"Estas alegrias violentas têm fins violentos, padecendo no triunfo, como fogo e pólvora que num beijo se consomem" - Shakespeare
Ayla Windsor:
Naquela manhã, não apenas Ayla como Alec também estavam imersos em uma nuvem de pressão e medo exercida pela corte pela população. Após a morte do rei, o povo queria que o próximo rei subisse ao trono — e consequentemente, uma rainha também — seus dias de resquícios de paz estavam por um fim.
Ayla sempre soube que um dia subiria ao trono, mas em sua mente esse dia ainda iria demorar, uma vez que ela imaginava que só o teria que fazer após a morte de seus pais — que ela esperava mais do que tudo que demorasse anos e mais anos para isso acontecer — mas agora, havia apenas dias entre eles.
O som de espadas se chocando uma na outra acordou a futura rainha de seus devaneios, e então ela recordou do local onde estava. Ela se encontrava em uma sala de treinos cujas paredes eram preenchidas por lâminas e mais lâminas afins, enquanto isso, sua amiga de Martin encontrava-se no centro da sala em meio a um treino com um homem alto e musculoso, seu novo instrutor.
— Olhos nos pés, garota! — alertou o homem.
Naquele momento, Maysie teve sua espada arrancada de suas mãos e os pés foram sorrateiramente atacados, fazendo com que a mesma se desequilibrasse e caísse.
Havia exatos dois dias que Ayla contratou um cavaleiro para treinar sua melhor amiga, que por sua vez nunca escondeu sua vontade de entrar para Guarda da Rainha de Martin, porém, esse era um privilégio que ainda era negado à população feminina. Porém, agora que Ayla seria uma das rainhas da história, ela pretendia mudar alguma dessas normas.
— Por hoje basta! — disse o homem, largando a espada — Majestade!
O soldado fez uma reverência para Ayla, guardou sua espada na bainha e caminhou em direção à porta. Maysie por sua vez apenas suspirou cansada, caminhando até uma jarra d'água que ali estava.
— Tem certeza que me transformar em uma "guarda" não vai lhe causar problemas? — perguntou Maysie, antes de levar a taça com água aos lábios.
— Eu sou a rainha, não sou? Se Catherine pode fazer o que quiser, acredito que eu também! — Ayla falou sorrindo.
Nos últimos dias ela não viu Catherine, aparentemente ela estava concentrada demais em algo, demais até mesmo para se preocupar em importunar Ayla. De certo modo, era compreensível, já que a situação local não estava das melhores.
Havia rumores correndo pelos corredores do palácio que uma doença estava se espalhando pelo reino inteiro, uma doença de origem desconhecida e que estava assolando os marinheiros que traziam cargas de outras regiões para Midlenton.
Grande parte dos marinheiros que a adquiriram morreram em situações horrorosas. Dores fortes atingem suas cabeças, uma febre muito alta que causa calafrios por sua epiderme, vômitos, sem contar as manchas negras horrorosas que passaram a se espalhar por toda região de seus corpos fracos, além de enormes bolhas e lacunas que surgiam em partes do corpo. Quase nenhum deles sobreviveu, e os que sobreviveram estavam praticamente morrendo de fome e sede, já que todos se encontravam com medo de entrar em contato com os corpos.
Os lordes do pequeno Conselho disseram a Alec para não deixar o rumor se espalhar nem causar pânico generalizado e desnecessário entre a população. Porém, a julgar pelo estado de estresse em que Alec ia dormir, a situação não estava sendo contornada.
— Teve alguma notícia sobre os marinheiros? — Ayla perguntou a sua amiga, que nos últimos dias andava se informando pelo reino.
— Apenas o de sempre, os casos estão se espalhando em um nível alarmante, alguns vilarejos próximos aos navios dos homens já foram atingidos, está ficando difícil para o futuro rei manter em silêncio as informações! — explicou Maysie
— Eu sei, mas...
Ayla não conseguiu prosseguir com sua fala, já que a porta da sala foi irrompida de maneira brusca. Parada diante da porta, Charlotte estava com uma expressão nervosa e preocupada ao mesmo tempo, seus cabelos que costumam estar sempre alinhados em uma penteado semipreso estavam desgrenhados pela provável corrida, sua respiração pesada e ofegante. Ela parecia que iria desmaiar a qualquer momento.
— Foi uma cilada! — disse ela, ofegante, tentando ordenar suas frases em algo compreensível — Armaram uma cilada para mim, Catherine armou!
Ela correu até a jarra de água, e tomou um gole em um taça enquanto tentava recuperar o fôlego. Suas mãos tremiam, não se sabia se pela corrida ou pela adrenalina que a raiva causava em seu sangue.
— O que ela fez? — Ayla perguntou.
— Uma criança, filha de um nobre, foi encontrada morta, apenas seus ossos estavam inteiros, ela foi carbonizada e querem culpar Khaos pelo ocorrido! — ela explicou, pela primeira vez citado o nome que ela batizou o dragão que descansa sobre a montanha — Ayla, eu sei que parece muito que foi ele, mas acredite, há vinte anos que ele abriu suas asas sobre o céus novamente, vinte anos que o mundo viu um dragão novamente, e isso nunca aconteceu. Isso foi planejado, e só existe uma pessoa que mataria uma criança inocente para conseguir o que quer!
O silêncio causado pelas palavras de Charlotte causava um barulho intenso na mente de Ayla, que tentava digerir o que ocorria. Uma criança filha de um nobre foi morta carbonizada, no momento estavam acusado a criatura cuspidora de fogo protegida por Charlotte, e é claro que não demoraria para as acusações começarem, assim como não demoraria até quererem virar a situação contra ela.
— Ayla, você é a futura rainha de Midlenton! — disse Charlotte — Se existe alguém que pode me salvar, é você!
Aquelas palavras ecoaram na cabeça de Ayla. Ela sabia que uma coroa pesava muito na cabeça daqueles que a carregavam, mas o quão grande é esse peso?
{...}
A porta do gabinete do rei estava entreaberta, foi necessário apenas um leve empurrar com as pontas dos dedos brancos de Ayla para que ela se abrisse. Mesmo da entrada, ela avistou a expressão cansada no rosto do homem tão jovem que ocupava o assento na cadeira principal. Sua testa estava franzida, sua mão tocando a lateral do rosto com o dedo indicador apoiado na têmpora.
— Atrapalho? — perguntou ela, chamando a atenção dele para ela — Preciso falar algo!
— Estou ocupado, mas para você posso abrir uma exceção! — disse ele, erguendo o rosto para encará-la — Diga-me, o que a traz até aqui!
Ela sorriu de lado, aproximando-se até parar diante da mesa dele, apoiando a palma das mãos na madeira da mobília.
— Acredito que já sabe sobre o triste ocorrido com a garotinha! — disse ela, assistindo a expressão do homem murchar automaticamente — Alec, espero que faça uma análise antes de ...
— Não há análises a se fazer, majestade! — uma terceira voz chegou ao local, ganhando a atenção dos dois monarcas do palácio.
Lorde Robert entrou na sala, atrás dele estava um soldado que carregava um grande saco feito de retalhos de tecido preto. A postura ereta, assim como o olhar decidido denunciavam que o que viria a seguir não poderia ser algo bom para Ayla.
— Alteza, dentro desse saco estão os ossos carbonizados de uma criança de míseros sete anos. A menina sumiu durante o dia e provavelmente perdeu-se na região, infelizmente acabou entrando na área onde aquela coisa está! — o homem explicou.
Com um gesto feito com a mão, o homem ordenou que o soldado a suas costas depositasse os ossos no chão, e em um movimento, foi o que ele fez. Os ossos caíram no chão em um baque surdo, trazendo ao ar não apenas o cheiro horrível de carne humana queimada que ainda restava nos restos mortais da menina, como também um grande choque para todos que observavam a cena.
Em um movimento natural, Ayla levou a mão aos lábios, tentando repreender a ânsia de vômito que subia por sua garganta. Seus olhos encheram de água ao pensar na reação da mãe daquela pobre criança que perdeu os pais. Sem ela sequer perceber, Alec aproximou-se dela, fechando o braço ao redor das costas da jovem, abraçando-a e tirando seu foco de visão daquela cena horrorosa.
— Está decidido! — disse Alec — O dragão será eliminado com uma flecha de uma besta de lâmina!
Alec decretou, mas enquanto isso, Ayla se perguntava como iria manter seu casamento e proteger sua amiga ao mesmo tempo.
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Um príncipe para lady Ayla (Livro II) {CONCLUÍDA}
RomanceAyla Windsor, filha da rainha Aysha Vitale e do rei Derick Windsor, teve seu destino traçado desde seu nascimento, onde foi decidido que teria que se casar com Alec Whithlook, filho do melhor amigo de sua mãe. Ayla vai descobrir que a coroa de rainh...