Capítulo 22

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{Alya}

— Então quer dizer que existe uma profecia que pode ser para qualquer um de nós dois? E que graças a ela, um de nós será responsável pela destruição do mundo?! 

Perguntei, ainda abraçada ao braço de meu irmão. Drystan bufou um curto riso e me encarou, enquanto cruzavamos uma das ruas, ambos com um doce de trufado estelar em mãos. 

— Ou fazê-lo renascer. 

Revirei meus olhos, suspirando baixo. 

— Nós dois sabemos que o dom da nossa família é destruir. Explodir e destruir tudo ao nosso redor. 

Drystan fez um som de concordância com a garganta e eu inspirei. Ele sorriu levemente, observando um quadro que parecia um bosque da Corte Outunal. 

— Parece com o local que conheci Laenia… 

Franzi o cenho. 

— Achei que nunca tivesse saído da Corte. 

Meu irmão deu de ombros. 

— Não sai… mas fui em um vilarejo próximo a fronteira uma vez e conheci Laenia. - O encarei com curiosidade e ele suspirou, mordendo um pedaço de seu doce. - Laenia se meteu em uma confusão na fronteira. Foi a terceira da equipe que eu conheci, eu tinha 14 anos. Conheci ela alguns dias antes de Temrys. Eu e Ganthir estávamos viajando em uma espécie de treino, quando vimos uma confusão enorme na fronteira. Ela havia sido pêga com algo errado e Ganthir decidiu ajuda-la. Depois de algumas conversas, a deixaram passar. Em agradecimento, ela nos ofereceu estadia na casa dela. Ela se apresentou como Rose, mas depois de dois dias Ganthir a reconheceu e a chamou pelo nome. Laenia. Eles dois tiveram uma breve discussão, e depois ela confessou quem era. Dois dias depois o vilarejo foi atacado e conheci Temrys.  

Franzi o cenho e sorri brincalhona. 

— Deixe-me adivinhar… Temrys estava com o grupo do ataque?

Drystan deu um curto e seco riso. 

— Antes fosse…- meu irmão suspirou baixo e encarou as estrelas por alguns segundos. Tão brilhantes e belas, perfeitamente combinadas com a cidade. Minha mão se coçou para pintar aquilo. - Ele chegou preso. Havia sido capturado e bem… tem um rubi de sangue com o nome dele. E não só isso… Temrys é um assassino cruel, ele gosta de torturar suas vítimas. Eram mercenários que buscavam vingança... Eu não teria me metido, se o vilarejo não tivesse sido atacado. Por ele ser perto da fronteira, é meio esquecido, a população estava em perigo e eu não era forte pra lutar, os soldados ali tentaram… mas era um grupo de ladrões grande com enormes bestas selvagens. - Meu irmão deu de ombros levemente. - Algumas pessoas também desejam se vingar de nosso pai, Kalina é um exemplo dessas pessoas. - Concordei com a cabeça. Eu havia atualizado meu irmão sobre o que descobrimos. - Esses mercenários eram um desses. Ouvi eles falando mal sobre nosso pai. No ataque, eles se esconderam… mataram uma senhora que estava na hospedaria e uma criança que não parava de chorar. Ganthir tinha saido pra tentar ajudar com Laenia… mas tinha tanta gente… eram muitos para apenas eles dois. E eu sabia quem Temrys era… troquei minha vida pela dele. Falei que era filho do grão senhor, falei que queria trocar minha vida pela dele… E o que seria melhor que me torturar e em troca conseguir moedas de ouro do grão senhor? Riquezas incomparáveis. Eles aceitaram… mas só soltariam Temrys das algemas de freixo se eu cortasse meus pulsos. Eles queriam que eu estivesse morto. O que queriam entregar ao nosso pai era meu corpo. E eu fiz isso… cortei ambos os braços e encarei Temrys com apenas um pedido nos olhos. Um que ele entendeu muito bem… Proteger o meu povo. Ele saiu de lá e os mercenários falaram rindo que iam pegar o corpo dele, por conta do ataque. Mas eles não sabiam que Ganthir também estava lá… nem Laenia. Eu tinha 14 anos e estava deitado sob meu próprio sangue… sinceramente, achei que iria morrer… Mas então Ganthir entrou naquela pousada com tanta fúria nos olhos que parecia a própria morte em fogo. Entendi ali porque as pessoas tinham tanto medo dele. Eu pedi pra ele sair e lutar lá fora… Não sei o que aconteceu depois, mas sei que ele me salvou. - Ele sorriu levemente. - Sei que acordei com os braços enfaixados na casa dele, já no Sul. Ganthir nunca deixava ninguém entrar no quarto dele, mas eu acordei lá. Acordei com Laenia refazendo meus curativos. Temrys estava lá também. Ele disse que em todos os seus séculos, nenhum herdeiro nunca se sacrificou pela minoria. E disse que tinha uma dívida comigo. - Meu irmão deu de ombros novamente. - Falei que sua dívida estaria paga se ele me ajudasse a transformar o mundo em um lugar melhor. Eu ainda estava meio grogue… mas tenho certeza de que ele se ajoelhou e fez um juramento de sangue ali. E foi então que eu percebi… percebi que alguém deveria lutar pelo nosso povo. Não pela Corte, mas pelo povo. Então nunca deixei as marcas cicatrizarem totalmente. Elas são meu eterno lembrete de que eu tenho algo por quem lutar.

A Court Of Flowers in the StarsOnde histórias criam vida. Descubra agora