Ana Kate Scott, ou aninha como o meu pai costumava me chamar, mas acredito que se outra pessoa me chamar assim não terá o mesmo efeito.
Subi com as malas para parte de cima da casa onde provavelmente será o meu quarto. A casa não era tão chique, mas tinha um teto e era tudo que estávamos precisando no momento para suportar as terríveis tempestades da vida.
Senti uma breve decepção assim que abri a porta e me deparei com um quarto pequeno e empoeirado, diferente do quarto enorme que eu costumava ter antes, com grandes janelas e um closet.
Mas respirei fundo, segurei a alça da minha mala e entrei, afinal essa é a minha realidade agora e mesmo não querendo, eu tenho que aceitar.
Ao contrário de alguns quartos, a janela do meu era voltada para janela de outra casa e não para rua, o que deveria ser um crime, já que isso de certa forma é violação de privacidade.
Bom, espero que os meus vizinhos não sejam um desses casais que não se intimidam em fazer sexo com a janela aberta, eu não quero ter que me deparar com uma cena assim quando eu for abrir a janela do meu quarto para tomar um ar.
Depois de organizar todas as coisas nos seus devidos lugares, desci para ver se minha mãe preparou alguma coisa para comer. Toda essa arrumação acabou me deixando com muita fome.
E esse é o único vazio que eu consigo preencher.
-- E então, o que achou do quarto? - Minha mãe perguntou animada ao me ver entrando na cozinha.
-- Eu...gostei..
Peguei uma maçã e me sentei próximo a ela, observando a forma como ela cortava a cebola.
-- Que bom - Ela olhou pra mim com os olhos marejados. Depois sorriu esperançosa - Hoje, eu vou até a cidade fazer umas compras, e vou aproveitar para passar na escola nova e fazer sua matrícula, as aulas daqui voltam semana que vem, e eu não quero que perca mais aulas.
-- E como vou a escola? Como pude notar, estamos bem longe da civilização - Falei me referindo a quantidade de árvores em volta.
-- De ônibus - Ela falou despreocupada.
-- O que?
-- Filha, as coisas mudaram agora, não temos mais um carro, e a escola fica a vinte minutos daqui.
-- Mas eu nunca entrei em um ônibus antes.
-- Bom, sempre tem uma primeira vez, e vejo que terá muitas por aqui. Mas... se não quiser ir de ônibus, tem outro meio.
-- E qual é?
-- O antigo dono desta casa, deixou uma bicicleta, ele disse que era da filha dele falecida, e que você poderia usá-la, então... presente de boas vindas.
-- Uma bicicleta, tá brincando? E ainda por cima de alguém que já morreu, e se ela for assombrada ou algo do tipo?
-- Não é assombrada, e além do mais, pedalar é um ótimo exercício físico, você pode aproveitar para admirar as belas árvores no caminho, ouvir dizer que o pôr do sol daqui é maravilhoso - Ela abriu um sorriso tentando me convencer de que o lugar é bom apesar de tudo.
Mas é o fim do mundo.
Tentei imaginar como seria pedalar vinte minutos de bicicleta até a escola e pensei em vários acidentes terríveis que eu poderia sofrer ao longo do caminho, já que faz um tempo que eu não ando de bicicleta, e acho que até perdi a prática.
-- Acho que de ônibus não deve ser tão ruim assim - Falei conformada, dando uma mordida na maçã.
Minha mãe sorriu pra mim, em seguida jogou a cebola picada dentro da panela, fazendo um cheiro delicioso resender por toda a casa.
Depois do almoço, acabei cochilando no sofá por causa do cansaço da viagem que esgotou todas as minhas energias, quando acordei minha mãe já tinha saído para suas compras rotineiras.
Aproveitei a sua ausência para ir lá fora dar uma olhada nas árvores porque era a única coisa diferente que tinha para olhar.
Tudo era tão verde.
-- E aí.
Uma voz interrompeu bruscamente os meus pensamentos, me assustando. Virei o rosto pro lado e me deparei com um garoto alto, loiro e com corpo normal considerado pelos padrões de beleza impostos pela sociedade.
Ele estava escorado em um carro vermelho, e me olhava atentamente por cima dos óculos escuros.
-- Oi - Respondi timidamente, tentando decifrar a cor dos seus olhos à distância.
Verdes, ou será que são azuis.
Ele sorriu de lado percebendo minha fixação, em seguida se aproximou, aumentando os meus batimentos cardíacos e acelerando a minha respiração.
"Essa não, e agora o que eu vou falar?".
VOCÊ ESTÁ LENDO
Desilusão
RomanceApós passar por uma desilusão amorosa, Ana não vê outra alternativa a não ser se embriagar como uma forma de amenizar a sua dor, mas vai perceber que o seu sofrimento está bem longe de acabar.