22- Palavras vazias

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"Lágrimas não são argumentos" - Machado de Assis

Ayla Windsor:

Após a saída de Robert, só restaram apenas Ayla e Alec na sala novamente, porém, a memória da ossada da jovem menininha de sete anos ainda estava viva em sua mente. Os dois estavam parados um de frente para o outro, apenas encarando-se, porém, a cara de Ayla já declarava sua opinião.

— Alec, não pode fazer isso! — disse ela — Não pode matar um dragão, e com uma besta ainda por cima!

— Não é uma simples besta — disse ele — Ela está guardada há anos, meu avô mandou fazê-la justamente para esse propósito. Ela é maior do que essa sala, suas flechas são feitas de uma mistura perfeita de cobre e prata!

Ayla estava procurando palavras para convencê-lo a mudar de ideia. Alec parecia exausto aos olhos dela, parecia que não dormia há noites, era como se estivesse sendo consumido aos poucos pelo reino.

— Alec já pensou que talvez possa ter uma outra explicativa? — ela sugeriu aproximando-se dele para ficar ao seu lado. — Se você permitir, eu posso cuidar disso !

Ayla acomodou-se ao lado dele, ela de pé e ele sentado em seu assento atrás da mesa do gabinete. Lentamente, Ayla encostou a palma de sua mão no lado direito do rosto de Alec, causando um encontro de temperaturas entre as peles, o quente da mão dela e o frio da pele dele. Seus dedos fizeram uma breve carícia na epiderme pálida do homem diante dela, que por sua vez aproveitou para fechar os olhos apenas aproveitando o momento.

— Eu sei que está cansado, então me deixe tomar conta desse problema para você! — ela falou, enquanto o observava ainda de olhos fechados como se estivesse bem próximo de dormir — Eu sei dos casos alarmantes da doença.

— Na realidade, está virando uma espécie de epidemia! — disse Alec — Um vilarejo inteiro próximo ao porto dos barcos, há pessoas doentes por toda a parte, alguns médicos que foram enviados desprevenidos foram contaminados. Está descontrolado!

A expressão assustada no rosto de Ayla foi impossível de ser contida. Ela não esperava que em seu primeiro ano de reinado seria responsável por lidar com uma doença tão alarmante, e principalmente, estava ficando com medo pela população, pelo número de mortos que teria.

— Por isso mesmo, nós somos rei e rainha agora, temos que aprender a confiar um no outro! — disse ela, ainda na mesma posição.

— Seria tão fácil! — disse ele, com os olhos fechados e uma das mãos segurando a mão de Ayla que continuava em seu rosto.

Seus lábios vez ou outra deixavam beijos na palma da mão dela. Ele parecia travar uma batalha interna consigo mesmo, entre o que queria e o que devia. A mão esquerda de Alec fechou-se no pulso de Ayla, como se temesse que ela fosse embora.

De repente, ele abriu os olhos, como se despertasse de um encanto recém quebrado, e afastou-se do contato dela.

— Ele disse que você faria isso! — sussurrou ele, como se não quisesse que ela ouvisse.

— Quem disse? — perguntou Ayla, o encarando sem entender — Quem falou sobre mim?

Ayla estava analisando aquela sentença proferida por Alec. "Ele disse", a frase referia-se a um pronome masculino, logo, ela descartaria a ideia de Catherine está manipulando o filho contra ela, o que a fez pensar sobre Robert, que parecia estranhamente interessado no governo do primo de segundo grau — principalmente se levar em consideração o fato de ter chegado durante o velório do pai de Alec — porém, toda e qualquer alternativa foi anulada após Ayla recordar de uma pessoa em específico cuja opinião sempre foi de grande valor para Alec.

Um príncipe para lady Ayla (Livro II) {CONCLUÍDA}Onde histórias criam vida. Descubra agora