7 Capitulo

3.8K 447 146
                                    


“O único silêncio que perturba, é aquele que fala.
E fala alto.
É quando ninguém bate à nossa porta,
não há e-mails na caixa de entrada
não há recados na secretária eletrônica
e mesmo assim, você entende a mensagem.”
Marta Medeiros, A voz do silêncio.

               -----------------------------------------

Não há nada tão ruim que não possa
                                piorar

         
  Depois de constatar imediatamente que eu era um poço de burrice, tudo se tornou muito colorido e foi sumindo do meu campo de visão pouco a pouco. Andrea realmente estava parada próximo à mesa? Lena realmente voou da cadeira e colocou as mãos no meu rosto com tamanha rapidez e precisão? Tudo parecia um sonho. Tentei entender o que Lena falava, mas sua voz soou muito distante e então… escuridão completa! A última coisa que me lembrava de pensar era, pelo amor de Deus, não posso ir para o hospital, vão ver o meu calçolão gigante, e a droga da calcinha ainda era bege.

Acordei ao som de um bip-bip-bip muito irritante.

Eu estava lúcida o suficiente para entender que o colchão de pregos era uma maca de hospital e que eu definitivamente devia ter dormido muito tempo, porque era dia do lado de fora da janela.

– Sente-se melhor? – A voz veio da minha direita. Meu rosto ainda estava inchado, porque demorei a conseguir virar o pescoço para a dona da voz.

– Como se tivesse sido atropelada por um caminhão – respondi e ela riu. – Três vezes.

– Imaginei. O inchaço já começou a diminuir e não deve demorar muito para que você possa voltar para casa – disse levantando-se. – Talvez mais algumas horas. Tenho que atender um paciente que deu entrada na emergência enquanto você dormia, mas volto assim que possível, tudo bem?

– Você é médica?
Não, gênio, meu inconsciente me respondeu. O jaleco é parte de uma fantasia que você está alucinando devido a excesso de uma droga psicodélica chamada palmitocodeína.

– Sou. Eu estava de folga, mas já que estava aqui não precisaram chamar outro cardiologista para atender o paciente.

– Desculpe fazer você perder o dia de folga – disse arrependida.

– Você me fez perder a noite também. Não parou de chegar gente na emergência – respondeu abrindo a porta e dando um último aceno.

Eu não estava mais arrependida.

Lena saiu do quarto, mas novamente seu perfume ficou no ambiente. Se eu achei ela sexy dirigindo, nem queira saber que tipo de barbaridades passaram pela minha cabeça com ela vestida de médica. Mas me obriguei a parar de alucinar de forma consciente. Esse tipo de fantasia nunca acabava bem, e eu ainda queria um lugar para morar por mais algumas semanas. Virei de lado para tentar
voltar a dormir

Foi quando eu vi.
Um ramalhete de rosas brancas no criado-mudo.
Não consegui pegar no sono.
Lena voltou meia hora depois alegando estar cansada de ficar dentro do hospital e que me daria alta só para poder ir para casa tirar um cochilo. Disse ela que eu ronco e que não a deixei pregar o olho a
noite inteira (não que a poltrona do acompanhante ajudasse em alguma coisa).

E lógico, quem não roncaria com o rosto duas vezes o tamanho normal?

– Você poderia ter voltado para sua casa, eu ficaria bem – eu disse mais tarde, enquanto ajustava o cinto de segurança.

– Para você me dedurar para Alex e eu acabar em pedaços no freezer junto com meu sorvete? Nem pensar.

– Me diz que você não ligou para ela. – Ah, por favor, por favor.

A Garota dos Olhos Verdes - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora