Sob O Morro

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BIRO: 🤑

Minha cabeça latejava, um misto de ressaca e efeito da cocaína, Levantei com o corpo pesado, sentindo o gosto amargo da bebida ainda na boca, Passei a mão no rosto e senti uns arranhões, Se eu transei com alguém ontem, nem lembro.

O banho gelado ajudou a me despertar, mas não limpava a merda que eu sabia que fiz. Vesti uma box e uma bermuda preta, pronto pra enrolar até a hora do trampo.

Biro: Bom dia, Maya. - Dei um beijo no topo da cabeça dela.

Mayara: Bom dia, irmão. Que cara é essa? Levou uma surra de onça? - Ela riu, me analisando com desdém.

Biro: Se eu te contar que nem sei o que rolou, cê acredita? - Joguei o corpo no sofá.

Mayara: Aham, sei. Traiu a Ariana de novo. - Ela revirou os olhos.

Biro: Não trai, pô... quer dizer, não lembro. - Ela tacou uma almofada na minha cara.

Mayara: Cê é ridículo, sabia? Eu não gosto dela, mas trair é escroto, Biro.

Biro: Tá bom, mãe. - Deitei no colo dela.

Mayara: Só espero que PH não vire um otário igual você.

Biro: Se ele fizer merda com você, eu mato ele.

Mayara: Tá achando que eu preciso de você pra resolver minha vida? - Ela riu.

Eu ia responder, mas a porta foi arrombada de um jeito que eu quase puxei a arma. Ariana entrou como um furacão, o rosto vermelho de ódio.

Anabele: Onde você tava ontem, Caio? Seu lixo!

Biro: Aqui não é tua casa, não chega gritando.

Anabele: Você me deixou sozinha, de novo! Certeza que tava com alguma vagabunda!

Levantei devagar, sem paciência.

Biro: Quer gritar na minha casa? Abaixa o tom, vadia.

Anabele: Se eu sonhar que você tá com outra, Caio... eu te mato. - Ela enfiou o dedo na minha cara, o olhar puro ódio.

Minha paciência se esgotou, Peguei o braço dela e puxei pra perto, deixando nossos rostos a centímetros de distância.

Biro: Cê tá achando que é quem? Aqui é sujeito homem, porra.

Ariana sorriu de lado, sem medo.

Anabele: Eu sou a única pessoa nesse mundo que não tem medo de você, Caio. Isso que te irrita, né?

Ela riu e saiu batendo a porta.

Joguei o corpo no sofá, respirando fundo. Mayara me passou um copo d'água.

Mayara: Vocês pesam essa casa, pelo amor de Deus.

Nem rendi, Olhei o relógio, Ainda não era meio-dia, mas foda-se, vou pra boca mesmo assim.

Peguei a chave da moto e fui, Quando cheguei, PH já tava lá, me olhando com cara de quem sabia que merda tinha rolado.

PH: Cê esqueceu que tem trabalho?

Biro: Esqueci nada, só tirei uma folga.

PH: E Aninha?

Biro: Veio gritar na minha casa, botar o dedo na minha cara.

PH: Cê meteu bala nela? - Ele riu, de zoeira.

Biro: Pior que não.

PH: E aquela mina? Aquela certinha... como é o nome? Érica?

Lembrei do que falei pra ela ontem, da forma como olhei pra ela, da merda que quase fiz.

Biro: Eu fui na casa dela ontem.

PH arqueou a sobrancelha.

PH: E?

Biro: Nada. - Dei um trago no cigarro. Mas o jeito que ela me olhou... sei lá.

PH: Cê quer ela ou só tá de brincadeira?

Biro: Não sei, Mas ela me tira do eixo.

PH bateu no meu ombro.

PH: Só não vai fazer merda, Biro, Porque essa mina aí não é do nosso mundo.

Ele tava certo, Mas o problema é que, quanto mais eu sabia disso, mais eu queria bagunçar o mundo dela.

PH: Papo reto, com certeza não rolou mesmo, já viu a cara de Irmã Dulce que ela tem? Deve ser até virgem. - Ele me fez rir.

Biro: Nem lembro que porra eu disse pra ela. - Menti, eu lembrava. - Depois da casa dela, eu não lembro de ter ido pra casa de outra, tá ligado? Então, realmente não sei o que rolou.

PH: Pô, assim... Esse papo de Ariana é feião, Mas você também tá no erro, Disciplina parceiro, Tá agindo que nem comédia? Me diga aí, Se fosse eu traindo a Maya? Cê já teria me pipocado. - Peguei a arma mirando na testa dele.

Biro: Que porra é essa PH? Eu vou meter bala na tua cara seu arrombado. - Levantei. - Tá me tirando? - Ele nem tremeu.

PH: Aí! Olha como cê fica, Ninguém merece traição não Caio, Nunca vou apoiar, Vamos começar a ter disciplina nessa porra, Tu é o dono disso! Ou tu age conforme as normas, Ou termina. - Joguei a pistola na mesa.

Biro: Nunca mais fala uma porra dessa PH, Nunca mais. - Sentei passando a mão no cabelo.

PH: Eu tenho palavra Biro, Sou sujeito homem, Nunca faria isso, Mas não foge da responsa não pô. - Assenti.

Biro: Jae, vou resolver essa fita aí, Fica sussa, Agora vamos arrumar esses Baile. - Ele sorriu e veio fazer toque comigo.

PH: Isso aí minha puta, Responsabilidade, Cê sabe que te amo né arrombado? Pra sempre irmão, Pra sempre. - Me puxou pra um abraço.

Biro: Que viadagem PH. - Ele riu. - Mas tá no coração Irmão, Te amo também.

PH sempre esteve comigo, crescemos juntos em tudo, Estudamos desde creche tá ligado? Daí só pra frente.

Meus pais morreram aqui na favela, os dois envolvidos, O dono daqui me adorou como filho, e aprendi e cresci com ele, Depois ele passou a favela pra mim.

PH aceitou ser meu braço direito, mas ele disse que só quer isso mermo e só aceitou porque era eu, Não ia me deixar sozinho nessa parada, Ele sempre fecha comigo pra tudo.

Se eu puder da minha vida pela dele, Eu dou, sem pensar duas vezes, Ele e Mayara são minhas maiores prioridades nessa favela e nesse mundo.