Capítulo 37

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A bebida, por mais tentadora que pareça, não é a solução dos seus problemas, porém a sensação que ela te causa é viciante.

E eu tinha perdido totalmente o controle.

Um dia, eu estava fazendo compras rotineiras com a minha mãe no supermercado quando passei pelo setor de bebidas e senti vontade de beber quase que incontrolável.

Até senti a necessidade de levar uma daquelas garrafas pra casa, portanto se eu a colocasse no carrinho, minha mãe logo iria perceber.

Passei direto por uma garrafa específica, tentando resistir ao máximo à tentação.

Chegava a ser excitante, imaginar aquele líquido escorrendo pra dentro da minha boca e segundos depois a leveza dominar a minha mente, a paz.

Por impulso, eu agarrei a garrafa e pensei numa forma de tirá-la dali sem que ninguém percebesse.

Coloquei ela por baixo da blusa moletom que eu estava usando, mas ao passar despercebida pelo caixa o sensor apitou e o meu plano foi pro saco.

Então percebi que eu ainda estava segurando ela na mão pensando nessa possibilidade, mas estremeci assim que o segurança veio na minha direção.

—– Eu só estou lendo o rótulo — Sorri nervosa assim que ele se aproximou


Ele assentiu e passou por mim,  fechei os olhos, pensando no tamanho da burrada que eu estava prestes a fazer.

Coloquei a garrafa de volta no lugar e segui para onde minha mãe estava e sorri despreocupada pra ela, sentindo o  meu coração palpitar.

...

Passei o dia inteiro em casa, perdida em pensamentos, questionando o real sentido da vida, quando senti novamente a dor das lembranças me atormentar.

E outra vez senti o aperto no peito, a falta de ar e o tremor nas mãos.


Senti a ansiedade sucumbir o meu corpo.

Levantei da cama e procurei pela casa toda, qualquer tipo de distração, mas não encontrei nada, e comecei a ter um ataque de pânico.

Então deitei no chão e fiquei em posição fetal até esse sentimento ruim passar, mas a inquietação era tanta que o meu corpo ficava agitado e muitas vezes eu chorava e me debatia tampando os ouvidos para não escutar os meus próprios pensamentos.

Até que um deles me levou para o lugar onde a minha mãe guardava as suas economias, e o sentimento proibido voltou a me perturbar.

"Pega, ela nem vai perceber"

"Você fala que pegou pra comprar salgados. "

"Um gole, e você fica em paz"

—– Aaaaah! preciso sair daqui.

Me levantei do chão e corri para fora, afim de fugir daquelas vozes absurdas que se intensificavam na minha cabeça.

Sentei na calçada ofegante.

Mas sou tomada pela lembrança dele, me olhando de longe, e me chamando para um passeio ao ar livre. Fechei os olhos e vi claramente o seu sorriso e seu olhar me fitando.

—– Keith, sai já daí, o sol está estragando a sua pele —  Ele puxou de leve o meu braço, mas eu recuei.

—– Me solta.

Eu o encarei, furiosa.

—– Muitas coisas estão estragando a minha pele agora, e não o sol — Soltei amargamente.

DesilusãoOnde histórias criam vida. Descubra agora