Capítulo 39

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{Nyx}

Uma gargalhada alta soou, antes de um som de porquinho que eu conhecia tão bem ecoar. Eu me virei instantaneamente, a neve ao meu redor parecia fazer minha pele arrepiar. Alya gargalhava, enquanto encarava a péssima tentativa de Drystan de patinar no lago congelado. 

— Pelo visto tem algo que até mesmo o incrível e poderoso Drystan não sabe fazer. 

Ela zombou e Drystan encarou a irmã com irritação.

— De quem foi essa ideia idiota de patinação?! 

O loiro perguntou irritado e Alya gargalhou novamente, o som pareceu ressoar em meu peito, enquanto eu a encarava. 

Estávamos no final do inverno e Catrin e Kalina haviam tido a ideia de um picnic após reconstrução de Velaris. Como uma despedida antes de irmos em missões pela Corte, caçando os intrusos sobreviventes. 

Alya se virou, com um sorriso radiante nos lábios e jogou os braços ao redor de meu pescoço. Foi ali que eu soube que estava sonhando. Porque Alya estava ali, na minha frente, sorrindo e me abraçando. Eu sentia seu perfume e sua pele, mas nosso laço permanecia silencioso. Talvez, apenas talvez, eu pudesse ser egoísta. Pela primeira vez, não quis acordar. Quis ficar naquele sonho eternamente. Naquela lembrança de um dia que parecia ter acontecido séculos atrás, mesmo que tenha sido há apenas poucos meses. 

A claridade fez meus olhos doerem um pouco, mas o que me recebeu, foi o vazio. Um completo vazio. Eu tinha certeza de que estava ouvindo o som da batalha lá fora, mas era tão distante… 

Depois que os escudos caíram, meu pai imediatamente mandou minha mãe me trazer para uma tenda e desapareceu no campo de batalha ao longe. Todos estavam lá, meus irmãos, a equipe do Drystan, meu pai, meus tios… todos estavam lutando. Tamlin rugira em plenos pulmões quando soube que Alya se foi… Ele dilacerou um batalhão inteiro, sozinho. A besta da Primaveril. 

Todos estavam fazendo algo, contribuindo em algo para vingar Alya. Menos eu… Eu estava em uma tenda, tentando voltar a respirar, tentando reaprender a viver sem aquele ecoar ao meu redor. 

Minha mãe se aproximou, me oferecendo um copo de água. 

— Beba um pouco… conseguiu descansar? 

Não a respondi. Não consegui, na verdade. Eu me levantei, ignorando a tontura que me atingiu e comecei a afivelar as armas no meu cinto.

— Em que panteão meu pai está? 

Minha voz soou distante, como se eu não estivesse em meu corpo para ouvi -la. Minha mãe engoliu em seco. 

— Seria melhor você ficar aqui, Nyx… 

Eu continuei me arrumando, silenciosamente. 

Não venha para o campo de batalha. - A voz do meu pai soou em minha mente. - Você não está mentalmente bem para lutar e isso pode acabar te deixando descuidado. É uma ordem, Nyx. 

Eu encarei minha mãe irritado. 

— Qual o seu problema?! - Basicamente grunhi. Os olhos da minha mãe se arregalaram levemente, surpresos. Eu também me surpreendi. Era a primeira vez que eu falava daquela forma com ela. - Eu já tenho vinte e oito anos. Não sou uma criança que precisa de atenção. Isso é uma guerra, ninguém aqui pode ficar se dando ao luxo de repousar, quando se está apto para lutar! Você é uma grã senhora! Comece a agir como tal, para variar. 

— Nyx Archeron! - Minha mãe falou alto, os olhos estreitos em raiva. Eu sabia que estava indo longe demais. Minha mãe era uma grã senhora excelente… mas eu simplesmente não conseguia me importar. Ela olhou meus olhos, e por alguma razão, seu olhar suavizou. - Ir para o campo de batalha sem desejo de voltar, com o desejo de morrer devastando tudo e todos a sua volta… isso não vai ajudar sua dor. 

A Court Of Flowers in the StarsOnde histórias criam vida. Descubra agora