—– Está na última gaveta do armário.Estremeci ao ouvir uma voz grave atrás de mim. Virei o rosto e deparei com o olhar de decepção de Peter.
—– Peter?
—– Infelizmente não consegui chegar a tempo, por causa do trânsito e perdi o horário da entrevista — Ele explicou um pouco inconformado.
—– Eu sinto muito por isso — Fiquei parada olhando para ele.
—– Relaxa, acontece — Ele resmungou afrouxando a gravata ainda com os olhos fixos em mim.
Eu mal conseguia respirar. Meu coração estava tão acelerado que parecia que ia enfartar a qualquer momento.
Ele me olhava como se eu fosse uma dissimulada que faz qualquer coisa por uma dose de bebida.
A cada dia eu me transformo nessa pessoa.
—– Deixa que eu pego pra você — Ele se adiantou visto que eu não tinha reação nenhuma.
Eu estava completamente paralisada.
Ele passou por mim, pegou a chave da gaveta, em seguida estendeu na minha direção me desafiando com o olhar. Dava pra ver a sua indignação, e ele estava tentando me mostrar o quanto aquilo que eu fiz foi errado e perigoso.
Mas a sede que eu estava não me permitia ver isso.
—– Toma, abra você, aposto que também gosta da sensação de controle, não é mesmo? — Ele me desafiou.
E eu comecei a ficar aflita, lutando contra o meu vício e a minha conduta deplorável.
Nunca encarei o vício dessa forma, alguém na minha frente me dando o poder de renuncia e de controle ao mesmo tempo.
Fiquei indecisa.
Ele sabia o quanto eu queria agarrar aquela chave, mas também sabia que eu não faria isso com ele me olhando, porque não tenho coragem.
Então decidi apelar.
—– Peter, eu só queria beber um pouco, você não estava aqui, então eu...
—– Resolveu arriscar a própria vida descendo as escadas — Ele me interrompeu com um olhar sério, colocando a chave no balcão bem visível aos meus olhos.
—– Ok, isso foi meio inconsequente da minha parte
—– Meio não, bastante inconsequente, eu diria — Corrigiu ele.
—– Eu só... — Respirei fundo e olhei pra ele com olhar de vítima — Gosto de beber, como a maioria das pessoas.
—– Ana, pessoas que gostam de beber moderadamente não arriscam suas vidas em prol disso, ao menos que a bebida seja uma prioridade em suas vidas, como está sendo pra você.
—– É uma necessidade, eu preciso beber — Choraminguei, sentindo as lágrimas nos olhos — Você não entenderia.
—– Se você me explicar, talvez eu entenda.
—– Eu não posso — Suspirei aflita, porque pensar já é doloroso, contar então.
—– Ana, eu sei que a vontade que está tendo agora, está te consumindo, é que você quer muito se satisfazer nem que seja só com um golinho de nada, mas não pode reparar os danos que causaram em você, bebendo, isso é suicídio — Ele falou amargamente.
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Desilusão
RomanceApós passar por uma desilusão amorosa, Ana não vê outra alternativa a não ser se embriagar como uma forma de amenizar a sua dor, mas vai perceber que o seu sofrimento está bem longe de acabar.