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MAYARA: 🍀

O vento soprava forte enquanto eu subia o morro, já conhecendo cada viela, cada atalho que me levava até a boca, O barulho dos moleques jogando bola ecoava pelo beco, as risadas, os gritos de provocação, Mas não era isso que me fazia franzir a testa, Era a sensação estranha no peito, a mesma que me acompanhava nos últimos dias.

PH tava diferente.

Ele tentava disfarçar, agia normal perto dos outros, me tratava bem, puxava assunto, Mas quando ficávamos sozinhos, o silêncio dominava, Ele ficava distante, o olhar preso em um ponto qualquer, a cabeça longe demais, como se estivesse num lugar onde eu não conseguia alcançar, E por mais que eu perguntasse, ele sempre respondia a mesma coisa:

PH: Tô suave, vida, É só trampo.

Mas não era, Eu sabia que não era.

Acelerei o passo quando vi os moleques ainda no campo improvisado, PH não tava mais ali, o que significava que já tinha subido pra boca.

Respirei fundo antes de continuar, sentindo a ansiedade crescer a cada degrau, Não gostava de invadir o espaço dele assim, mas precisava saber o que tava acontecendo.

Cheguei na boca e os olhares se voltaram pra mim, mas ninguém disse nada, Todo mundo ali sabia quem eu era, sabiam que eu era a mina do PH, Passei reto, subindo as escadas que levavam à sala onde ele costumava ficar.

Empurrei a porta sem bater, e lá estava ele, sentado no sofá, um baseado entre os dedos, os olhos presos no nada, Só levantou o olhar quando percebeu minha presença, e naquele instante, eu soube que tinha alguma coisa muito errada.

PH: Que foi? — Ele perguntou, largando o beck no cinzeiro.

Fechei a porta atrás de mim, cruzando os braços.

Mayara: Eu que te pergunto, PH, Cê tá estranho faz dias e não vem com essa de que é o trampo, porque eu te conheço.

Ele passou a mão no rosto, respirando fundo antes de encarar o chão.

PH: Eu tentei, tá ligado? — Ele começou, a voz mais baixa do que o normal. — Tentei não deixar isso me afetar, tentei acreditar que era só fofoca, mas não dá, Mayara.

Minha expressão se fechou na hora.

Mayara: Do que cê tá falando?

Ele riu sem humor, balançando a cabeça antes de levantar, Caminhou até mim, parando tão perto que eu conseguia sentir o cheiro do perfume misturado com a fumaça do beck.

PH: Do baile, daquela merda de baile.

Meu peito apertou.

Mayara: PH...

PH: Eu vi, Mayara! — Ele explodiu, os olhos queimando de raiva e dor ao mesmo tempo. — Vi você com aquele otário do Kikito! Dançando, rindo... todo mundo falando que vocês tavam ficando! E eu? Eu fiquei que nem um trouxa, tentando fingir que era só fofoca!

Neguei com a cabeça, sentindo a indignação subir.

Mayara: Eu nunca fiquei com o Kikito, PH! Eu tava dançando, só isso! E você sabe, eu sempre fui amiga de todo mundo pro ser irmã do Biro.

PH: Só isso? — Ele riu de novo, mas dessa vez foi pior. — Todo mundo viu, todo mundo comentou, e eu fiquei lá, tentando ser diferente, tentando confiar! Mas e agora? Agora eu não consigo mais!

Senti os olhos encherem de lágrimas, mas segurei firme.

Mayara: Cê tá terminando comigo por uma fofoca?

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