a cabeça no meu colo.

– Lena tem razão – ele disse tão baixo, que tive dúvidas se realmente tinha ouvido.

– Você estava ouvindo atrás das portas de novo?

– Estava – admitiu.

– A conversa com Mike também?

– Sabe o quanto foi difícil não vir até aqui e quebrar a cara daquele infeliz outra vez? – perguntou se sentando e se virando para me olhar de frente. – Você não está considerando que ele mudou e se transformou no melhor homem do mundo, não é?

– Claro que não. – Suspirei. – Ele não era o cara.

– E Lena? – Essa foi a pergunta mais profunda que ele me fez. Não precisei
pensar para responder.

– Ela é minha pessoa no meu momento errado.

Passei muitos anos sonhando com a pessoa certa e em todos os meus sonhos, ela tinha olhos verdes. Já fazia muito tempo que não pensava na minha garota e hoje, comparado a Lena, ela parecia uma invenção boba de criança. Tudo que eu mais desejei estava bem à minha frente e eu não conseguia alcançar. Se fosse em outra época, em outra vida, talvez pudéssemos começar uma história, mas a minha vida já tinha muitos “era uma vez” para eu conseguir chegar em um “foram felizes para sempre” sem deixar meu coração em pedaços no caminho. Eu não tinha mais forças para lutar por algo que talvez nem acreditasse mais. Não valia a pena o sacrifício de entregar meu coração
a alguém se sabia que um dia ela seria devolvido cortado e judiado, e que eu passaria anos tentando remenda-lo para acabar com um coração “quase bom”. Eu e Lena estávamos em lados opostos da
estrada da vida e era tarde demais para um retorno.

– Kara, ela nunca se apaixonou por ninguém, dá um crédito a ela.

– Não se trata de confiança, se trata da vida.

– Então você confia nela?

– Não.

– Então me desculpe, kah, mas é, sim, uma questão de confiança.

– Mas não é só isso. – Suspirei. – Vamos supor que ela realmente não vá embora, ou no caso, me mande embora, já que a casa é dela. Vamos supor que ela fique comigo, acompanhe minha gestação,
esteja lá no dia em que meu filho nascer. O que Lena se tornaria na vida dele?

– A Madastra.

Eu precisava de uma lousa e um giz.

– Isso gera responsabilidades, e supondo novamente que ela tenha maturidade para lidar com elas, o que eu acho que ela não tem, eu acabaria com a sua vida. Ela ainda pode conhecer uma boa moça, sem problemas, sem passado e sem bagagem, pode namora-la sem se preocupar se ela vai ou não entrar em trabalho de parto, e por fim pode construir uma vida ao lado dela a partir do zero, e ser feliz ao invés de tentar remendar a minha vida ferrada.

– Mas essa escolha é dela.
É o que todos me diziam.

– Mas quem vai conviver com ela sou eu. Quem vai olhar para ela daqui cinquenta anos e ver o peso disso tudo, sou eu. Quem vai conviver com a dor dela por ter tomado uma decisão errada sou eu. Porque depois que el se envolver nisso, será muito mais difícil sair do que se fosse um relacionamento comum.

– Você perdeu a fé – disse Bryan com tristeza.

– Eu perdi tudo.
Mas não deixaria que Lena também perdesse.

                                   * * *

Tendo tomado a minha decisão, peguei meu carro e fui até a residência dos Luthor. Eu me sentia na obrigação de contar para Nia tudo que eu sentia, porque nossa amizade estava mais ligada à minha vida sentimental que minhas calcinhas. Arrependi-me de não ter telefonado antes, porque encontrei apenas Lionel em casa.

– Kara, eu ia mesmo procurar você, entre, por favor. – E eu tinha opção? Entrei e ele me conduziu até a mesa da cozinha. – Sente-se. Eu quero que você me desculpe pela outra noite.

– Eu é que peço desculpas, você tinha razão.

– Eu tinha? – perguntou confuso.

– Tinha sim, eu vou acabar com a vida dela. – Suspirei. – Eu ia acabar com a vida dela – corrigi.– Ela tem uma carreira brilhante, é linda, gentil, quando quer. Nunca conheci uma Mulher tão perfeita
e apaixonante quanto sua filha.

– Não estou entendendo, se ela é tudo isso…

– É exatamente por ela ser tudo isso que eu não posso arrasta-la para a minha vida nesse momento. – Solucei. – Eu não posso prende-la nas responsabilidades que tenho agora, não é a obrigação dela.

– Ela já sabe?

– Não e não vai saber até eu ir embora – confessei. – Espero que você guarde esse segredo, eu só vim me despedir da Nia. Estou indo para a casa dos meus pais.

Lionel não me perguntou mais nada e me apressei para ir embora. Eu tinha uma mudança para organizar, de novo.

A Garota dos Olhos Verdes - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora