Pedi para ela me deixar em uma rua próxima da minha casa porque eu não queria que a minha mãe descobrisse que cheguei de carona, ela provavelmente me encheria de perguntas.
E tudo que eu mais quero agora é descansar minha mente, pois eu tive um dia bem cheio.
—– Obrigado pela carona — Agradeci, enquanto me livrava do cinto
—– Mas só tem mato aqui — Ela disse olhando pela a janela e depois pra mim, um tanto confusa.
—– Não se preocupe, minha casa fica logo ali.
—– Então eu te levo lá — Ela ligou novamente o carro
—– Não, não precisa, já ajudou bastante me trazendo até aqui.
Fiz menção de sair do carro, mas ela interviu passando o braço por mim e fechando a porta.
Isso me assustou um pouco.
—– Fala o que tá rolando — Ela fixou os olhos fixos em mim.
—– Não tá rolando nada, me deixa sair, por favor.
—– Fala de uma vez.
Como sei que ela não vai me deixar sair, decidi contar a verdade pra ela.
—– Bom, o que tá rolando é que a minha mãe não está acostumada com esse tipo de coisa, sabe — Falei cabisbaixa, entrelaçando os dedos
—– Que tipo de coisa?
—– Amizades, ela não se importa que eu faça amigos na escola, só não quer que os traga pra casa, é difícil explicar.
Liza sorri incrédula.
—– Que louca, então significa que amanhã não posso passar aqui pra te pegar?
—– Certamente não.
—– Tá — Ela abriu a porta — Sai do meu carro
Olhei pra ela, mas como ela não olhava pra mim, suspirei fundo e desci do carro.
Depois disso ela ligou o carro e acelerou sem nem olhar pra trás.
Pela primeira vez, eu senti medo de ter magoado alguém.
Culpa da minha mãe e suas paranóias.
Entrei em casa silenciosamente pra não chamar atenção dela, porque depois desse dia, eu só quero pôr minha cabeça no travesseiro e talvez chorar.
Chorar por esse dia não ter sido como eu esperava, chorar porque todos os dias eu vou ver aquele gordinho assediador, eu ainda não superei a apalpada dele no ônibus, chorar por ter feito uma amiga e perdido no mesmo dia. Chorar por tudo.
Mas tive que deixar o choro de lado, porque lá estava ela, a minha mãe, justamente onde eu não queria que ela estivesse.
Na sala.
—– Ah, mãe, você está aí — Falei um pouco sem graça, jogando a mochila no sofá.
—– Oi filha, chegou tarde, veio de carona?
Ela estava com aquela cara, cara de quem já sabia e só perguntou pra ver se eu contaria a verdade.
Minha mãe tem dessas.
—– Sim.
Seu semblante mudou, achou que mesmo ela sabendo, ainda sim esperava outra resposta.
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Desilusão
RomanceApós passar por uma desilusão amorosa, Ana não vê outra alternativa a não ser se embriagar como uma forma de amenizar a sua dor, mas vai perceber que o seu sofrimento está bem longe de acabar.