Capítulo 36

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A dor que sinto é semelhante a dor que senti quando perdi o meu pai, só que essa parece pior, embora meu pai tenha morrido e isso marcado pra sempre a minha vida, eu sei onde ele está e por que está. E o Fred não, ele pode está em qualquer lugar do mundo, rindo da minha cara, se divertindo com o meu sofrimento.

E são as incertezas que me matam todos os dias.

Ouço as batidas na porta mas não tenho ânimo pra levantar da cama, minha vida deixou de fazer sentido, não importa se o dia está lindo, se há pássaros cantando lá fora, isso não me traz nem uma faísca de alegria.


A angústia é tão grande dentro de mim, que se eu tiver que morrer agora, eu não iria questionar, seria até melhor.

-- Ana, abre sou eu.


Uma voz rouca e familiar disse do outro lado da porta. Fiquei um pouco contente de saber que apesar de tudo, ela veio me visitar. Eu estraguei tudo, e no final das contas ela sempre esteve certa.

Levantei com um pouco de dificuldade da cama, porque faz três dias que estou nessa, sem comer, sem dormir direito, sem fazer absolutamente nada a não ser esperar que ele volte e minha vida volte a fazer sentido novamente.

Meus passos são lentos até a porta, pois sinto o corpo pesado, minhas pernas fracas e doloridas e acho que chorei todo o líquido que havia em meu corpo.

Estou seca por dentro e por fora.

Girei a maçaneta devagar, e antes mesmo de abrir a porta, ela já avançou sobre mim e me deu um abraço apertado e aconchegante.

Fiz um esforço pra chorar mas parece que não há mais nenhuma reserva de lágrimas, então apenas suspirei cansada.

-- Amiga, eu sinto muito pelo o que aconteceu - Lamenta.



Fiquei calada remoendo a dor, ainda em estado de choque.

Ele vai voltar, eu sei disso. Quando eu menos esperar, ele vai entrar por aquela porta e dizer que tudo não passou de uma brincadeira.


Liza segurou a minha mão e praticamente me arrastou de volta pra cama. Depois se sentou do meu lado, enquanto eu encarava paralisada a parede branca do quarto.


-- Ele foi embora, e não me levou - Suspirei sem expressão.

-- Eu sei, amiga.


Eu sei que ela queria falar muito mais que um " sinto muito" talvez um "Eu te avisei" ou quem sabe "Estava na cara, só você não viu".


Mas ela parecia arrasada tanto quanto eu, talvez por acreditar que isso daria certo de alguma forma, que o Fred poderia mudar.


-- Ele sequer falou comigo - Falei angustiada sentindo o peito doer - Eu pensei que...quando eu acordasse, ele estaria do meu lado...mas...ele não estava.

Seus olhos se encheram de lágrimas, mas ela enxugou rápido e ficou calada.


-- Sei o que está pensando..

-- Relaxa, eu não vim aqui pra te julgar, antes de tudo eu sou sua amiga, caramba, e não inimiga, inclusive sobre a festa eu estava bêbada você estava bêbada, perdemos a razão ...


-- Mas a bebida não justifica.

-- Amiga, olha - Ela pegou a minha mão, e eu virei o rosto pra ela, encarando os seus olhos verdes - Já passou, ok? e você precisa ser forte agora pra superar isso, aquele idiota não merece as suas lágrimas..

DesilusãoOnde histórias criam vida. Descubra agora