Capítulo 25

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Eu sou boa em perceber os detalhes, e  quando estávamos entrando na casa depois de voltamos do hospital, eu notei que Peter tem uma adega na sala de estar, ou seja, essa seria a oportunidade perfeita pra beber.


Tudo que eu  preciso fazer, é inventar uma história.

Hoje amanheci mais agitada do que o normal, pois parei de tomar os remédios que ele me trazia, desconfiando de que eles poderiam ser  sedativos.

Não é bom confiar, tem diversos tipos de loucos no mundo.


Sempre que ele me trazia os comprimidos, eu os recebia, mas guardava em algum cantinho da boca pra depois descarta-los no vaso.

...

—– Está bonito, pra onde vai? — Elogiei, enquanto ele ajeitava o paletó no espelho. O cheiro do perfume novo dele era maravilhoso.


Só preciso descobrir onde é que ele o  esconde.

—– Tenho uma entrevista de emprego, mas não se preocupe, eu volto logo.

—– Não estou preocupada.

Enquanto ele terminava de se pentear, eu ia ensaiando as palavras na minha mente.

—–  Ei, será que antes de você sair para essa tal entrevista de emprego, você  pode me ajudar a descer, queria pegar um pouco de sol na varanda, tem dias que estou confinada aqui, e um pouco de vitamina D, cairia bem.

Ele ficou pensativo.

—–  O sol que entra pela janela do quarto só pega metade do meu corpo, e sei lá, eu...

—– E como vai subir de novo, pretende tomar sol a manhã inteira?

—– Ah, eu pensei que talvez poderia  assistir tv ou ler um livro, fazer coisas normais de ser humano...não pode me deixar trancada aqui o tempo todo...

O meu nervosismo me entregou.

—– Olha, eu  não vou demorar, no máximo, umas quatro horas.

—– Quatro horas, eu  terei morrido de fome até lá.


—–  Você acabou de tomar café, e eu trouxe algumas coisas pra você ir beliscando até a hora que eu chegar —  Ele sorriu estranho.

Acho que ele já estava desconfiando do meu plano.

—– Então tá — Falo, aborrecida.

O que quer que eu diga ,ele tem uma ideia melhor, então desisti de tentar, e decidi concordar com ele.

É uma grande merda, depender de alguém.

Ele se aproximou e deu um beijo no meu rosto, e acariciou os meus cabelos.

Mantive um sorriso congelado até ele sair pela porta.

Depois disso, levantei da cama, peguei a muleta e fui até a janela espia-lo.

Vi que terminou de atender uma ligação e logo em seguida entrou no carro.

O plano agora é descer as escadas, ir até a adega tomar todas, depois roubar alguns trocados, chamar um táxi e fugir dessa prisão.


Não parece tão difícil, só não sei se vou conseguir fazer tudo isso a tempo, porque só a escada levaria uma década pra descer.

Caminhei relutante até a porta,  joguei primeiro a muleta, porque descer a escada com ela seria muito arriscado.

Respirei fundo e fui com uma perna só pulando degrau por degrau, me apoiando no corrimão.

Tomando bastante cuidado.

Era um risco absurdo, mas que eu preciso correr, se eu quiser sair daqui.

Fora a recompensa.

Eu só precisava de um único gole, para parar meus pensamentos barulhentos.

......


Cada passo que eu dava era uma batida forte do meu coração, e eu estava correndo contra o tempo.

Quando passei do último degrau, comemorei ofegante como se tivesse ganhado o prêmio pelo cem metros rasos.

Peguei a muleta do chão, e parti para a segunda parte do plano.

Avistei a pequena adega de longe, como apelidei, mas tava mais para um frizer embutido na parede.

Minha boca já começou salivar.

Só um golinho, Ana.

Uma voz dizia na minha cabeça.

Só de ver aquelas garrafas pelo vidro meu corpo inteiro se agitava.

Mas essa alegria durou até eu ver a trava e o cadeado.

"Droga"

Imaginei que a chave poderia está em qualquer lugar da cozinha, então comecei a procurar feito louca, revirando tudo.

DesilusãoOnde histórias criam vida. Descubra agora