45- O adeus definitivo

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"Eu não sou tão triste assim, é que hoje eu estou cansada" - Clarice Lispector

Ayla Windsor:

Após um dia inteiro tentando concentrar os impactos causados pela Batalha da Campina — como assim ficou o combate entre Martin e Midlenton — o corpo de Alec foi colocado em um caixão de vidro, banhado em substâncias extraídas de plantas para conservar o corpo até chegar em Midlenton. O corpo seria levado pelo restante dos soldados da Companhia Negra, que também ficariam encarregados de entregar o testamento escrito por Alec.

Neste meio tempo, com a transferência do poder de Alec para Charlotte, ela também iria retornar para casa com o objetivo de estabelecer o reino em seu lugar. Tendo isso em vista, a jovem também estava preparando-se para partir junto ao corpo desprovido de vida do sobrinho.

— Pela terceira vez desde que nos conhecemos, estamos nos despedindo! — disse Charlotte, falando à amiga.

Ayla estava concentrada em encarar uma última vez o rosto de Alec — mesmo que morto — antes que seu corpo fosse trancado definitivamente na cripta de Midlenton. Sabendo disso, ela decidiu que iria tentar guardar o máximo que pudesse dele, sua voz, o dourado dos cabelos, até mesmo o brilho dos olhos. Cada característica que ela conseguisse, ela guardaria dele.

Ela nunca pensou que um dia iria arrepender-se tanto de não ter vivido. Talvez se ela tivesse desfrutado mais da companhia dele, talvez se tivesse falado mais ao invés de gritar mais, ou mesmo se tivesse acostumado-se com o jeito obcecado dele, ele pudesse estar vivo, ou melhor, ela não o teria matado.

O arrependimento dói, pois ele queima como brasa, queima até mesmo a rainha do gelo — pensou ela.

— Você vai ficar bem? — perguntou Charlotte, insistindo em falar com a amiga.

— Vou!

Ayla a escutava, mas não queria respondê-la, porém, ela sabia que o momento havia chegado. Ela olhou uma última vez para o cadáver em seu caixão, e um última vez, ela tocou a ponta dos dedos sobre seu rosto, despedindo-se do corpo do falecido marido. Com um gesto, ela indicou para os soldados selarem o caixão com a tampa de madeira, fazendo com que a visão do corpo sumisse aos poucos até finalmente desaparecer.

Quando finalmente encarou o rosto de Charlotte, notou a roupa de montaria que ela vestia. O cabelo loiro estava preso em uma trança de lado apertada que estava jogada sobre o ombro direito.

— Os soldados irão levar em segurança o corpo dele até Midlenton! — explicou Charlotte — Catherine irá recebê-lo lá!

— E você, não irá retornar para casa? — perguntou Ayla.

— Primeiro irei à Chamaviva, recebi informações de que Khaos está sobrevoando as antigas crateras dos vulcões! — disse Charlotte.

O dragão havia sumido há meses, e desde então Ayla não havia recebido nenhuma informação a respeito do caso, por isso, apenas aceitou os fatos que a amiga lhe dizia.

— E você, o que fará? — Charlotte perguntou.

— Irei para a Corte da Lua, minha carruagem está me esperando! — ela explicou — O frio me fará bem!

Charlotte a encarou, notando claramente a diferença no comportamento da amiga. Ayla não chorou mais, pelo menos, não que ninguém tenha visto. Na verdade, ela aparentava estar lidando muito bem com a situação.

Sabendo o que a esperava ao chegar na corte da lua. Ayla vestiu um longo vestido branco com o corpete mais estruturado que era preenchido por figuras de arabescos de strass na cor azulada que desciam até a altura de suas costas, seguindo por uma saia mais aberta. Uma longa faixa de tecidos cobria toda a extensão dos seus ombros até a barra do vestido, partindo a princípio dos ombros, como se fosse uma longa capa branca.

Um príncipe para lady Ayla (Livro II) {CONCLUÍDA}Onde histórias criam vida. Descubra agora