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HELLENA: 🌼

A noite parecia mais fria do que o habitual, ou talvez fosse apenas a sensação vazia que se espalhava por meu peito enquanto a moto avançava pelas ruas silenciosas.

A conversa com Pereira ecoava na minha mente, cada palavra, cada olhar cuidadoso, como se ele tentasse me proteger até de mim mesma, Quando paramos diante da minha casa, ele desceu primeiro da moto, me ajudando a descer como um gesto fofo.

Pereira: Aí Estranha, amanhã cedo, você pode ir para a minha casa, se quiser — disse ele, a voz baixa, quase um sussurro. — Estarei esperando.

Assenti, incapaz de responder com palavras, Os dedos dele seguraram os meus por um segundo a mais, quentes e seguros, Então, ele soltou, dando um passo atrás, Quando a moto partiu, fiquei observando até que as luzes se perdessem na escuridão.

Entrei em casa, encontrando o silêncio habitual, a sensação familiar de solidão que preenchia os cômodos vazios.

Suspirei, retirando o casaco e pendurando com um movimento automático, Na penumbra, os espelhos refletiam apenas uma versão cansada de mim mesma, os olhos um pouco mais sombrios.

Me deixei cair na cama, encarando o teto, os pensamentos se embolando com uma rapidez desconfortável, As palavras de Pereira se repetiam, junto com o olhar preocupado que ele tentava esconder, Havia algo a mais naquela oferta, um cuidado que eu não estava acostumada a receber.

Fechei os olhos, buscando acalmar o coração acelerado, Talvez fosse apenas a exaustão do dia, talvez fosse a incerteza do amanhã, Mas, por um momento, permiti-me acreditar que, naquela manhã seguinte, as coisas poderiam ser diferentes.

Me encolhi sob as cobertas, abraçando a promessa silenciosa que ele deixou, Amanhã cedo, eu iria até a casa de Pereira, E, por agora, isso era suficiente.

[...]

Domingo | 06:30

A manhã chegou lenta, os primeiros raios de sol atravessando a cortina com uma delicadeza quase hesitante.

Levantei antes mesmo da Érica acordar, A água fria no rosto ajudou a espantar a sonolência, mas fez pouco para acalmar o nó ansioso no estômago.

Me troquei com pressa, os dedos um pouco trêmulos enquanto ajustava a roupa, Era estranho como a simples ideia de vê-lo de novo deixava minha respiração entrecortada, como se meu corpo inteiro estivesse dividido entre a pressa e o receio.

Caminhei até a casa dele, o caminho parecia mais longo do que de costume, As ruas estavam quase desertas, o silêncio quebrado apenas pelos pássaros e pelo ranger suave dos meus passos contra o chão, Parei diante da porta por um instante, tentando regular a respiração antes de bater.

Ele abriu quase de imediato, como se já esperasse, Pereira parecia cansado, as olheiras denunciando a falta de sono, mas ainda assim, sorriu de um jeito suave, afastando-se para que eu entrasse.

Pereira: Bom dia, Estranha, Achei que ia desistir — comentou ele, a voz baixa, quase divertida.

Hellena: Bom dia, Eu também — admiti, tentando esconder o sorriso.

A casa estava aquecida, o aroma suave de café preenchendo o ar, Sentei na sala enquanto ele trazia duas xícaras, suas mãos habilidosas lidando com os gestos cotidianos com uma naturalidade que me fez sentir estranhamente à vontade.

Hellena: Como foi o baile? — perguntei, tentando manter a conversa leve.

Pereira: Cansativo — ele respondeu, dando de ombros. — Papo reto, ficar contigo seria melhor.

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